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A cobertura jornalística das eleições argentinas: do maniqueísmo à democracia

Publicado em 26.10.11 – Por Leonardo Martins Barbosa

Cristina Kirchner conquistou, no dia 24 de outubro de 2011, a maior vitória eleitoral no pleito à presidência desde a redemocratização do país. Os motivos para referido feito podem ser vários, e não devem obstaculizar a discussão sobre os desafios que essa vitória representa para o país e para a integração regional. A cobertura da mídia impressa, infelizmente, ficou aquém do desejado, uma vez que a Argentina é uma das principais – se não a principal – parceria bilateral do Brasil.

Dois temas mereceram destaque na imprensa, em especial no jornal O Globo: os desafios econômicos do país, e os riscos políticos oriundos da significativa vitória. No primeiro caso, mereceram destaque a crescente inflação argentina, intensificada pelo fato de os dados oficiais já não possuírem a necessária confiança do mercado e do público em geral; e as possíveis dificuldades no comércio bilateral, já que a ministra Débora Giorgi, muito próxima das federações industriais, está cotada para substituir Amado Boudou no Ministério da Economia. No cenário político, destaque foi dado ao que é considerado pela imprensa um risco autoritário, tendo sido noticiado na versão online de O Globo, no dia 24 de outubro, que Kirchner seria a presidente mais poderosa da história do país, havendo mesmo o risco de pleito do terceiro mandato.

Ambos os temas foram abordados de maneira, no mínimo, insuficiente. A economia argentina cresce a taxas superiores a 8% desde o início da década, e provavelmente receberá mais investimentos chineses que o Brasil em 2011. Por outro lado, a afirmação referente ao seu suposto poder revela ignorância com relação à história de um país que, somente nos últimos cinqüenta anos, passou por dois regimes militares. Em momento algum foi pleiteado um terceiro mandato, e é curioso recordar, nesse momento, do documentário de Oliver Stone, “Ao Sul da Fronteira”, em que o falecido Néstor Kirchner critica o colega Hugo Chávez justamente pelo exacerbado personalismo de sua atuação política. A vitória de Cristina demonstra, na verdade, vasto apoio popular ao seu governo: a presidente reeleita perdeu em apenas uma província, a de San Luís, muito embora não tenha conseguido a maioria necessária para alterar a Constituição. Sob qualquer abordagem, a democracia argentina permanece vigorosa.

Em realidade, a cobertura jornalística realizada pelo jornal O Globo, e pela imprensa brasileira de maneira geral, segue cumprindo a função de criar a imagem de uma América do Sul dividida em dois tipos de países, os populistas, marcados por inflação alta, desorganização econômica e autoritarismo político; e os modernos, caracterizados por maior liberalismo e estabilidade. Perde-se, na análise, propositalmente, a diversidade das experiências políticas e econômicas do continente e, consequentemente, as amplas possibilidades de gestão que podem ser empreendidas na condução do poder público. Não se trata de ser a favor ou contra Kirchner, mas de compreender o processo político de nossos vizinhos de maneira menos maniqueísta, para que, igualmente, os caminhos a serem escolhidos em âmbito interno, como se deve esperar em uma democracia, não fiquem restritos à visão dual e simplista que tem sido propagada a custo da qualidade jornalística.

*Leonardo Martins Barbosa é mestre em História pela PUC-Rio



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