ltimas Notcias
Gilson Caroni: O que move o partido-imprensa
Publicado em 09.01.12 - Por Gilson Caroni Filho, na Carta Maior
A
leitura diária dos jornais pode ser um interessante exercício de
sociologia política se tomarmos os conteúdos dos editoriais e das
principais colunas pelo que de fato são: a tradução ideológica dos
interesses do capital financeiro, a partitura das prioridades do
mercado.
O
que lemos é a propagação, através dos principais órgãos de imprensa,
das políticas neoliberais recomendadas pelas grandes organizações
econômicas internacionais que usam e abusam do crédito, das estatísticas
e da autoridade que ainda lhes resta: o Banco Mundial (BIrd), o Fundo
Monetário Internacional (FMI), a Organização Mundial do Comércio (OMC). É
a eles, além das simplificações elaboradas pelas agências de
classificação de risco, que prestam vassalagem as editorias de política e
economia da grande mídia corporativa.
Claramente partidarizado, o jornalismo brasileiro pratica a legitimação
adulatória de uma nova ditadura, onde a política não deve ser nada além
do palco de um pseudo-debate entre partidos que exageram a dimensão das
pequenas diferenças que os distinguem para melhor dissimular a
enormidade das proibições e submissões que os une. É neste contexto, que
visa à produção do desencanto político-eleitoral, que deve ser visto o
exercício da desqualificação dos atores políticos e do Estado. Até 2002,
era fina a sintonia entre essa prática editorial e o consórcio
encastelado nas estruturas de poder. O discurso "modernizante" pretendia
- e ainda pretende - substituir o "arcaísmo" do fazer político pela
"eficiência" do economicamente correto. Mas qual o perigo do Estado para
o partido-imprensa? Em que ele ameaça suas formulações programáticas e
seus interesses econômicos?
O Estado não é uma realidade externa ao homem, alheia à sua vida,
apartada do seu destino. E não o pode ser porque ele é uma criação
humana, um produto da sociedade em que os homens se congregam. Mesmo
quando ele agencia os interesses de uma só classe, como nas sociedades
capitalistas, ainda aí o Estado não se aliena dos interesses das demais
categorias sociais.
O reconhecimento dos direitos humanos, embora seja um reconhecimento
formal pelo Estado burguês, prova que ele não pode ser uma instituição
inteiramente ligada aos membros da classe dominante. O grau maior ou
menor da sensibilidade social do Estado depende da consciência humana de
quem o encarna. É vista nesta perspectiva que se trava a luta pela
hegemonia. De um lado os que querem um Estado ampliado no curso de uma
democracia progressiva. De outro os que só o concebem na sua dimensão
meramente repressiva; braço armado da segurança e da propriedade.
O partido-imprensa abomina os movimentos sociais os sindicatos (que não
devem ter senão uma representatividade corporativa), a nação, antevista
como ante-câmara do nacionalismo, e o povo sempre embriagado de
populismo. Repele tudo que represente um obstáculo à livre-iniciativa, à
desregulamentação e às privatizações. Aprendeu que a expansão
capitalista só é possível baseada em "ganhos de eficiência", com
desemprego em grande escala e com redução dos custos indiretos de
segurança social, através de reduções fiscais.
Quando lemos os vitupérios dos seus principais articulistas contra
políticas públicas como Bolsa Família, ProUni e Plano de Erradicação da
Pobreza, dentre outros, temos que levar em conta que trabalham como
quadros orgânicos de uma política fundamentalista que, de 1994 a 2002,
implementou radical mecanismo de decadência auto-sustentada,
caracterizada por crescentes dívidas, desemprego e anemia da atividade
econômica.
Como arautos de uma ordem excludente e ventríloquos da injustiça, em
nome de um suposto discurso da competência , endossaram a alienação de
quase todo patrimônio público, propagando a mais desmoralizante e
sistemática ofensiva contra a cultura cívica do país. Não fizeram- e
fazem- apenas o serviço sujo para os que assinam os cheques,
reestruturam e demitem. São intelectuais orgânicos do totalitarismo
financeiro, têm com ele uma relação simbiótica. E é assim que devem ser
compreendidos: como agentes de uma lógica transversa.
Merval Pereira, Miriam Leitão, Sardenberg, Eliane Catanhede, Dora Kramer
e outros mais necessitam ser analisados sob essa perspectiva. É ela que
molda a ética e o profissionalismo de todos eles. Sem mais nem menos.
* Gilson Caroni Filho é professor de
Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de
Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
—
Voltar —
Topo
—
Imprimir
|