Escrevi um longo texto argumentando porque considerava uma provocação ridícula e descabida a aprovação pela Câmara Municipal de São Paulo do projeto de lei 294/2005, que institui o Dia do Orgulho Heterossexual. A proposta do vereador Carlos Apolinário (DEM), que depende agora da sanção do prefeito Gilberto Kassab, é claramente uma reação à crescente importância da Parada Gay e seus milhões, mas também ao debate sobre a garantia dos direitos fundamentais dos homossexuais – cada vez mais público, não graças a Deus. A data seria no terceiro domingo de dezembro, perto do Natal.
No texto que havia escrito para hoje, tratei do perigo representado por uma maioria (com direitos assegurados) que começa a se manifestar de forma organizada diante da luta de uma minoria por seus direitos, reivindicando dessa forma a manutenção do espaço que já é seu – conquistado por violência, a ferro, a fogo e na base da Inquisição. Mesmo que a conquista de direitos pela minoria não signifique redução de direitos da maioria mas, apenas, necessidade de mais tolerância por parte desta. Lembrando que “maioria” e “minoria” não são uma questão numérica, mas sim de quanto um grupo consegue efetivar sua cidadania.
Mas, aí, desencanei e joguei o texto fora quando li que, de acordo com o projeto, a data servirá para “conscientizar e estimular a população a resguardar a moral e os bons costumes”.
Diante disso, só há algo a dizer: que vergonha de ser hétero.