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Banda larga: Ato reúne dezenas de entidades e aprova manifesto e plano de ações
Publicado em 17.08.11 – Por Campanha Banda Larga é um Direito Seu
Mais de cem pessoas estiveram nesta segunda (15/08) à noite no Sindicato dos Engenheiros, em São Paulo, para o ato da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) e da campanha Banda Larga é um direito seu! O ato reuniu representantes de dezenas de entidades do movimento social e da sociedade civil organizada, além dos deputados federais Luiza Erundina (PSB-SP) e Ivan Valente (PSOL-SP), e de representante do deputado Newton Lima (PT-SP).
O ato aprovou um manifesto (ver abaixo), com reivindicações para o Ministério das Comunicações, e um plano de ações, que será divulgado ainda esta semana.
Entre as entidades participantes estiveram: Central Única dos Trabalhadores (CUT), União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Associação das Rádios Públicas do Brasil (Arpub), Sindicato dos Jornalistas, Sindicato dos Radialistas, Federação dos Radialistas (Fitert), Sindicato dos Bancários, Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Artigo 19, Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), Centro de Estudos da Mídia Independente Barão de Itararé, Ciranda, Viração, Coletivo Digital e Intervozes.
Veja o manifesto:
O PNBL e a urgência de retomar um projeto estratégico para as comunicações
No final de junho, o Governo
Federal fechou um acordo com as empresas de telecomunicações para garantir
banda larga de 1 Mbps a R$ 35 em todos os municípios do país até o fim de 2014.
À primeira vista, a medida soou como um avanço. Especialmente na região Norte e
em áreas mais distantes dos grandes centros urbanos, é a primeira vez em que o
serviço será oferecido a um preço razoavelmente acessível.
Contudo, o acordo tem vários
problemas e revela a ausência de uma política de longo prazo para o setor das
comunicações. Revela também uma concepção política que renega o papel
estratégico do Estado e o interesse nacional em prol dos monopólios privados.
Não há como garantir o direito de todos os cidadãos a uma internet barata e de
qualidade sem ações efetivas do Estado na regulação e na prestação do serviço.
Afora essa dimensão política geral, o acordo evidencia outros problemas de
várias ordens:
- O pacote definido no termo de compromisso é limitado e
diferenciado, cheio de restrições escritas em letras miúdas, e está longe
de garantir a universalização do serviço. Os termos de compromisso
assinados foram moldados a partir da disposição das empresas – como
consequência, são bons para as teles e completamente insuficientes para os
usuários. O termo cria um pacote popular com franquia de download (isto é,
limite de uso da internet), promove venda casada com a telefonia fixa e
não garante o serviço para todos os cidadãos – ele pode ficar restrito às
áreas mais rentáveis dos municípios. Além disso, o instrumento jurídico de
termo de compromisso é bastante precário e expressa a dificuldade do
governo em impor metas mantendo a prestação do serviço em regime privado.
É inadmissível, por exemplo, que se possibilite que as sanções em caso de
não cumprimento das metas sejam transformadas em investimentos nas redes
privadas.
