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Entidades manifestam apoio à decisão do Conselho da EBC sobre programas religiosos
Publicado em 29.09.11 - Por Wellington Costa, do Observatório do Direito à Comunicação
O Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação de comunicação recebeu nesta terça-feira uma nota assinada por dezenas de entidades manifestando apoio a decisão de retirar da grade de programação da TV Brasil e suas emissoras de rádio os cultos religiosos. O documento cobra um posicionamento do organismo sobre a liminar concedida pela Justiça Federal à Arquidiocese do Rio que pedia a reintegração das produções.
A nota reafirma o posicionamento do colegiado que no inicio do ano indicou a substituição de tais programas por um que abordasse o fenômeno da religiosidade no Brasil e garantisse a participação a todas as confissões religiosas existentes no país, pois para que todos tenham liberdade de culto, as emissoras de rádio e televisão não podem estar a serviço de culto nenhum. O Conselho defende também, em seu parecer, o caráter republicano laico da EBC.
Os argumentos apresentados pela Arquidiocese do Rio são de que tal decisão configura uma discriminação religiosa e defende que uma empresa pública de telecomunicações deve abrir suas portas a todas as religiões, especialmente àquelas que têm grande representatividade na sociedade.
A decisão do juiz federal vale por tempo indeterminado. Aos sábados, é transmitido um culto da Igreja Batista e, no domingo pela manhã, a Santa Missa e o programa ‘Palavras de Vida’, ambos da Igreja Católica.
Confira a íntegra e os signatários da nota que também será encaminhado aos senadores que participarão na próxima quinta-feira (29) de audiência pública que debaterá o tema.
Nota ao Conselho Curador da EBC sobre a veiculação de missas e cultos nas emissoras da Empresa Brasil de Comunicação
* "Senhoras e senhores Conselheiros,
Foi com indignação que nós, organizações da sociedade civil, movimentos populares, cidadãos e cidadãs que defendem a importância da comunicação pública em nosso país recebemos a notícia de que a Justiça Federal, liminarmente, anulou a decisão deste Conselho e determinou a continuidade da exibição de missas e cultos na TV Brasil e nas emissoras de rádio da EBC.
No início do ano, celebramos o parecer da Câmara de Educação, Cultura, Ciência e Meio Ambiente do Conselho Curador, que indicou a substituição de tais programas por um programa sobre o fenômeno da religiosidade no Brasil, de um ponto de vista plural, assegurada a participação a todas as confissões religiosas. Entendemos, assim, que a argumentação da Arquidiocese do Rio de Janeiro, que moveu a ação contra a EBC que levou à referida decisão da 15ª Vara Federal do Distrito Federal, não se sustenta. Segundo a Arquidiocese, a interrupção na transmissão dos atuais programas religiosos seria um ato de "discriminação religiosa".
É exatamente o contrário. A continuidade da transmissão de missas e cultos de um número muito limitado de religiões, se comparado à diversidade religiosa do Brasil, é que representará um ato de discriminação religiosa em relação às demais crenças praticadas no país e um privilégio que não se justifica, sobretudo em emissoras públicas de comunicação. Ou seja, para que todos tenham liberdade de culto, as emissoras de rádio e televisão não podem estar a serviço de culto nenhum.
Entendemos a religiosidade como uma dimensão importante da sociedade brasileira e como uma manifestação da cultura do nosso povo. Mas a comunicação precisa respeitar o princípio da pluralidade. Portanto, programas que abordem a questão religiosa – sem fazer proselitismo religioso – devem seguir este princípio, de forma que nenhuma religião se sobreponha a outra, independentemente do quantitativo de seguidores que cada uma possui. Somente assim haverá, nos meios de comunicação de massa, um ambiente plural e democrático, que respeite a diversidade religiosa no Brasil e considere, inclusive, a parcela da população brasileira que não pratica crença alguma. Este é um Estado laico e este princípio constitucional também deve ser respeitado.
Importante frisar ainda que não cabe à Justiça Federal impor à EBC a veiculação permanente de programas em suas emissoras. Isso interfere na programação das mesmas e fere a liberdade de imprensa.
Desta forma, solicitamos a este Conselho Curador que se manifeste no sentido de instar a direção da Empresa Brasil de Comunicação a recorrer da decisão liminar proferida, além de envidar todos os esforços para garantir que, no julgamento de mérito da ação, a posição do Conselho Curador, de interrupção dos atuais cultos e missas e veiculação de um novo programa, de caráter informativo e cultural sobre as religiões, seja vitoriosa na Justiça.
Reforçamos, por fim, a importância da direção da EBC cumprir a resolução deste Conselho Curador e iniciar o quanto antes a produção e veiculação deste novo programa, em respeito à diversidade cultural do povo brasileiro e ao papel que cabe a uma empresa pública de comunicação.
Brasília, 27 de setembro de 2011.
Associação Cidadania e Saúde/SP Associação de Mulheres Acotirene/SP Associação de Mulheres Negras Nzinga Mbandi/SP Associação Ilê Mulher/RS Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé Ciranda Internacional de Comunicação Compartilhada Coletivo Feminino Plural/RS COMULHER – Comunicação Mulher FENDH – Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos Fórum Nacional de Mulheres Negras Grupo Cactos, Gênero e Cidadania/PE Grupo Curumim/PE INESC – Instituto de Estudos Socioeconômicos Instituto Patrícia Galvão – Mídia e Direitos Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social MSP Brasil – Movimento Saúde dos Povos Círculo Brasil Observatório da Mídia: direitos humanos, políticas e sistemas – Universidade Federal do Espírito Santo Observatório da Mulher Plataforma Dhesca Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos Rede Mulher e Mídia Anelino J. Resende Joana D`Arc de Moraes Santana - cantora lírica Paulo Roberto Ferreira Prof. Dr. Edgard Rebouças - Professor de Legislação e Ética na Comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo Sulamita Esteliam – Jornalista, escritora e blogueira Federico Vázquez – Produtor Digital - Tuxáua 2010 - Cultura"
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