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Ativistas debatem forma que mídia trata temas como racismo, homofobia, mulher e favela

Publicado em 23.11.11 - Por Marina Schneider-NPC

A maneira como os meios de comunicação lidam com temas como homofobia, racismo, favela e mulher foi um dos assuntos tratados durante o 17º Curso Anual de Comunicação do NPC, que contou com a participação de mais de 200 jornalistas, dirigentes sindicais e membros de movimentos sociais de 16 a 20 de novembro, no Rio de Janeiro. A mesa A mídia e os temas tabus aconteceu no dia 18 e contou com a participação do cineasta Joel Zito Araújo, do fundador do Grupo Gay da Bahia e antropólogo Luiz Mott, do MC e vice-presidente da Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (Apafunk) Mano Teko, da coordenadora do Observatório da Mulher, Rachel Moreno, e da professora Giovana Xavier, estudiosa da imprensa negra no Brasil.

Favela como sinônimo de violência e funk tratado com preconceito

Após lembrar sua aproximação com o funk, ritmo que fez Mano Teko, morador do asfalto, subir o morro, ele ressaltou que quando se retrata a favela na mídia o que aparece é violência. “O Tropa de Elite fala de violência, a Fátima Bernardes fala de violência, o Wagner Montes fala e violência”, disse.  Ele contou que a Apafunk tem realizado rodas de funk nas escolas para combater o preconceito e a criminalização do ritmo e da favela. “Nós temos ido a escolas, levando rodas de funk e abrindo esse diálogo. Na nossa história, o samba, a capoeira e o próprio candomblé tomaram pancada, por falta de diálogo. O funk é o filho mais novo, mas criminalizado da mesma forma”, afirmou. A roda de funk foi uma maneira encontrada pela Apafunk para abrir um leque de debates que permitisse o questionamento sobre esses temas.

“Vemos vários movimentos sociais que nem se conheciam até então e que, através da Apafunk, se juntaram e viram que é possível lutar por algo mais positivo”, afirmou. Sobre a participação em mais um debate para combater o preconceito, Teko ressaltou: “Só a esquerda para abraçar a gente!”. Para Teko, o funk é uma das últimas vozes, na cultura, que ainda questiona e faz críticas sociais. “Não tive ninguém que me fizesse gostar de estudar, mas o funk me fez ter acesso a muita informação que eu não sei se teria nem na universidade”, avaliou.
 

Forma como o negro é tratado pela mídia tem a ver com sua baixa inserção no imaginário racial do brasileiro

O cineasta Joel Zito Araújo ressaltou que o negro tratado de forma positiva ainda é tabu na mídia. Ele também lembrou vários casos de omissão da mídia com relação a crimes de racismo, como o do jovem dentista Flávio Ferreira Santana, morto por policiais militares por engano, em São Paulo no ano de 2004.  “A mídia nunca pegou um caso desses para fazer uma campanha educativa. Ali Kamel, por exemplo, não escreveu uma linha sobre esse assunto”, lamentou. Joel avalia que se o racismo fosse uma preocupação da mídia brasileira, fatos escandalosos como este e outros estariam na cabeça de todos. No entanto, quando perguntou para a plateia de cerca de 200 pessoas que assistiam ao debate, quase ninguém se lembrava de nenhum dos acontecimentos que relatou. “Não vimos Ana Maria Braga fazer matéria sobre isso e nem o Boris Casoy falando daquele jeito sobre o assunto, nem comentário do Alexandre Garcia ou do Arnaldo Jabor. Não vimos nenhuma manifestação de incômodo e de indignação quanto a isso”, disse, apontando a dificuldade que elite brasileira tem de incorporar os não brancos.

Lembrando a pesquisa que gerou o documentário “A negação do Brasil”, dirigido por ele, e o livro, também de sua autoria, “A negação do Brasil – O negro na telenovela brasileira”, Joel contou que desde um pouco antes de 1964 até 1998 um terço das novelas não mostrou nenhum negro. Entre as que mostraram, 75% fizeram isso de maneira negativa.

Para produzir a pesquisa mais recente “Onde está o negro na TV pública?”, que gerou o seu último livro “O Negro na TV pública”, Joel Zito e equipe gravaram uma semana de programação da TV pública no Brasil. No levantamento aferiram que 82% da programação não trouxe qualquer menção aos negros. Apenas em 0,9% da programação o programa foi dedicado ao negro e à cultura negra. Dos apresentadores de telejornais, 89% eram eurodescendentes, 6,2% afrodescendentes e uma parcela perto de 4% não estava em nenhuma dessas categorias. “Me assustei ao perceber que a TV Globo incorporava mais o negro do que a TV pública naquele momento”, relatou.

