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Dez fatos que a "grande" imprensa esconde da sociedade
Publicado em 14.11.11 – Por Marco Aurélio Weissheimer, na Carta Maior
O
debate sobre regulação do setor de comunicação social no Brasil, ou
regulação da mídia, como preferem alguns, está povoado por fantasmas,
gosta de dizer o ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência
da República, Franklin Martins. O fantasma da censura é o frequentador
mais habitual, assombrando os setores da sociedade que defendem a
regulamentação do setor, conforme foi estabelecido pela Constituição de
1988.
Regulamentar para quê? – indagam os que enxergam na
proposta uma tentativa disfarçada de censura. A mera pergunta já é
reveladora da natureza do problema. Como assim, para quê? Por que a
comunicação deveria ser um território livre de regras e normas, como
acontece com as demais atividades humanas? Por que a palavra “regulação”
causa tanta reação entre os empresários brasileiros do setor?
O
que pouca gente sabe, em boa parte por responsabilidade dos próprios
meios de comunicação que não costumam divulgar esse tema, é que a
existência de regras e normas no setor da comunicação é uma prática
comum naqueles países apontados por esses empresários como modelos de
democracia a serem seguidos.
O seminário internacional
Comunicações Eletrônicas e Convergências de Mídias, realizado em
Brasília, em novembro de 2010, reuniu representantes das agências
reguladoras desses países que relataram diversos casos que, no Brasil,
seriam certamente objeto de uma veemente nota da Associação Nacional de
Jornais (ANJ) e da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e
Televisão (ABERT) denunciando a tentativa de implantar a censura e o
totalitarismo no Brasil.
Ao esconder a existências dessas regras
e o modo funcionamento da mídia em outros países, essas entidades
empresariais é que estão praticando censura e manifestando a visão
autoritária que tem sobre o tema. O acesso à informação de qualidade é
um direito. Aqui estão dez regras adotadas em outros países que os
barões da mídia brasileira escondem da população:
1. A lei
inglesa prevê um padrão ético nas transmissões de rádio e TV, que é
controlado a partir de uma mescla da atuação da autorregulação dos meios
de comunicação ao lado da ação do órgão regulador, o Officee of
communications (Ofcom). A Ofcom não monitora o trabalho dos
profissionais de mídia, porém, atua se houver queixas contra determinada
cobertura ou programa de entretenimento. A agência colhe a íntegra da
transmissão e verifica se houve algum problema com relação ao enfoque ou
se um dos lados da notícia não recebeu tratamento igual. Após a análise
do material, a Ofcom pode punir a emissora com a obrigação de
transmitir um direito de resposta, fazer um pedido formal de desculpas
no ar ou multa.
2. O representante da Ofcom contou o seguinte
exemplo de atuação da agência: o caso de um programa de auditório com
sorteios de prêmios para quem telefonasse à emissora. Uma investigação
descobriu que o premiado já estava escolhido e muitos ligavam sem chance
alguma de vencer. Além disso, as ligações eram cobradas de forma
abusiva. A emissora foi investigada, multada e esse tipo de programação
foi reduzida de forma geral em todas as outras TVs.
3. Na
Espanha, de 1978 até 2010, foram aprovadas várias leis para regular o
setor audiovisual, de acordo com as necessidades que surgiam. Entre
elas, a titularidade (pública ou privada); área de cobertura (se em todo
o Estado espanhol ou nas comunidades autônomas, no âmbito local ou
municipa); em função dos meios, das infraestruturas (cabo, o satélite, e
as ondas hertzianas); ou pela tecnologia (analógica ou digital).
4.
Zelar para o pluralismo das expressões. Esta é uma das mais importantes
funções do Conselho Superior para o Audiovisual (CSA) na França. O
órgão é especializado no acompanhamento do conteúdo das emissões
televisivas e radiofônicas, mesmo as que se utilizam de plataformas
digitais. Uma das missões suplementares e mais importantes do CSA é
zelar para que haja sempre uma pluralidade de discursos presentes no
audiovisual francês. Para isso, o conselho conta com uma equipe de cerca
de 300 pessoas, com diversos perfis, para acompanhar, analisar e propor
ações, quando constatada alguma irregularidade.
5. A equipe do
CSA acompanha cada um dos canais de televisão e rádio para ver se existe
um equilíbrio de posições entre diferentes partidos políticos. Um dos
princípios dessa ação é observar se há igualdade de oportunidades de
exposição de posições tanto por parte do grupo político majoritário
quanto por parte da oposição.
6. A CSA é responsável também pelo
cumprimento das leis que tornam obrigatórias a difusão de, pelo menos,
40% de filmes de origem francesa e 50% de origem européia; zelar pela
proteção da infância e quantidade máxima de inserção de publicidade e
distribuição de concessões para emissoras de rádio e TV.
7. A
regulação das comunicações em Portugal conta com duas agências: a
Entidade reguladora para Comunicação Social (ERC) – cuida da qualidade
do conteúdo – e a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom), que
distribui o espectro de rádio entre as emissoras de radiodifussão e as
empresas de telecomunicações. “A Anacom defende os interesses das
pessoas como consumidoras e como cidadãos.
8. Uma das funções da
ERC é fazer regulamentos e diretivas, por meio de consultas públicas com
a sociedade e o setor. Medidas impositivas, como obrigar que 25% das
canções nas rádios sejam portuguesas, só podem ser tomadas por lei.
Outra função é servir de ouvidoria da imprensa, a partir da queixa
gratuita apresentada por meio de um formulário no site da entidade. As
reclamações podem ser feitas por pessoas ou por meio de representações
coletivas.
9. A União Européia tem, desde março passado, novas
regras para regulamentar o conteúdo audiovisual transmitido também pelos
chamados sistemas não lineares, como a Internet e os aparelhos de
telecomunicação móvel (aqueles em que o usuário demanda e escolhe o que
quer assistir). Segundo as novas regras, esses produtos também estão
sujeitos a limites quantitativos e qualitativos para os conteúdos
veiculados. Antes, apenas meios lineares, como a televisão tradicional e
o rádio, tinham sua utilização definida por lei.
10. Uma das
regras mais importantes adotadas recentemente pela União Europeia é a
que coloca um limite de 12 minutos ou 20% de publicidade para cada hora
de transmissão. Além disso, as publicidades da indústria do tabaco e
farmacêutica foram totalmente banidas. A da indústria do álcool são
extremamente restritas e existe, ainda, a previsão de direitos de
resposta e regras de acessibilidade.
Todas essas informações
estão disponíveis ao público na página do Seminário Internacional
Comunicações Eletrônicas e Convergências de Mídias. Note-se que a
relação não menciona nenhuma das regras adotadas recentemente na
Argentina, que vem sendo demonizadas nos editoriais da imprensa
brasileira. A omissão é proposital. As regras adotadas acima são tão ou
mais "duras" que as argentinas, mas sobre elas reina o silêncio, pois
vêm de países apontados como "exemplos a serem seguidos" Dificilmente,
você ouvirá falar dessas regras em algum dos veículos da chamada grande
imprensa brasileira. É ela, na verdade, quem pratica censura em larga
escala hoje no Brasil.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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