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Megaventos, mídia e cidade em pauta no 17º Curso Anual do NPC
Publicado em 20.11.11 – Por Najla Passos A expectativa da realização de megaeventos esportivos no Brasil – como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 - tem justificado intervenções nas cidades que vão muito além do campo esportivo. Com a participação fundamental da mídia, o capital internacional vem mercantilizando os espaços urbanos das cidades-sede dos eventos, à revelia dos interesses das populações locais. “Estamos frente a um novo pacto-territorial, redefinido por antigas lideranças paroquiais, sustentadas por frações do capital imobiliário e financeiro, e amparadas pela burocracia do Estado”, explica o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que participou do 17º Curso Anual do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), que acontece no Rio de Janeiro, até este domingo (20). Ele, que participa do Observatório das Metrópoles, uma iniciativa que reúne cerca de 150 pesquisadores de todo o país em torno de temáticas urbanas, denuncia que esta situação é suficiente para inverter o processo decisório das cidades, que passam a definir seus investimentos públicos e privados em função dos eventos, e não das necessidades cristalizadas dos seus habitantes. O professor garante que a gestão publica tem tido papel central para garantir os interesses dos setores de investimentos no processo de preparação desses megaeventos. A redução de impostos, a transferência de patrimônio imobiliário e a remoção de comunidades de baixa renda são exemplos de mecanismos que favorecem o capital, em detrimento das populações. Orlando afirma que a existência de comunidades no espaço das cidades se torna obstáculo ao avanço do poder econômico. Neste contexto é que surgem as remoções que, para ele, são verdadeiras transferências de patrimônio das classes populares para o grande capital. “Essas remoções são espoliações, já que as aquisições são feitas por preços muito baixos”, explica. Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Nelma Oliveira acrescenta que a realização dos megaeventos, principalmente neste ambiente que ela define como “cidades neoliberais”, se constitui espaço propício para a criação de estados de exceção extremamente autoritários e que privilegiam o capital. E, neste contexto, a mídia exerce papel fundamental para garantir o apoio popular às medidas autoritárias e anti-democráticas. De acordo com ela, os comitês organizadores dos eventos vendem não apenas espaços publicitários nos locais dos eventos, mas o direito dos patrocinadores associarem duas marcas aos eventos em todos os espaços, inclusive o público. “Mesmo no espaço público, não se pode comercializar outras marcas. Existe um controle do espaço público para atender aos patrocinadores, que querem o espaço das cidades, e não apenas do estádio, e também à mídia que quer mostrar cidades bonitas, que atendam aos padrões estéticos do capital”, esclarece. Além das comunidades carentes vítimas de remoção, ela defende que sofrerão profunda repressão os trabalhadores informais e profissionais do sexo. “Limpar a cidade e proibir a atuações desses grupos faz parte do processo de higienização das metrópoles, para atender às exigências da mídia”, esclarece. A jornalista e coordenadora do NPC, Claudia Santiago, lembrou que as remoções são tratadas como questões comuns pela mídia para que a resistência a elas seja minimizada. “As ideias dominantes são as ideias da classe dominantes. E essas ideias são injustas. É a imprensa comercial que naturaliza estas injustiças na nossa vida”. O editor da Revista do Brasil, Paulo Donizetti, afirmou que os megaeventos são uma oportunidade da sociedade discutir as cidades. “Qual poderia ser o legado humano desses eventos? Fala-se muito do legado físico, mas não se fala em aproveitar as Olimpíadas de 2016 e desenvolver uma política esportiva”, critica. Segundo ele, ao contrário de outros países latino-americanos o Brasil não tem um programa esportivo universal. “Por que o esporte, no Brasil, é para poucos? Nós estamos preparando uma reportagem sobre a Copa e já descobrimos que 70% das escolas brasileiras não tem nem uma quadra”, denunciou. Morador da Rocinha, o jornalista Arley, da TV Tagarela, disse que o mundo está, sim, em ebulição. “A escolha do Brasil e do Rio de Janeiro é estratégica: em que lugar do mundo poderia se realizar um mega-evento hoje sem ter preocupações com segurança e autonomia?”, questiona ele. O jornalista acrescenta que, entretanto, no Rio, há uma particularidade que “atrapalha” o evento. “São 1094 problemas que ninguém sabe como resolver: as favelas”, afirmou Arley. Para ele, não existe solução para a favela.” A única coisa que o Estado faz é usar o monopólio da força: colocar a favela no seu devido lugar, que não é entre São Conrado e Gávea”, ironiza.
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