Histria
Portugal anuncia fechamento da Livraria Camões
Por Sheila Jacob-NPC - 12.01.2012
Estudantes, professores e interessados por literatura portuguesa ficaram chocados, no início de 2012, quando foi anunciado que a Livraria Camões será fechada no final de janeiro deste ano. O local é conhecido como um “pedaço de Portugal” no Brasil, onde leitores encontram mais rápido os principais nomes da produção literária portuguesa, inclusive o que há de mais recente. Em entrevista ao Boletim NPC, José Estrela, gerente da Livraria, lamenta a decisão anunciada em dezembro do ano passado pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, editora estatal portuguesa que mantém a Camões. Como informou, a justificativa dada foi o fato de a livraria ter se tornado “pequena demais”, além de o espaço ter ficado obsoleto porque, segundo o documento, as novas tecnologias estariam substituindo as publicações impressas. “Acho isso uma bobagem, pois gosto de pegar, cheirar, me sentir apalpando um livro de verdade. Adormeço sempre com um livro na mão, acordo com um livro ao meu lado”. Após o fechamento, o português disse que não pensa em voltar para sua terra natal, pois deixaria metade do seu coração no Brasil, já que as filhas, netos e bisnetos são todos brasileiros.
José Estrela é português, nascido na Freguesia de Pardilhó, situada na região de Aveiro, norte de Portugal. Além de ser um leitor apaixonado de ficção, história, filosofia, biografias e outros gêneros, também é poeta. Possui três livros de poesia publicados, e está escrevendo outro. Já faz 50 anos que ele veio para o Brasil e, em março de 1974, dois anos depois de inaugurada a Livraria Camões, foi convidado pelo escritor português Vitorino Nemésio, então presidente da Imprensa Nacional Casa da Moeda, a assumir a gerência do estabelecimento.
Espaço foi importante para divulgação de escritores portugueses no Brasil
Desde que foi criada, a Livraria Camões foi a responsável pelo abastecimento de livros de literatura e cultura portuguesas para professores e alunos de universidades do país inteiro, além de disponibilizar edições que só haviam sido traduzidas em Portugal. O local foi muito importante para a revelação e divulgação de muitos escritores portugueses no país. “Agustina Bessa Luis, Alexandre O’Neill, David Mourão-Ferreira e até angolanos, como o Luandino Vieira, lançaram alguns títulos neste lugar. Inclusive o primeiro livro que José Saramago lançou no Brasil foi aqui”, disse orgulhoso, lembrando que não apenas professores e estudantes de Portugal, mas também médicos, advogados, engenheiros, políticos, todos são frequentadores assíduos da Camões. “O fechamento desta livraria é como se fosse a morte. Não estou sentindo por mim, mas por todos que irão perdê-la. Não defendo meu lugar aqui, defendo este lugar”, disse, emocionado, lembrando que muitos dos estudantes que ajudou a formar hoje retornam à Livraria com seus filhos e netos.
Estrela disse que, desde o anúncio da decisão, tem recebido manifestações de apoio pela permanência deste espaço. “Além do Brasil, em vários outros países tem havido mobilização para que a Livraria continue funcionando, como a França, a Itália, a Espanha e países sul-americanos que compravam conosco”. Segundo ele, um grande número de escritores portugueses assinou um manifesto contrário ao fechamento. Aqui no Brasil também professores de várias universidades têm divulgado mensagens reivindicando que a Imprensa Nacional portuguesa volte atrás da decisão.
Pela internet está circulando um abaixo-assinado para tentar impedir o fechamento. Para assinar, basta clicar em http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=camoes
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