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Entrevistas com o NPC
Entrevista com Vito Giannotti - Publicada em Março de 2010, na Revista do Médico, publicação do Sindicato dos Médicos de Pernambuco.

Revista do Médico - O ano é eleitoral. Os espaços na mídia continuam sendo disputadíssimos, mas, na verdade, as empresas de comunicação fazem campanhas abertas para determinado candidato. A parcialidade é uma “arma quente”.  O quê podemos esperar  até às eleições do dia 3 de outubro?

Vito Giannotti - A tradição dos jornalões, em época de eleições, pelo menos desde o golpe militar de 64 pra cá, é de se dizer neutros. Mas isso não passa de hipocrisia, mentira pura. Vamos analisar o caso das eleições de 2005, onde disputavam Alkmim e Lula. A mídia empresarial, patronal, comercial que alguns chamam de “grande mídia”, toda, em peso apoiou o candidato da sua classe: o Alkmim.  Veja, Isto é, Época, junto com todos os jornalões, Folha de SP, Estadão, O Globo, Diário de Pernambuco e Televisões e Rádios, em peso,  tinham seu candidato. Mas todos estes meios de comunicação tentaram disfarçar sua escolha. A única revista comercial brasileira que declarou ter candidato e o apoiou abertamente foi Carta Capital.

E este ano? Vai se repetir o mesmo circo. A mesma palhaçada. Os jornais patronais não assumem que têm donos. E que seus donos têm classe e interesses de classe a defender. E aí, é o reino do vale tudo. Da mídia empresarial podemos esperar qualquer trapaça. E a verdade que se dane. 

 
RM - A elite brasileira utiliza a mídia como sempre fez: instrumento de dominação para mentir, para macular a imagem do movimento sindical. De que forma podemos reagir contra a essa hegemonia?

Vito - A mídia patronal está na dela. Faz seu papel de defender sua classe. Sempre condenou e condenará todos os movimentos sociais que contestam a dominação de classe que seus donos exercem. Qualquer movimento que conteste a sociedade injusta e opressora que aí está será sempre combatido. É o que chamamos de criminalização dos movimentos sociais. Sim qualquer movimento é apresentado como um perigo, como agitação, como baderna. Tem que ser controlado, combatido, reprimido. Seja este o MST, ou o Movimento dos sem Teto, ou qualquer greve ou simples reivindicação organizada por um sindicato. A velha frase que dizia que “A questão social é caso de polícia” continua atual. E a mídia, que tem seus donos, obedece a estes. E faz de tudo para combater e destruir todo movimento que, minimamente, ameace sua dominação secular.

O que temos que fazer é, em primeiro lugar ter clareza da posição de classe dessa mídia. Não se iludir, não implorar piedade. Em segundo lugar, nós movimentos alternativos, isto é, de esquerda, que queremos outra sociedade, devemos construir nossa mídia. Construir com nossas forças e também exigir passos concretos de controle e democratização das ondas magnéticas: isto é do rádio e TV. Exigir fundos públicos para nossa mídia, linhas de financiamentos como a mídia patronal têm e a redistribuição, em outras bases, das chamadas concessões públicas de rádio e TV.


Tem três coisas a fazer. A primeira é criar nossa mídia. Investir o máximo de recursos e esforços neste campo. Se aperfeiçoar a cada dia. Se atualizar, reciclar, mas sobretudo se convencer que sem comunicação sempre perderemos a batalha da disputa de hegemonia na sociedade. Ou seja, se só a direita se comunicar com o povo através de meios de comunicação de massa, ela dominará política e culturalmente este povo. E nessa batalha, a mídia desempenha o papel de verdadeiro partido da burguesia. A mídia é o verdadeiro partido do capital.
 
A segunda é lutar pela democratização da mídia, democratização das ondas magnéticas (TV e Rádio). Hoje, as ondas do rádio são um enorme latifúndio nas mãos de alguns grupos familiares ou econômicos. É preciso fazer uma "Reforma Agrária no ar". Ou seja rever totalmente as atuais "concessões" de rádio e TV e democratizar este espaço. É preciso abrir canais de rádio e TV para os trabalhadores. Para o povo. Mas isso só se faz com milhões de manifestantes nas ruas. O resto é ilusão. Ou criamos nossas TVs e rádios, com os mesmos subsídios através da propaganda dos governos que a mídia patronal possui, ou ficaremos sempre só choramingando.
A terceira coisa é combater a cada segundo a mídia do inimigo de classe. Combater com dados, fatos verdadeiros e que sirvam a fazer avançar a dignidade do povo. Mostra como ela manipula, como mente, como deforma corações e mentes a serviço do capital.

