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Crimes de pobres como espetáculo

Publicado em 27.09.11 – Por: José Cristian Góes*

Na última semana um crime bárbaro ocorrido em Alagoas e descoberto em Sergipe ganhou as principais manchetes nos programas de emissoras de rádio e TV, e nas primeiras páginas de sites e jornais. Dois dias de repercussão com muito falatório e entrevistas. Um morador de rua teria matado a ex-companheira, também moradora da rua, e cometido canibalismo. Mas veja como quase toda imprensa titulou o fato: Homem mata mulher, tira o coração, frita e vai para o bar comer como tira-gosto. Um caso exemplar e repugnante de uma sociedade do espetáculo que se alimenta da barbárie dos mais pobres e que produz algumas reflexões.

No Capitalismo, a cultura desenfreada do consumo, onde o ter anula o ser, a vida do ser humano apenas é objeto descartável. A vida humana só tem valor enquanto a pessoa estiver agregada as suas propriedades e/ou ser tão somente instrumento para outros possam acumular mais capital, assim tem serventia. Caso contrário, a vida dos mais pobres, dos desempregados, dos moradores de rua, dos miseráveis, dos improdutivos para o mercado nada vale e deve ser eliminada. A existência de excluídos atrasa o progresso, a modernidade, suja a cidade, ameaça o patrimônio. Por isso, os assassinatos dessa massa de desvalidos são normais e naturais, justificáveis para as altas classes que dormem em paz, aliviadas com o silêncio dos cemitérios dessa gente perigosa.

Mas não basta eliminar. Numa sociedade do espetáculo como a nossa, a morte de pobres e miseráveis precisa estar a serviço do show, da diversão, da audiência. Assim como em Roma, onde cristãos eram jogados nas arenas para que fossem mortos em lutas desiguais ou devorados aos poucos por leões famintos, aqui a mídia faz esse papel na grande arena da imprensa, para o deleite e gozo de muitos. Não basta matar, tirar a vida, registrar o fato, mas é preciso contar os detalhes, apimentar as falas, produzir a cena do horror. Claro, tudo isso apenas com miseráveis. São eles os atores principais nas páginas e programas policiais. Na sociedade do espetáculo, que é esta, a de classes, homens de bens estão imunes às notícias violentas e muito menos à divulgação dos detalhes pela polícia e mídia. O ter o poder os protegem.

Outro aspecto que chama atenção nesse fato é a pedagogia do horror, desenvolvida pela mídia. Ela consiste em educar para banalização anestesiante dos fatos violentos, ampliando e garantido a distância entre as classes. Afinal, no Capitalismo, pobreza é sinônimo de criminalidade, do mal, e a riqueza do bem, ou melhor, dos bens. Assim, execuções de pobres pela polícia, de assassinatos por conta das drogas, porque eram suspeitos de furtos não mais provocam impacto. A morte dos pobres está banalizada, crimes se diluem nas estatísticas oficiais. Nos jornais e programações de rádio e TV essas mortes são meras leituras. Por isso, quando surgem fatos como esse, o sistema pedagógico do horror é alimentado. Vira espetáculo. Todo mundo quer ver, ouvir, participar. E como lidar com crianças e adolescente, em formação humana constante, diante de fatos como esse? Qual a contribuição da mídia, que assume papel docente, ao esmiuçar crimes como um show de atrocidades? Que ser humano se transformar aquela criança submetida a essa formação pedagógica de horror permanentemente? Qual sua relação com a vida, o respeito, a dignidade?

Nunca é demais chamar atenção de que ainda existe um código de ética da atividade jornalística, apesar de tão atacada e agredida nos últimos anos pelo capital e pelo Estado, que afirma que é dever do jornalista opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e a opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos do Homem. O jornalista não deve divulgar fatos de caráter mórbido e contrários aos valores humanos. Além disso, a própria Constituição Federal obriga que as empresas de Comunicação Social, especialmente as emissoras de rádio e TV, tenham programação com finalidade educativa, artística, cultural e informativa, além de respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família. Onde se encaixam aqui as várias reportagens com títulos como: Homem mata mulher, tira o coração, frita e vai para o bar comer como tira-gosto?

* É jornalista em Aracaju/SE
Twitter @cristiangoes



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 NPC - Núcleo Piratininga de Comunicação * Arte: Cris Fernandes * Automação: Micro P@ge