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Comunicação alternativa em debate no 17º Curso Anual do NPC
Publicado em 18.11.11 – Por Marina Schneider-NPC
A urgência de uma imprensa alternativa diária e de qualidade e os desafios para sustentar esta e todas as outras iniciativas alternativas de publicações foram alguns dos principais temas abordados pelos participantes da mesa sobre comunicação alternativa, realizada no dia 17 de novembro durante o 17º Curso Anual do Núcleo Piratininga. O debate contou com a participação de Raimundo Pereira, da Editora Manifesto, Nilton Viana, editor do jornal Brasil de Fato, Mirian Santini, repórter da revista Pobres e Nojentas e Haroldo Cereza, editor do Operamundi e diretor de redação da recém-criada revista Samuel.
O jornalista Raimundo Pereira, que já trabalhou em jornais alternativos como Movimento e Opinião e é fundador da revista Retrato do Brasil frisou que é preciso reconstruir no país uma imprensa do tipo do jornal Movimento, que mostre o país. “Precisamos de uma imprensa popular no dia a dia, mas para isso é necessário ter grandes recursos. Nós temos experiência, pessoal e tradição para fazer isso”, disse. Segundo ele, para construir uma imprensa democrática popular é preciso ir para a rua e apurar bem os fatos. “Isso a grande imprensa não faz”, criticou. Raimundo também ressaltou que são necessários muitos investimentos em profissionais, em editores, jornalistas e até em bons vendedores dos jornais. “A imprensa burguesa é muito forte e temos que competir com ela”, disse.
A revista Pobres & Nojentas, é editada em Santa Catarina, está no seu quinto ano e é trimestral. Uma das quatro jornalistas que fazem parte do grupo fixo da redação, Mirian Santini é também jornalista sindical. A importância dos investimentos financeiros para a qualidade da imprensa alternativa e sindical também foi destacada por ela. O trabalho na revista é voluntário e o grupo responsável enfrenta desafios com o financiamento da publicação. “Não se faz milagre, se querem comunicação com a qualidade, invistam”, sugeriu. Segundo ela, a Pobres & Nojentas vem tratando de temas que nenhum outro meio de comunicação de Santa Catarina aborda. Um dos recursos utilizados pela equipe para tornar o texto atrativo para o leitor foi o que Mirian chamou de ‘cronireportagem’. “Usamos elementos da crônica, como metáforas, mas fazemos o aprofundamento necessário do jornalismo”, explicou, ressaltando o desafio que é escrever textos curtos e, ao mesmo tempo, densos.
Financiamento é o grande desafio
O editor do jornal Brasil de Fato, Nilton Viana, relembrou o contexto de nascimento do jornal, no início dos anos do 2000, quando ele ainda trabalhava no setor de comunicação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Éramos cobrados Brasil afora da necessidade de romper o cerco midiático e a criminalização dos movimentos sociais e dos trabalhadores”, recordou. Foi nessa época que se criaram edições especiais do Jornal Sem Terra, do MST. A partir de 2002, com a ideia já amadurecida, o MST propôs e convocou militantes, estudantes, intelectuais e profissionais da área de comunicação dispostos a construir um jornal popular que fosse um instrumento político da classe trabalhadora. “Assim iniciamos o Brasil de Fato, justamente por entender que, na luta por uma sociedade justa e igualitária a democratização dos meios de comunicação é fundamental”, afirmou Nilton. O Brasil de Fato foi lançado durante o Fórum Social Mundial de 2003, em Porto Alegre.
“Raimundo Pereira tem razão: é preciso muito recurso e muita batalha”, concordou Nilton. Ele ressaltou que o projeto só existe até hoje graças à colaboração de inúmeros militantes, intelectuais, artistas e demais colaboradores. “Temos enormes desafios pela frente, um dos principais é o problema financeiro. É difícil uma publicação independente do capital financeiro se sustentar”, pontuou. Para ele, uma das grandes conquistas do jornal foi reunir colaboradores no país inteiro. “Aglutinamos uma rede de colaboradores também em toda a América latina, mas pela frente o principal desafio é conseguir a autonomia financeira do projeto Brasil de fato. Sabemos da importância que é construir um instrumento desses para a classe trabalhadora”, disse. De acordo com Nilton, o Brasil de Fato pretende ser um instrumento que ajude a elevar a consciência crítica da classe trabalhadora para que ela lute por mudanças e possa romper com a opressão que lhe é imposta.
Para o jornalista Haroldo Ceravolo Cereza, editor do site Operamundi, vivemos um momento especial na imprensa independente brasileira. “O jornal Brasil de Fato é um marco disso”, opinou. Ele acredita que a imprensa burguesa nunca foi tão poderosa como é hoje, mas que também apresenta sinais de fragilidade. “Hoje é possível que a gente questione os valores e os produtos que essa mídia vende”, disse. Ele apresentou e distribuiu a recém-lançada revista Samuel. O objetivo da publicação é congregar a imprensa independente. A edição distribuída aos participantes do curso foi a número 0, experimental. Segundo ele, em dezembro o número já deve estar nas bancas. “Samuel é a revista sem repórteres. É uma revista de editores. O objetivo é buscar textos, imagens e reportagens publicados pela imprensa independente”, explicou. A ideia é fazer uma revista moderna, baseada no Copyleft e Creative Commons, mas que se autosustente. “Queremos que ela não fique no gueto, o desafio é ultrapassar esse limite”, concluiu.
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