Comunica��o Sindical
Ficção REAL de um Manual antigreve da mídia-empresarial: como cobrir uma greve
Publicado em 28.11.11 - Por Blog JornalismoB
Abaixo, um imaginado (ou nem tanto) manual prático da velha mídia brasileira sobre como cobrir uma greve. Baseado em fatos reais:
1. Para tentar esvaziar a greve: 1.1. Diga que a greve é “de vanguarda” e que os trabalhadores não foram devidamente consultados; 1.2. Caso você seja obrigado pelos fatos a admitir que houve uma Assembleia Geral, diga que a Assembleia teve pouca participação; 1.3. Diga que a Assembleia que definiu a greve teve grande quantidade de discordantes; 1.4. Faça todo o possível para mostrar os trabalhadores como simples massa de manobra das lideranças sindicais; 1.5. Ignore o fato de que as lideranças sindicais são eleitas pelos próprios trabalhadores; 1.6. Ignore a obrigação legal que as lideranças sindicais têm de convocar uma Assembleia Geral para votar uma proposta de greve; 1.7. Afirme, reafirme e repita quantas vezes for possível que a greve está esvaziada, estando ela como estiver.
2. Para pressionar o governo contra os grevistas: 2.1. Escreva que os grevistas estão provocando o governo; 2.2. Diga que o resultado das mobilizações vai demonstrar “quem realmente manda” no governo; 2.3. Garanta que o governo perderá força se ceder às exigências dos grevistas; 2.4. Ameace: escreva que ceder é demonstrar fraqueza, e que governos fracos não se sustentam no poder; 2.5. Coloque a sociedade contra o movimento, fazendo o governante ver que perderá votos na próxima eleição caso ceda.
3. Coloque a sociedade contra o movimento: 3.1. Destaque todos os prejuízos que o cidadão “de bem” terá com a greve; 3.1.1. Se for uma greve de professores, ressalte os danos às férias escolares, ao vestibular e ao aprendizado das crianças; 3.1.2. Caso alguma manifestação dos grevistas interrompa o trânsito, faça imagens do congestionamento, e não esqueça de falar que os “trabalhadores” foram prejudicados por não conseguirem chegar às empresas onde trabalham.
4. Na hora das entrevistas: 4.1. Evite ao máximo entrevistar grevistas. Se precisar fazê-lo, pouco espaço, e apenas no final da matéria; 4.2. Entreviste muitos “populares” prejudicados pela greve; 4.2.1. Se for uma greve de professores, entreviste diretores de escolas preocupados, pais desesperados, e não hesite em procurar desesperadamente crianças que adorariam estar na escola, mas não podem estudar por causa da greve; 4.2.2. Caso alguma manifestação dos grevistas interrompa o trânsito, entreviste motoristas tensos e antigreve, mas não esqueça de variar com outros que afirmam “até concordarem” com as reivindicações, mas que também precisam ir trabalhar.
5. Na hora da redação da matéria: 5.1. Comece o texto sempre com os problemas que a greve (“os grevistas”) causa à população; Obs.: Nos casos em que é possível aproximar ações dos grevistas de atos “criminosos”, os transtornos à população devem ceder o primeiro posto e serem transformados em uma segunda questão a ser colocada no texto; 5.2. Esforce-se para mostrar posicionamento das instituições do governo contra a greve; 5.3. As reivindicações dos grevistas devem aparecer em um ou dois parágrafos, no máximo, no fim da matéria; 5.4. Possíveis denúncias dos grevistas devem aparecer sempre acompanhadas de “suposto” ou derivados.
6. Glossário subjetivo: Grevista = vagabundo População = desrespeitada Greve = vagabundagem Mobilização = baderna Empresas = coitadinhas Reivindicações = privilégios
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Piratininga
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