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Corpo encontrado no Rio Botas, e identificado como sendo de uma menina, é o de Juan

Publicada em 07.07.11 – Por Emanuel Alencar, do Globo Online

RIO - O corpo encontrado na semana passada, no Rio Botas, em Nova Iguaçu, e que a polícia informou ser de uma menina, era na verdade do garoto Juan de Moraes, de 11 anos, que estava desaparecido desde o último dia 20. Segundo o diretor do Departamento de Polícia Técnica e Científica, Sergio Henriques, não há "sombra de dúvida" de que se trata do menino. Foram feitos dois testes de DNA que comprovaram a identidade. Ele disse que vai ser aberta uma sindicância para apurar o laudo, dado por uma perita, que havia indicado que o corpo era de uma menina com base em um exame preliminar da ossada.

- Houve uma precipitação da perita. No momento em que ela assina, é a responsável pela informação. Pelos resultados dos dois testes de DNA, podemos afirmar que não há a menor sombra de dúvida que se (o corpo) se trata do menino Juan - afirmou Henriques.

Em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira, a chefe de Polícia, Martha Rocha, anunciou que o delegado titular da 56ª DP (Comendador Soares) foi afastado, e um novo policial será nomeado nos próximos dias para o posto. A polícia informou ainda que o chinelo encontrado por peritos no beco em que Juan foi atingido - assim como seu irmão, Weslley, e de Wanderson de Assis, de 19 anos -, tinha vestígios de DNA do garoto.

Diversas manchas de sangue no beco
Nesta sexta-feira, às 10h, será feita feita a reconstituição da ação policial na comunidade Danon, em Nova Iguaçu, com testemunhas e PMs envolvidos no caso. Responsável pela investigação, o delegado titular da Delegacia de Homicídios (DH) da Baixada Fluminense, Ricardo Barboza de Sousa, afirmou que os dados do GPS da viatura do 20º BPM (Mesquita), que estive na comunidade Danon no dia 20, já foram analisados.

- Colhemos muitas provas e outras ainda estão sendo levantadas. Temos provas testemunhais de que o menino foi atingido no beco e laudo policial indicando que a sandália encontrada no local tinha fragmentos genéticos de Juan Moraes. Ontem fiquei mais de 15 horas ouvido os policiais. Temos que esclarecer diversos pontos.

Juan teria sido atingido no pescoço
O diretor do Departamento de Polícia Técnica e Científica acrescentou que foram encontradas "várias manchas" no local do crime:

- Agora temos a prova técnica que coloca o menino Juan na cena do fato, comprovando o que as testemunhas disseram - disse Henriques. - A informação é de que ele teria sido atingido no pescoço. Mas sem a presença de qualquer tipo de fratura na ossada é muito dificil apontar as lesões. Em várias partes do local foram coletadas manchas de sangue.

A Assessoria de Imprensa da Polícia Militar informou, que o coordenador de Comunicação Social, coronel Íbis Silva Pereira, e o corregedor-interno, coronel Ronaldo Menezes, vão prestar esclarecimentos quanto à situação dos quatro policiais militares alvos da investigação da Polícia Civil na tarde desta quarta-feira.

Na sexta-feira, será realizada uma reconstituição do crime às 10h na Favela Danon, em Nova Iguaçu, onde o menino foi baleado.

Um adolescente suspeito de envolvimento com o tráfico, morto durante o suposto tiroteio com policiais do 20º BPM (Mesquita) - que resultou no sumiço do menino Juan Moraes, na Favela do Danon, em Nova Iguaçu -, foi o 37º auto de resistência (mortes de suspeitos em confronto com a polícia) com a participação dos mesmos PMs, nos últimos 11 anos. Todos os casos ocorreram na Baixada Fluminense.

O recordista de autos de resistência é o sargento Isaías Souza do Carmo, de 48 anos: desde 2000, ele teve o nome envolvido em pelo menos 18 registros (sem contar o caso de Juan, de 11 anos). O primeiro caso foi registrado na 54ª DP (Belford Roxo), em 13 de julho de 2000. O mais recente foi em 23 de novembro passado. Dos 18, pelo menos três ainda não foram arquivados pela Justiça estão em fase de inquérito: um na 56ª DP e dois na 57ª DP (Nilópolis).

O segundo no ranking é o cabo Edilberto Barros do Nascimento, de 43 anos, com 13 autos. O primeiro, na área da 54ª DP, é de 1 de outubro de 2002. O mais recente, na 56ª DP, é de 29 de setembro de 2008.

