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Pesquisa aponta lacunas em cobertura jornalística sobre direitos das mulheres
Publicado em 03.10.11 - Por Adital
Abordagem sobre mulheres napolítica focada majoritariamente na disputa presidencial de 2010, violência contraas mulheres reduzida a caso de polícia e, nos dois temas, ausência de enfoqueem políticas públicas. Estas são algumas deficiências da cobertura jornalísticabrasileira identificadas pelo projeto Monitoramento da Cobertura Jornalística comoestratégia para a promoção da equidade de gênero.
Realizadopela ANDI, Instituto Patrícia Galvão e Observatório Brasil da Igualdade deGênero, o monitoramento analisou a cobertura de 16 jornais de todas as regiõesbrasileiras em 2010 – quatro deles com circulação nacional –, observando ostemas Mulheres e Política, Mulheres e Trabalho e ViolênciaContra as Mulheres.
Para Jacira Vieira, pesquisadora e diretora-executiva do Instituto Patrícia Galvão, o ano de2010 foi marcado por presença importante do tema Mulheres e Política nos veículos pesquisados. “Há uma significativaprodução midiática nos espaços de opinião, impulsionada pela candidaturaexpressiva de duas mulheres, Dilma Rousseff e Marina Silva. Então foi um anoexcepcionalmente singular, por si só justificaria o interesse jornalístico pelotema”, explica.
Apesar disso, o ponto negativo na cobertura éexatamente o enfoque quase que total nas eleições presidenciais, assuntopresente em 40,99% das 231 notícias analisadas. “Isso é desfavorável. Porque nofuturo pode ser que a gente não tenha um cenário de mulheres concorrendo, e aínão vai haver destaque jornalístico para o tema nas mulheres na política?”,questiona.
Entre as lacunas da cobertura, aponta a ausência dematérias sobre ações de estímulo à participação feminina na política. “Foi umtema quase ignorado, a imprensa garantiu apenas espaço residual”, ressalta.
De fato, apenas 4,24%das matérias trataram da Lei Eleitoral, embora a norma tenha sofrido mudançasimportantes para o estímulo das mulheres na política. Uma minirreformadeterminou que os partidos devem preencher cota de 30% de mulheres candidatas,ao invés de apenas reservar esse percentual para as mulheres. “Isso tevecobertura mínima, o tema não recebeu a devida atenção e faltou profundidade”,afirma.
Sobre a temática Violência Contra as Mulheres, a pesquisadora e editora-chefe da Agência Patrícia Galvão, Marisa Sanematsu, considera que há umacobertura importante e significativa, quando mais de 20% das 1.506 matériaspesquisadas tiveram chamadas nas capas dos veículos. “A violência doméstica éum dos temas mais abordados, visto como um crime, não mais como uma coisaprivada”, comemora.
Por outro lado, a pesquisadora enfatiza que “nãofalta quantidade, mas falta qualidade”. Isso porque as matérias têm enfoquepolicial, privilegiando abordagem individual do caso, presente em 73,78% dasnotícias analisadas. Até mesmo as chamadas nas capas têm apelo sensacionalista.
35,10%dos textos sobre violência cometida contra mulheres são publicados nas seçõesde notícias locais. Os cadernos policiais ficam com 15,70%, enquanto nosespaços opinativos estão menos de 6% das matérias, o que dá uma mostra daabordagem pouco reflexiva sobre o tema.
“A violência não é problematizada, não é vista comoalgo que tem a ver com políticas públicas e legislação. Por isso, as fontesmais ouvidas, 25,83%, são representantes policiais, delegados e delegadas. São ouvidos ainda especialistas,porém geralmente são advogados, e não estudiosos do assunto”, critica. Asociedade civil representa apenas 1,41% das fontes procuradas por jornalistas.
Marisa conclui que a cobertura é pouco crítica. 96% dos textos nãofazem referência a serviços de denúncia ou atendimento às vítimas de violência,enquanto mais de 86,67% das notícias não mencionam nenhuma das legislaçõesexistentes na área. Apenas 2,13% das notícias sobre o assunto abordarampolíticas públicas. Outro problema diz respeito à Lei Maria da Penha,muito citada, mas de conteúdo ainda pouco conhecido, segundo a pesquisadora.
“À mídia falta fazer seu papel de fiscalizador,crítico do Estado e prestar serviço, indicando locais onde as mulheres possam denunciare procurar ajuda”, assinala.
Por fim, ela espera que o estudo cumpra seu papelde “apontar os pontos positivos, mas fazer a crítica à cobertura, apontandocaminhos para que a mídia possa contribuir a esse esforço contra a violência degênero”, arremata.
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