Ele atribui essa baixíssima inserção do negro ao imaginário racial do brasileiro. “Nós não superamos nossa mentalidade colonizada e o ideário da elite no final da escravidão que proclamava para todos os quatro cantos que o desejo nacional era fazer desse país um país branco”, opina. De acordo com Joel, apenas na segunda parte dos anos noventa começa-se a incorporar os atores negros como bonitos. Para ele, o que justifica o tabu é a persistência do ideário do branqueamento e de um medo que as elites brasileiras têm de que esta maioria da população assuma a consciência na negritude, que virá junto com a consciência de direitos, e questione o que chamou de sistema de castas, nossa patente desigualdade. “Temos uma armadilha imaginária que é reforçada pela mídia, pela escola e pela violência racial de fazer com que aqueles que estão na base da pirâmide social entendam que essa desvantagem em que ele vive é um resultado natural por ele ter nascido assim”, criticou.


Para Luiz Mott, gays ainda são estereotipados em novelas

O fundador do Grupo Gayda Bahia, Luiz Mott, antropólogo e professor aposentado da Universidade Federal da Bahia, disse que o preconceito contra homossexuais geralmente já começa em casa. “Pai de homossexual humilha, coloca no psicólogo, leva para igreja”, disse, lembrando ainda que o termo que deve ser usado é homossexualidade e não homossexualismo. Para ele, a origem da homofobia tem a ver com a nossa tradição religiosa, com o machismo e com a escravidão.

Luiz Mott lembrou que a nossa Constituição proíbe qualquer tipo de discriminação, mas que não foi incluída explicitamente a questão da orientação sexual. “Queremos a equiparação com o racismo, homofobia como crime”, ressaltou. Ele informou que até outubro no Brasil foram 208 homossexuais assassinados. De acordo com os dados apresentados por Mott, o Brasil lidera o ranking de assassinatos de travestis. Em 2011 foram 97, o segundo lugar é o México, com 23 e a Colômbia está em terceiro, com 19. Para ele, em relação à mídia a situação melhorou para os homossexuais, embora o beijo gay ainda seja tabu. Ele criticou a novela de Aguinaldo Silva. “Homossexual assumido, ele mostra gays de forma estereotipada”, avaliou. Mott concluiu pedindo o apoio dos simpatizantes na luta contra o preconceito e a homofobia. Se referindo à antiga sigla GLS, ele brincou:  “O ‘S’ não é de suspeito”.  “Nós precisamos dos simpatizantes”, concluiu.

Que mulher a mídia mostra?

Para a coordenadora do Observatório da Mulher, Rachel Moreno, a mídia trabalha com uma espécie de invisibilidade seletiva quando o assunto é mulher. “As mulheres que interessam aparecem na mídia e as outras ficam de fora”, opinou. Após uma introdução em que mostrou as diferenças nos padrões de beleza ao longo dos séculos, Rachel mostrou peças publicitárias que exibem a mulher apenas explorando a beleza. Logo em seguida, mostrou fotos de um protesto em que havia faixas com os dizeres ‘Exigimos respeito, mulher não é só bunda e peito’.

“As mulheres não são especialistas consultadas pelos meios de comunicação, apesar de terem, em geral, quatro anos a mais de escolaridade”, criticou. “Queremos diversidade e controle social da imagem das mulheres”, reivindicou. De acordo com Rachel, desde a Revolução Francesa até hoje, quando se trata de a mulher se incluir é como se estivéssemos infringindo o direito de expressão. Ela contou a experiência de alguns países que possuem alguma forma de controle de conteúdo dos meios de comunicação onde é possível lutar por outro tipo de representação da mulher na mídia e ressaltou que a violência midiática é um forma de violência simbólica.

O Brasil já teve uma imprensa negra com quase 40 jornais

A professora de Ensino de História e doutoranda pela Unicamp, Giovana Xavier, apresentou aos participantes do 17º Curso Anual do NPC um pouco da imprensa negra produzida desde o final do século 19 até os anos 1960 no Brasil. Em sua pesquisa Giovana encontrou aproximadamente 38 jornais publicados entre 1889 e 1963, feitos exclusivamente por pessoas negras. Segundo ela, a diferença dos jornais da imprensa negra para os outros é que eles narram os fatos com um viés racial explícito. “Em São Paulo houve a maior incidência desses jornais. Só de 1889 a 1932 surgiram 25”, contou.

Giovana foi incisiva ao falar sobre o tratamento que a mídia dá aos negros. “Não acho que o negro é silenciado na mídia, acho que ele é escrachado nessa mídia. E por causa desse escracho as crianças negras se sentam no final da sala de aula ou às vezes nem vão à aula quando o tema é escravidão. Eu fui uma dessas crianças”, frisou. Lembrando do legado que imprensa negra deixou, Giovana questionou o fato de continuarmos a discutir a questão do negro e da homossexualidade apenas em datas comemorativas. “Temos que pensar de outra forma e incorporar isso no cotidiano”, concluiu.


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 NPC - Núcleo Piratininga de Comunicação * Arte: Cris Fernandes * Automação: Micro P@ge