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No Rio, militante é ameaçada após denúncias contra policiais

Publicado em 22.09.11 - Por Claudio Leal, do Terra Magazine

Ativista da Rede contra a Violência do Estado do Rio de Janeiro, Márcia Honorato relatou à secretaria estadual de Direitos Humanos as ocorrências de ameaças de morte e de um atentado frustrado no centro da capital, depois de ter feito denúncias contra a violência policial em morros cariocas.
Na terça-feira (13/09), na Cinelândia, um Siena cinza foi jogado contra a militante, que a princípio imaginou que se tratava de uma manobra irresponsável. Mais tarde, ao parar numa barraca de cachorro-quente, por volta das 21h, os ocupantes do mesmo carro passaram a observá-la. Márcia notou que o grupo havia conversado com policiais. Ao retomar a caminhada, sofreu uma nova tentativa de atropelamento do Siena.

Nervosa com os arrancos do automóvel, ela correu para um bar e se trancou no banheiro. O vidro do Siena foi aberto, segundo relata, e surgiram homens encapuzados.

- Os caras ficaram atordoados (no bar). "Nossa, vai morrer todo mundo..." O cara ainda me perguntou: "A senhora viu? Deve ser algum acerto de contas". Eu falei: "Não vi nada, não." Eu não ia falar: "eu vi". Não olhei pra trás, não fiz mais nada, fui embora - diz Márcia Honorato, em entrevista a Terra Magazine.

Em 2008, a Anistia Internacional recomendou a proteção da militante, que denuncia a ação de grupos de extermínio desde a "Chacina da Baixada", quando 29 pessoas foram assassinadas em Queimados e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Ela já integra o Programa Nacional de Proteção dos Defensores de Direitos Humanos e, agora, passará a contar com uma escolta. Após as últimas ameaças, Márcia foi deslocada para um lugar seguro. Ela critica o imobilismo do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), diante das denúncias contra grupos de extermínio.

- Denunciamos, o tempo todo, policial militar com nome e sobrenome. O tempo todo. Não podem dizer: "Não sabia que poderia acontecer isso com eles". Claro que sabia. Qualquer pessoa saberia, qualquer pessoa sabe que isso poderia acontecer com a gente, sim. Eles são obrigados, sim, a acolher nossa denúncia. Ou o Brasil sai da página dos signatários da Declaração dos Direitos Humanos, onde está que todos têm direito à vida.

Confira o depoimento de Márcia Honorato.

Terra Magazine - Como ocorreram as ameaças?
Márcia Honorato - Não foi a primeira vez que isso aconteceu, não. Em 2005, denunciei a "Chacina da Baixada". Em 2007, fui ameaçada. Aliás, até na delegacia, quando eu fui prestar queixa, não consegui prestar. Meus algozes tinham nome e sobrenome. Denunciados com nome e sobrenome, várias vezes, e nada foi feito. Dessa vez, quase a mesma coisa. Eu fiz vários trabalhos em comunidades, envolvendo pessoas assassinadas por policiais militares. Não se pode dizer se foi tal comunidade ou tal comunidade. Temos dois últimos trabalhos, que podem ter ou não (motivado). Na verdade, aconteceu essa tentativa. Mas eu não tenho o nome da pessoa.

A senhora disse que, em 2007, tentou prestar queixa na delegacia, e não conseguiu. Desta vez, como relatou a ameaça de morte?
Eu fiz um trabalho no Pavão-Pavãozinho, uma comunidade aqui no Rio, onde tem UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), e no morro da Coroa. Em um (morro) o policial cometeu execução sumária - o que eles (da polícia) chamam de "auto de resistência". E o outro foi um sequestro no morro da Coroa. Postei até um vídeo no meu Facebook. E aí, depois disso, passado um tempo, comecei a receber um monte de ligação. Depois, uma ameaça mais clara.

Uma perseguição?
Na última terça (13 de setembro).

Como foi?
Estava atravessando a rua, meio desligada, e o carro jogou em cima de mim. Depois, parei pra comer cachorro-quente, na Cinelândia. Isso tudo no mesmo lugar. Aí o carro veio, parou, conversou com um grupo de policiais, e foi embora.

Na mesma rua?
Foi. Mas não dei muita confiança. Passou, foi embora. Quando cheguei lá no Campo de Santana, perto da Central, esse mesmo carro jogou em cima de mim de novo. Aí eu me liguei, porque o sinal estava fechado e estava vindo uma ambulância pedindo passagem. Quando ele jogou o carro em cima de mim, eu me joguei em cima da ambulância. Passei correndo e entrei no banheiro do bar. O carro foi, voltou, o cara baixou o vidro e tinham cinco pessoas encapuzadas. Acredito que cinco pessoas encapuzadas dentro do carro, nove horas da noite... Os caras ficaram atordoados (no bar). "Nossa, vai morrer todo mundo..." O cara ainda me perguntou: "A senhora viu? Deve ser algum acerto de contas". Eu falei: "Não vi nada, não." Eu não ia falar: "eu vi". Não olhei pra trás, não fiz mais nada, fui embora.

A Anistia Internacional já pediu que a senhora fosse protegida?
Já. Em 2008.

Quais são os próximos passos? Quais organizações serão procuradas?
A Secretaria de Direitos Humanos já assumiu a responsabilidade, me retirou de casa e me botou em outro lugar. Já estou num lugar tipo um programa de proteção, aguardando o que vai ser feito. Vão pedir uma escolta para mim, porque tenho direito a escolta. Nunca usei, mas tenho direito. Sou do Programa Nacional de Proteção dos Defensores de Direitos Humanos. Tenho direito a escolta desde 2008. O próprio secretário vai fazer o encaminhamento dessa denúncia.

Por óbvio, a senhora nem procurou uma delegacia, correto?
Não, porque eu já tinha conversado com o Ministério Público, que me conhece desde 2005. Soube de tudo. Sempre quando tem coisas assim, converso com o Ministério Público. Somos tão minados aqui no Rio de Janeiro que, quando vamos conversar, o Ministério Público pede pra todo mundo sair. Ficam uma secretária e um assessor jurídico. Não permitem que a gente deponha na frente de ninguém, porque não confiam nas outras pessoas. Aqui, a coisa é triste.

A senhora faz uma trabalho importante de denúncias contra grupos de extermínio. O que pensa dessa perseguição que vem sofrendo?
É importante para você e para aquelas famílias das comunidades. Já recebi ligações dessas pessoas: "Márcia, você pode contar comigo!". Chuvas de telefonemas. Para essas pessoas, isso é importante. Mas, para o governo do Estado, isso não tem nada de importante. Não vou dizer: "Ah, porque o governador sabe...". Mas que ele sabe que nós estamos denunciando, ele sabe. Porque é fato público, nós temos uma página pública (http://www.redecontraviolencia.org/). Denunciamos, o tempo todo, policial militar com nome e sobrenome. O tempo todo. Não podem dizer: "Não sabia que poderia acontecer isso com eles". Claro que sabia. Qualquer pessoa saberia, qualquer pessoa sabe que isso poderia acontecer com a gente, sim. Eles são obrigados, sim, a acolher nossa denúncia. Ou o Brasil sai da página dos signatários da Declaração dos Direitos Humanos, onde está que todos têm direito à vida. E todos são iguais perante as leis. Não são iguais, não têm direito à vida.



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 NPC - Núcleo Piratininga de Comunicação * Arte: Cris Fernandes * Automação: Micro P@ge