Pol�tica
Europa: racismo filho do fascismo
Publicado em 27.12.11 - Por Por Vito Giannotti
Na
Europa, todos os meses, há notícias de um ataque racista contra
“extra-comunitários”, isto é, não europeus. Sempre a mesma cena: mortes
de imigrantes e a imediata apresentação dos atacantes como loucos,
neuróticos, desequilibrados. Em seguida a absolvição dos criminosos e o
rápido esquecimento do fato, com silêncio de toda a mídia que apoia o
sistema.
Todos nos lembramos da chacina de quase cem pessoas há
meses cometida por um jovem da Noruega. Ele já foi declarado
“psicopata”, isto é, absolvido. Não era nenhum louco especial, só um
cara de direita, amigo de amigos de grupos nazistas ou fascistas e todos
alegremente racistas cheios de ódio de árabes, africanos e eslavos. No
ano passado, o governo do presidente francês Sarkozy mandou “limpar”
Paris e a França de imigrantes miseráveis da Romênia, que já viviam no
país há anos. Qual o crime? Não são franceses legítimos.
Neste
mês de dezembro, na terça, dia 10, na cidade modelo da cultura italiana,
Florença, um pacato cidadão matou a tiros de revólver dois imigrantes
do Senegal, num mercado público, e deixou dezenas de feridos. Este
“pacato” cidadão também pertencia a um grupo racista e planejou
detalhadamente a chacina.
Três dias antes, em Turim, uma garota
de 16 anos resolveu transar com o namorado. Acabou a virgindade. E daí?
Correu para casa para contar para os pais e os irmãos que tinha sido
atacada e estuprada por dois “rom”, isto é, por dois imigrantes romenos
“que fediam muito”. Duas horas depois, jovens da bem comportada Turim,
armados de picaretas, machados e latas de gasolina, destruíram e
incendiaram uma favelinha de 25 barracos de imigrantes perto da casa da
moçoila ex-virgem. Essa mesma mocinha, arrependida, uma hora depois
declarou na delegacia que ela tinha inventado tudo por medo dos pais
descobrirem o pecado que ela fez com o namoradinho. E daí? O acampamento
dos imigrantes já estava em chamas e os jovens alegres e comemorar.
As raízes profundas deste racismo
Sábado,
dia 17 de dezembro, em Florença, 20 mil manifestantes prestaram
solidariedade aos dois senegaleses assassinados na semana anterior. Foi
bom. Mas é pouco para reverter 20 anos de avanço da ideologia de direita
baseada na ideologia neoliberal. A ideia chave desta ideologia é o
individualismo. E o racismo é o individualismo expandido à etnia. Eu sou
o centro. O problema são os outros. Os diferentes. E os imigrantes, os
estrangeiros são muito diferentes. Daí vem o ódio a todos eles. Hitler
também dizia que os judeus eram muito diferentes.
A luta para
acabar com as repetidas manifestações de racismo e xenofobia, na Europa
inteira, vai ser longa. Na Itália, por exemplo, há quase seis milhões de
imigrantes que não tem direitos civis. Cerca de 10% da força de
trabalho deste país não tem direito de voto. Isso vale mesmo para
aqueles que nasceram na Itália, mas têm a mancha de não ser filhos de
italianos “legítimos”.
Até o presidente da República, o antigo
comunista Giorgio Napolitano, no dia da manifestação de Florença,
declarou: “Precisamos bloquear a cultura racista. Tivemos tolerância
demais com a xenofobia e o racismo”.
O líder do partido de
esquerda, Socialismo, Ecologia e Liberdade (SEL), foi taxativo: “Nossa
classe dirigente fez racismo de Estado por 15 anos”. É isso mesmo. O
momento, para a Itália de hoje, e para a Europa, é de avançar nestas
constatações e voltar a levantar as causas desta derrota de esquerda que
gerou este racismo. Retomar o combate unitário à cultura da direita
neoliberal que imperou nestas últimas décadas. E mostrar que a única
alternativa é retomar a construção de uma nova cultura socialista
baseada na solidariedade. Ou isso, ou dar razão a Hitler. Enfim, é o
velho dilema que colocava Rosa Luxemburgo, cem anos atrás: “Socialismo
ou barbárie”.
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