- A velocidade estabelecida está fora do que já hoje é
considerado banda larga. Se considerado que o valor vai ser alcançado só
em 2014, ainda pior. Apenas para se ter uma ideia, o Plano Nacional de
Banda Larga dos EUA prevê universalização da internet com 75% da população
tendo velocidade de 100 Mbps em 2020, e velocidade mínima de 4 Mbps. O
plano brasileiro propõe a oferta em larga escala de serviços de 5 Mbps em
2015, mas não estabelece nenhuma obrigação nem dá qualquer garantia de que
isso vá de fato ocorrer;
- Embora o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL)
englobe várias outras ações de políticas públicas, este acordo condiciona
as políticas de longo prazo e todas as outras ações a serem tocadas no
âmbito do plano. Concretamente, ele deixa pouco espaço para se avançar
além do que foi acertado com as operadoras agora, sem estabelecer como
meta a universalização do serviço, sem garantir controle de tarifas e
deixando na mão das empresas as redes construídas a partir de recursos
provenientes do serviço público de telefonia fixa;
- A questão das redes é justamente um dos problemas
sérios da ausência de políticas de longo prazo. Na prática, os recursos
para o cumprimento das metas do PNBL virão da cobrança da assinatura
básica da telefonia fixa. Isso significa que um serviço prestado em regime
público, cujos investimentos deveriam resultar em bens públicos (a serem
devolvidos à União ao final do período de concessão), ajudará a financiar
redes privadas, sobre as quais pesam poucas obrigações de serviço público;
- A Telebrás, que poderia ter um papel de forçar as
empresas de telecomunicações a se mexer, investir em infraestrutura e
baixar seus preços, está cada vez mais se transformando em estrutura de
apoio para as próprias teles. O problema maior, neste momento, não é nem a
empresa deixar de prestar serviço ao usuário final, mas sim o fato de ela
ter perdido boa parte dos recursos e deixado de ter o papel de tirar as
empresas privadas de sua ‘zona de conforto’, com uma política agressiva de
provocar competição por meio de acordos com pequenos provedores locais;
- O serviço de banda larga tem hoje problemas graves para
o consumidor, e essa expansão está sendo pensada sem resolver esses
problemas nem garantir parâmetros mínimos de qualidade. Estão previstas
resoluções da Anatel sobre isso até 31 de outubro, mas é preciso
pressionar para que elas de fato garantam o interesse público e sejam
efetivas;
- A Anatel, que deveria ter o papel de defender o
interesse do usuário, não tem atuado desta forma. A agência assume que não
tem controlado a venda de bens reversíveis (bens que estão na mão das
concessionárias mas são essenciais à prestação de serviços e não poderiam
ser negociados sem autorização), estabeleceu um Plano Geral de Metas de
Universalização para a telefonia fixa que não cria nenhuma nova obrigação
para as empresas e não tem sido capaz de garantir a expansão do serviço
para as áreas rurais;
Frente a esses fatos,
movimentos sociais reunidos na CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais) e as
organizações participantes da campanha Banda Larga é um direito seu!
manifestam sua preocupação com os rumos do PNBL e apresentam as seguintes
reivindicações:
- Que o Governo Federal construa uma política estratégica
de médio e longo prazo para o setor das telecomunicações, a partir da
definição da banda larga como serviço prestado em regime público, de forma
a garantir a expansão constante das redes e a universalização progressiva
do serviço, na linha das propostas aprovadas na I Conferência Nacional de
Comunicação. A definição de regime público não significa que deve ser
apenas prestado pelo Estado, mas que podem ser exigidas das empresas
privadas metas de universalização, controle de tarifas, garantias de
qualidade e continuidade do serviço e gestão pública das redes;
- Que o Governo Federal garanta recursos e volte a
investir na Telebrás como instrumento de políticas públicas e regulação
econômica do setor, como promotora de franca competição e atendimento às
necessidades das diversas localidades em que a empresa tem condições de
atuar;
- Que o Governo Federal e a Anatel garantam a
universalização dos serviços de internet na área rural com oferta adequada
e barata em todo o país;
- Que a Anatel aprove regulamentos de qualidade e metas
de competição que imponham obrigações que garantam de fato o interesse
público, em condições proporcionais às capacidades técnica e financeira de
cada empresa;
- Que o Governo Federal incorpore o tema da banda larga
ao debate sobre um novo marco regulatório para o setor das comunicações,
tratando-os de forma combinada, por meio da revisão da Lei Geral das
Telecomunicações e da definição de uma política que garanta o caráter
público das redes;
- Que o Governo Federal retome o diálogo com as entidades
do campo popular para pensar um projeto estratégico para as comunicações e
discutir as políticas públicas para o setor.
Como um serviço essencial à
realização de direitos, a internet deve ser tratada como um serviço público. A
limitação em seu acesso enfraquece a democracia e pode ser um entrave ao
desenvolvimento econômico. Assim, o compromisso da CMS e da campanha Banda
Larga é um direito seu! é com a defesa da banda larga barata, de qualidade
e para todos. A avaliação sobre o quadro atual das políticas para banda larga
deve ser feita com base nesses parâmetros. Ainda que não se possa, nem se
queira, ignorar os avanços em relação à ausência de políticas que imperava até
2009, não se podem excluir dessa avaliação as críticas devidas, nem se
contentar com avanços absolutamente limitados, condicionados pelas teles e
descolados de uma política estratégica de longo prazo.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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