Depoimento de policiais dura cerca de treze horas
O cabo Rubens da Silva, de 33 anos, já se envolveu em pelo menos quatro autos, todos registrados na 56ª DP, em 2010: 8 de abril, 14 de setembro, 10 de outubro e 23 de outubro. O sargento Ubirani Soares, de 44, tem um auto de resistência, ocorrido em 2007 e registrado na 54ª DP.

Na terça-feira, policiais do 20º BPM que não quiseram se identificar informaram que estariam trabalhando sem fuzis. As armas teriam sido encaminhadas para a perícia do Instituto de Criminalísticas Carlos Éboli. Segundo a assessoria da Polícia Militar, somente as armas dos PMs que atuaram no confronto na Favela do Danon foram para a perícia.

Durante cerca de treze horas, 11 policiais militares do 20º BPM prestaram depoimento na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), em Belford Roxo. O delegado titular, Ricardo Barbosa de Souza, intimou PMs que estiveram a até dois quilômetros de distância do confronto em Nova Iguaçu, na noite de 20 de junho.

Após os depoimentos, que terminaram por volta das 2h da manhã desta quarta-feira, os 11 PMs e o delegado Ricardo Barbosa de Souza deixaram a DHBF sem falar com a imprensa.

Os dados dos GPSs das cinco viaturas envolvidas permitiram identificar os PMs que atuaram naquela noite. Na terça-feira, pelo menos três PMs que prestaram depoimento teriam saído pelos fundos da delegacia para despistar a imprensa. O delegado não comentou os depoimentos.

Na segunda-feira, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e a Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos asseguraram a inclusão imediata, em caráter emergencial, de Wanderson dos Santos de Assis, de 19 anos, no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (Provita). A família de Wanderson - baleado durante a operação policial na comunidade Danon, em Nova Iguaçu, no dia 20 de junho - já havia ingressado no mesmo programa. Já os parentes de Juan estão no Programa de Proteção à Criança e ao Adolescente Ameaçado de Morte (PPCAM). O irmão mais velho de Juan, Wesley de Moraes, também foi baleado na mesma operação. A inclusão de Wanderson no Provita foi adotada por causa da possibilidade de ele, que estava internado no Hospital Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, sofrer alguma represália por ter testemunhado a ação policial.
- Meu outro filho, Francisco, ainda não resolveu se vai conosco, mas eu e a mãe do Wanderson vamos acompanhá-lo. É um momento difícil e de muita confusão em nossas vidas... Não sei o que virá pela frente - desabafou bastante emocionado o pai de Wanderson, José Antônio de Assis, que trabalha limpando piscinas.

O patrão de Wanderson, Jammil Suad Seoud, lamenta que no dia da tragédia o rapaz estivesse trabalhando até tarde para substituir um colega. Seu único motivo de ir à Danon naquela noite era o encontro com uma garota.

- O Wanderson era paquerador. Tinha uma namoradinha aqui, outra ali. Um menino engraçado, querido por todos - resume Jammil, dono da loja de doces FJA Imperial: - Ele sempre foi disposto, interessado e responsável. Entrou aqui através de um teste, após deixar o currículo. Já disse ao pai dele que estava à disposição da família. Vou conversar com advogados para definir qual deve ser a minha conduta como empregador.

Com medo de represálias, a família de Juan também decidiu deixar o lugar onde sempre viveu, em Nova Iguaçu. Desde quarta-feira, eles estão num lugar mantido sob sigilo. Um tio de Juan, que morava com a família nos fundos do terreno, resolveu abandonar na quinta-feira o lugar onde nasceu e se criou. Com a mulher e o filho de 2 meses, partiu para outra cidade. O pai de Juan, o eletricista Alexandre Neves, de 36 anos, também deixou a Baixada, apesar de não ter aceitado entrar no programa de proteção com a ex-mulher.

Na manhã de segunda, oficiais do 20º BPM (Mesquita) se reuniram para definir os novos rumos da busca pelo menino Juan. De acordo com assessoria de imprensa da PM, ficou decidido que na segunda-feira não seriam feitas buscas. O chão molhado, em função das chuvas que caíram sobre a região, atrapalha o trabalho dos cães farejadores. A PM informou, no entanto, que a operação será retomada assim que houver condições. Segundo o comandante do 20º BPM (Mesquita), tenente-coronel Sérgio Mendes, não há nenhuma nova denúncia sobre o menino.


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