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Um médico que sofria as doenças de seu povo
Publicado em 05.12.11 – Por Sérgio Domingues
Dos torcedores mais convictos costuma-se dizer que são “doentes”. Corintiano doente, por exemplo. Algumas torcidas fazem questão de reivindicar a condição de sofredoras. Talvez, a do Corinthians seja a que tenha mais direito a esse estranho orgulho. De 1954 a 1977, o time amargou um penoso jejum absoluto de títulos.
Depois, com a chegada do “doutor”, começou a fartar-se com banquete de títulos e conquistas. Entre estas, a inesquecível e valiosa “democracia corintiana”. Em pleno declínio da ditadura militar, o médico recém formado liderava seus companheiros na luta por liberdade dentro e fora do esporte.
Sócrates era doutor, mas parecia esquecer-se dessa condição tão valorizada numa sociedade elitista e conservadora. Médico, preferia misturar-se à maioria formada por doentes e sofredores. Um povo magro como ele, dado hábitos pouco saudáveis e, principalmente, cagando para uma carreira de sucesso.
Ambições? Só as coletivas e as plebéias. Era nacionalista também. Desde que a nação fosse alvinegra ou aquela que torce pela camisa canarinho sem esperar recompensas financeiras. Em nome dessa coerência jamais abandonou seu olhar crítico. Jamais “pipocou”, como dizem. Longe dos campos, continuou a mostrar elegância, precisão e talento em favor dos indefesos.
Seus companheiros e companheiras de doença e sofrimento agradecem, doutor!
*** Sócrates brasileiro
"Ao tocar de calcanhar o nosso fraco, a nossa dor / Viu um lance no vazio, herói civilizador". É assim que um samba de José Miguel Wisnik, professor talentoso, compositor refinado e santista convicto, homenageia o “doutor”.
Mas nada melhor que lembrar algumas frases ditas pelo próprio Sócrates:
Perguntaram a Fidel se as universitárias cubanas estavam se prostituindo. Ele respondeu: “Não sei. Mas com certeza todas as prostitutas cubanas têm nível superior”. Não estou nem querendo isso. Só peço segundo grau completo. Em entrevista, defendendo a obrigatoriedade de escolaridade de segundo grau para os jogadores de futebol - CartaCapital nº 152
A manipulação dos resultados de alguns jogos do Campeonato Brasileiro tirou dos manos não só a calma como também a única riqueza que podiam ter em mãos. Tirou o sonho e roubou a alegria simples e corriqueira de quem pouco pode sorrir. Desencadeou uma corrente de agonia que explode nas ruas e nos campos de futebol como uma forma de demonstrar que esse povo está vivo. Pouco articulado, mas vivo. E que um dia, não tenham dúvidas, há de lutar por alicerces mais resistentes para a sua existência. É, os manos estão se matando, mas, no fundo, estão mesmo é buscando uma brecha de cidadania em que possam se apoiar. Na verdade, eles estão sangrando. E muito. Sobre brigas de torcidas após as denúncias envolvendo fraudes no futebol – CartaCapital - 02 de Novembro de 2005
Se temos de aplaudir alguém, são os nossos abnegados atletas. Muitos vivem, treinam, vestem-se e alimentam-se com pouco mais de um salário mínimo por mês. Sobre os jogos panamericanos do Brasil – CartaCapital – 26/07/2007
Uma coisa é Copa do Mundo, outra coisa é o futebol. Futebol é essência. É o exercício dessa prática. Outra coisa é a Copa, que é um negócio, onde tem um monte de ladrão roubando dinheiro. Brasil de Fato – novembro de 2007
É que neste país nada mobiliza e agrega mais que o futebol e poderá ser por meio dele que teremos os exemplos que determinarão os caminhos que devemos seguir para transformar nossa sociedade em algo mais humano e da qual possamos nos orgulhar. CartaCapital – 13/03/2009
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