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Mino Carta: A máfia no poder
Quem lida com Blatter e Teixeira deve estar acima de qualquer suspeita. Mas há mafiosos também em outros cantos.
Publicado em 24.10.11 – Por Mino Carta, na Carta Capital
Quando
adolescente, já perguntava aos meus imberbes botões por que o Brasil,
país de imigração campana, calabresa e siciliana, entre outras, não
conhecia o fenômeno mafioso. Desde logo, formulei uma tese sem qualquer
pretensão científica, mas convincente na opinião dos botões. Não temos
uma Cosa Nostra no Brasil porque eméritos mafiosos estiveram e estão no
poder, líderes em atividades diversas - teoricamente legais, em
condições de agir às claras e a salvo dos riscos corridos, e sofridos,
por Al Capone ou Totò Riina.
Capone e Riina, e muitos outros do
mesmo porte, acabaram na cadeia, aqui os equivalentes viveram e vivem à
larga, ou estão soltos, quando não são nome de ruas e praças. Não faltam
exemplos -recentes nas -áreas mais diversas, a começar pela política, a
qual, a rigor, está em todas porque por trás de tudo. Algo espantoso se
deu por ocasião do Panamericano do Rio. Previu-se um orçamento de 400
milhões, gastaram-se dez vezes mais para realizar obras hoje inúteis e
entregues ao descaso. Serviços de todo gênero foram encomendados aos
familiares e amigos dos organizadores da tertúlia monumental, a despeito
dos nítidos conflitos de interesse. Que aconteceu com os responsáveis
por tanto descalabro?
É do conhecimento do mundo mineral que
quem mandou no Panamericano mandará nas Olimpíadas de 2016. Também é,
quanto ao futebol, que a Fifa é um antro mafioso desde os tempos de João
Havelange e que Joseph Blatter e Ricardo Teixeira são seus profetas.
Desde a posse de Dilma Rousseff na Presidência da República,
CartaCapital permite-se chamar a atenção do governo para as péssimas
consequências de um Mundial de Futebol desastrado, exposto ao risco do
desmando, e várias vezes voltamos à carga no mesmo sentido.
Não
nos precipitamos a endossar agora as suspeitas levantadas em relação ao
ministro do Esporte, Orlando Silva, mesmo porque apressadamente
veiculadas por Veja. CartaCapital jamais deixou de defender o princípio in dubio pro reo
e enxerga na reportagem da semanal da Editora Abril insinuações e
conjecturas em lugar de provas. Para variar. Certo é, contudo, que um
ministro do Esporte chamado a lidar com Ricardo Teixeira e Joseph
Blatter deve necessariamente situar-se acima de qualquer suspeita.
A
presidenta, tão determinada no combate à corrupção, obviamente - sabe
disso e saberá precaver-se, a bem do País e do seu governo. CartaCapital
insiste, de todo modo, em suas preocupações diante da clara presença no
gramado e fora dele da máfia do futebol mundial.
Cabe encarar a
questão também de outro ângulo, a partir da análise do singular destino
da esquerda nativa. Refiro-me neste exato instante ao PCdoB, nascido da
costela do Partidão em nome de uma fidelidade ideológica e moral que os
discípulos de Luiz Carlos Prestes teriam traído. Outro aspecto da
história brasileira que amiúde me levou a convocar os botões diz
respeito à efetiva e duradoura existência de uma esquerda brasileira.
Desabrido,
Lula já me disse, em entrevista publicada em CartaCapital há seis anos,
“você sabe que eu nunca fui de esquerda”. Resta ver o que significa
hoje ser de esquerda. Para mim claro está, ao menos, que é de esquerda
quem se empenha, clara e honestamente pela igualdade, e sem medir
esforços, para a redenção dos herdeiros da senzala. Parece-me que alguns
passos neste rumo o ex-presidente deu.
Confirma-os, e com
objetivos maiores, Dilma Rousseff ao definir o projeto de acabar com a
miséria. Inevitável, entretanto, observar que um sem-número de políticos
está a cuidar é da sua própria riqueza, e entre eles, pasmem, não
faltam os ex-comunistas do B. Orlando Silva desde os começos de sua
atuação ministerial é alvo de inúmeras denúncias de corrupção
encaminhada pelas sendas do dinheiro das ONGs, a envolverem não somente o
próprio, mas também seu partido. Era de se esperar? Desfecho
inescapável de um enredo movido a ganância acima e além de crenças e
princípios? O PCdoB já teve, entre outras razões de orgulho, a lisura e a
coerência dos seus filiados. No poder, é mais um que se porta como os
demais.
*Mino Carta é diretor
de redação de CartaCapital. Fundou as revistas Quatro Rodas, Veja e
CartaCapital. Foi diretor de Redação das revistas Senhor e IstoÉ. Criou a
Edição de Esportes do jornal O Estado de S. Paulo, criou e dirigiu o
Jornal da Tarde. redacao@cartacapital.com.br
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