 
RM - O  Frei  Beto certa vez disse que a mídia informa, deforma e conforma. Qual é a avaliação que o senhor faz hoje sobre a mídia?

Vito - Frei Beto tem total razão. Hoje, os valores da sociedade são passados principalmente pela mídia. Não era assim cem ou até cinquenta anos atrás. O poder da comunicação, hoje, é infinitamente superior ao que já foi. A família, que antigamente era o grande veículo de transmissão de valores, hoje perdeu muitíssimo do seu peso. É só ver quantas horas os filhos passam frente à televisão ou a um computador. Há as igrejas evangélicas, que, como um fenômeno mais recente, hoje são um fator de manutenção de valores conservadores, muito úteis para que esta sociedade continue como ela está hoje. 

Mas é a mídia a grande formadora de valores. Ou melhor, diria, com Frei Betto, de anti-valores. 

Só uma observação: em época de eleições , há um fenômeno claro.  A maioria do eleitorado vota pelo bolso. Vota em quem lhe permite ter emprego, salário e comprar o que não conseguia antes. Mesmo com toda a mídia falando o contrário, quem fala mais alto é o bolso. No caso do Brasil é evidente. Mas isso não quer dizer que o eleitor que, hoje, ao votar contra a indicação da mídia empresarial esteja mudando seus valores. Infelizmente não é assim. Este é papel da esquerda, dos partidos de esquerda: lutar para mudar os valores desta sociedade. Ou seja, combater tudo o que a mídia patronal ensina, difunde , reproduz e amplifica. 


RM - O Dicionário de Politiquês, manual prático de linguagem para ser usado todos os dias por quem deseja se comunicar com muitas pessoas. Como surgiu a ideia deste livro?

Vito - A idéia veio da observação do dia a dia. É só prestar atenção, perguntar para as pessoas com as quais convivemos, para as quais escrevemos ou falamos.  Perguntar se tal palavra ou expressão é “inteligível”. Ai você descobre que a própria pergunta  já complicou tudo. Porque não perguntar se tal palavras está clara? Se dá para entender? A simples palavrinha “inteligível” gera dificuldade de compreensão para, no mínimo, 70% das pessoas. Ou seja, para os 70% que não terminaram o segundo grau. Dessa constatação nasceu a idéia de fazer este dicionário para convencer os comunicadores a se comunicar na língua dos mortais comuns. Convencer da necessidade de aprender a traduzir tudo. Tudo pode ser traduzido.


RM - Escrever de maneira simples, objetiva,  e que as  pessoas entendam continua sendo um desafio, para quem escreve para jornais, boletins e revistas dos movimentos sociais e sindicais? Por quê?

Vito - Simples. Na Argentina fala-se espanhol. Na Índia, mais de cem línguas diferentes. Na Alemanha, alemão. Em Portugal, Angola ou Brasil fala-se português. Sim, mas há português e português. Há a língua falada e entendida pelos 80% que têm uma escolaridade básica. Algo tipo sei ou sete anos de banco de escola. A média, em nosso país é por volta de 7 anos. Com esta escolaridade, muitas palavras e expressões não são compreendidas. E há a linguagem dos 20%, ou 10% que entendem quase tudo. 
 
Se quisermos convencer milhares e milhões das nossas propostas, da nossa política, é necessário se comunicar numa língua que estes milhões entendam. Se não é um diálogo de surdos. É comum, muitos militantes devotados á causa de mudar o mundo, falar uma linguagem que os “normais” não entendem. Nós falamos economês, juridiquês, intelectualês, informatiquês, sindicalês, politiquês e por aí vai. E os “normais”... aqueles com cinco ou seis ou oito anos de escola? Como é que ficam? Este é um dos tantos problemas a ser encarado. 

Sabemos que o principal não é o problema da linguagem. O principal é a política. É a nossa proposta. Certo, mas como apresentar e ganhar milhares e milhões para nossa política, para nossa proposta? Se comunicando na língua das pessoas que queremos atingir. A idéia central do Dicionário não é ensinar a simplificar nossa linguagem, Simplificar se parece muito com rebaixar, resumir. Não é isso. Trata-se de traduzir nossas palavras. É uma arte difícil. Mas, sem isso, não há comunicação possível.

Vito Giannotti – Escritor de mais de 30 livros sobre Comunicação e História dos trabalhadores. Militante de esquerda, ativista da comunicação dos como arma para disputar a hegemonia. É coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação.


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 NPC - Núcleo Piratininga de Comunicação * Arte: Cris Fernandes * Automação: Micro P@ge