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Comunicação & Democracia: os avanços de 2011 - Artigo de Venício Lima
Publicado em 15.12.11 - Por Venício Lima, no Observatório da Imprensa
Mais um fim de ano. Tempo de balanços, de reavaliar metas, de planejar o
futuro. Sobretudo, tempo de refletir sobre o que se fez e o que se
deixou de fazer no campo das comunicações.
Ao contrário do rotineiro, e para evitar a repetição do já escrito ao
longo do ano, arrisco um balanço seletivo de 2011. Sem qualquer ordem de
relevância e sem pretender ser exaustivo, registro dez pontos que, numa
perspectiva histórica, podem ser considerados como avanço no sentido da
garantia democrática de que mais vozes participem e sejam ouvidas no
debate público.
Dez avanços
1. Relatório do special rapporteur para a “promoção e proteção do
direito à liberdade de opinião e expressão” do Conselho de Direitos
Humanos das Nações Unidas, tornado público no dia 3 de junho, reconhece o
acesso à internet como um direito humano (ver, neste Observatório, “Na
pauta da igreja e da ONU”).
Os últimos dados sobre a internet no Brasil indicam, segundo a agência
F/Nazca, que somos 81,3 milhões de internautas (a partir de 12 anos).
Para o Ibope/Nielsen, somos 78 milhões (a partir de 16 anos –
setembro/2011). De acordo com a Fecomércio-RJ/Ipsos, o percentual de
brasileiros conectados aumentou de 27% para 48%, entre 2007 e 2011 (ver
aqui).
Neste contexto, um projeto de lei para definir regras sobre direitos,
deveres e princípios para o uso da internet (marco civil) foi enviado
pela Presidência da República ao Congresso Nacional em agosto (ver
aqui).
2. O crescimento e fortalecimento dos movimentos pró-criação dos
conselhos estaduais de comunicação social (CCS) em vários estados da
federação (ver “Onde estamos e para onde vamos”).
A pioneira Bahia elegeu os representantes da sociedade civil para o
CCS-BA – 10 entidades do segmento empresarial e 10 do movimento social –
que tomam posse no dia 12 de dezembro, juntamente com os 7 membros
indicados pelo governo do estado.
No Rio Grande do Sul, o pleno do Conselho de Desenvolvimento Econômico e
Social (CDES) aprovou, no dia 1º de dezembro, a recomendação ao
governador do estado de criação do CCS-RS. Agora será formado um grupo
de trabalho composto por membros do CDES e da Casa Civil para elaborar o
projeto de lei a ser encaminhado a Assembleia Legislativa.
3. A realização do II Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, em
Brasília, em junho; e do I Encontro Internacional de Blogueiros, em Foz
do Iguaçu, PR, em outubro. Os dois encontros sinalizam a consolidação da
organização dos blogueiros progressistas no Brasil e o início de uma
articulação internacional.
4. A construção e divulgação da “Plataforma para um novo Marco
Regulatório das Comunicações no Brasil”, em outubro. O texto que contem
as 20 propostas prioritárias, resulta de um trabalho histórico que
convergiu na realização da I Conferência Nacional de Comunicação
(Confecom) e foi inicialmente sistematizado no seminário “Marco
Regulatório – Propostas para uma Comunicação Democrática”, realizadopelo
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e outras
entidades nacionais e regionais, no Rio de Janeiro, em maio (ver aqui).
5. A continuidade das atividades quase heroicas de entidades como a Rede
de Educação Cidadã (Recid) e o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC)
promovendo a comunicação popular e sindical.
A Recid é uma articulação de atores sociais, entidades e movimentos
populares, vinculada à Secretaria Geral da Presidência da República, que
desenvolve um trabalho junto a grupos vulneráveis econômica e
socialmente (indígenas, negros, jovens, LGBT, mulheres e outros),
totalmente à margem da grande mídia. Um exemplo das atividades da RECID
foi a realização da IV Ciranda de Educação Popular, em maio (ver
“Direito à comunicação: o Fórum e a Ciranda”). Já o NPC dedica-se à
assessoria de comunicação – do jornal impresso à internet, da oratória
ao uso do rádio e do vídeo – e oferece, por exemplo, cursos ligados a
comunicação sindical e popular e a história dos trabalhadores.
6. Os inúmeros observatórios de mídia, ligados ou não à Rede Nacional de
Observatórios da Imprensa (Renoi), que surgem e se consolidam em vários
estados brasileiros, mobilizando grupos de jovens voluntários que
trabalham pelo direito à comunicação. Um exemplo: o Observatório da
Mídia Paraibana, um projeto de ensino, pesquisa e extensão, criado em
2010, por iniciativa de estudantes da Universidade Federal da Paraíba,
com o objetivo de analisar a mídia do estado.
7. O processo de consolidação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) que
completou o mandado de sua primeira diretoria e inicia uma nova gestão
ampliando a construção e a presença de um sistema público de comunicação
no território nacional. Registre-se a continuidade importante de
programas como o pioneiro Observatório da Imprensa na TV e o Ver TV,
janelas solitárias para a discussão da grande mídia na televisão
brasileira, comandados, respectivamente, pelos jornalistas Alberto Dines
e Lalo Leal Filho.
8. A criação da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e pelo
Direito à Comunicação com Participação Popular (Frentecom), em abril. A
Frentecom, composta por 194 parlamentares e mais de uma centena de
organizações da sociedade civil e coordenada pela deputada Luiza
Erundina (PSB-SP) e pelo deputado Emiliano José (PT-BA), tem como
objetivo acompanhar os debates sobre direito à comunicação e liberdade
de expressão no Estado brasileiro, especialmente na Comissão de Ciência e
Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados e no
Ministério das Comunicações.
9. A disponibilização do cadastro dos concessionários de radiodifusão do
Ministério das Comunicações (Dados de Outorga) cujo acesso voltou a ser
permitido, a partir de 30 de maio, em relação às entidades por
localidade e aos sócios e diretores por entidade.
10. A atitude corajosa de membros do Judiciário que, na contramão de
instâncias superiores, enfrentam o poder da grande mídia nas suas
respectivas áreas de atuação. Dois exemplos ocorridos em outubro: a
entrevista do presidente da Associação dos Juízes do Rio Grande do
Sul(Ajuris) e a Ação Civil Pública do Ministério Público da Paraíba, que
pede suspensão de programa por exibição de cenas de estupro de menor,
cassação da concessão da TV Correio (repetidora da TV Record) e
pagamento de indenização de R$ 500 mil à menor, pelo uso indevido da
imagem, violação da privacidade e danos morais, além de danos morais à
coletividade, no valor de R$ 5 milhões.
“Finalidade sem fim”
Tomo emprestado um pouco da sabedoria e do otimismo do
professor Antonio Cândido, em admirável entrevista publicada no jornal
Brasil de Fato, em julho. Explicando sua opção socialista, o professor
recorre a Kant, via Bernstein, e afirma:
“O socialismo é uma finalidade sem fim. Você tem que agir todos os dias
como se fosse possível chegar ao paraíso, mas você não chegará. Mas se
não fizer essa luta, você cai no inferno.”
A regulação da mídia para a democratização da comunicação parece constituir uma dessas “finalidades sem fim” em nosso país.
Feliz 2012.
Professor Titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e
autor, dentre outros, de Regulação das Comunicações – História, poder e
direitos, Editora Paulus, 2011.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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