No mesmo dia em que no Congresso Nacional se votava um Código de
Desmatamento em substituição ao Código Florestal, em Nova Ipixuna no
Pará um casal de assentados era brutalmente assassinado justamente por
lutar contra o desmatamento. Dois dias depois, em Vista Alegre do Abunã
em Rondônia, outro líder camponês era assassinado por seu envolvimento
na luta contra o desmatamento na Amazônia.
Dias antes o INPE havia dado o alerta com dados alarmantes sobre a
retomada acelerada do desmatamento na Amazônia, particularmente no
estado que se apresenta como a menina dos olhos do modelo agrário com
base nos latifúndios empresariais com seus monocultivos de exportação, o
Mato Grosso. Ainda na mesma semana notícias com estatísticas oficiais
davam conta da queda da participação do setor industrial no PIB
brasileiro e da reprimarização da nossa pauta de exportação que vem se
delineando desde 2003.
Dez dias antes, em 18 de maio, no bairro de Nova Esperança, no
município de Aracruz no Espírito Santo, cerca de 1.600 moradores foram
violentamente expulsas por forças policiais das casas que recém haviam
construído no último ano e meio, sem que tivessem recebido sequer uma
ordem formal de desocupação. No Rio de Janeiro, o BOPE – Batalhão de
Operações Especiais – que, diga-se de passagem, tem 100% de suas ações
em periferias e favelas, anunciava uma favela-modelo para treinamento de
seus policiais indicando que em algum sentido os mais oprimidos e
explorados continuarão sendo objeto de políticas especiais. Enquanto
isso, na mesma cidade, populações empobrecidas vem sendo desalojadas
sistematicamente para dar lugar às obras do PAC que preparam a cidade
para as Olimpíadas e para a Copa do Mundo e no Complexo da Maré e no
Jacarezinho a ocupação por forças policiais causou a morte de inocentes e
de suspeitos não submetidos a julgamento, inclusive de estudantes no
ambiente de suas escolas.
Na mesma semana, a mesma imprensa dava conta de uma ação preventiva
da Polícia Militar no Porto de Açu no município de Campos, onde o
empresário Eike Batista está construindo um porto para exportar minérios
que, segundo consta, tem o trajeto da estrada passando pelo
Assentamento Zumbi, sob o silêncio cúmplice do INCRA. A não menos de
dois meses atrás, finalmente os trabalhadores de várias as obras do PAC
foram objeto de notícia ao paralisarem as principais obras do PAC,
sobretudo das hidrelétricas de Jirau, Santo Antonio (RO), São Domingos
(MS), além do porto de Suape (PE), PECEN (CE) e em Macaé (RJ) envolvendo
mais de 80.000 trabalhadores parados contra as condições sub-humanas a
que estavam submetidos por grandes corporações multinacionais
brasileiras que recebem dinheiro do FAT – Fundo de Amparo ao
trabalhador- através do BNDES.
Enquanto isso, no Congresso Nacional, os deputados davam um
espetáculo vergonhoso ao vaiar a notícia de que dois cidadãos
brasileiros forma assassinados. No dia seguinte, o ex-Presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, depois de um encontro promovido pela gigante
corporação coreana LG Eletronics onde recebera R$ 200 mil por 40 minutos
de palestra, aparecia nas fotos dos principais jornais do país em
companhia de vários políticos que foram a base dos governos Collor de
Mello, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso tentando recompor a
base do governo depois da aprovação na Câmara dos Deputados do Código do
Desmatamento.
Acrescente-se que os jornais continuavam dando destaque ao
ex-trotskista Antonio Palocci não por suas ações revolucionárias, mas
por seu súbito aumento de patrimônio fruto da promíscua relação
público-privado-público que nos caracteriza patrimonialisticamente,
segundo Raimundo Faoro, desde 1385, com a Revolução de Avis.
A pressão sobre as populações que ocupam tradicionalmente áreas de
florestas, ribeirinhas e litorâneas (mangues) vem se acentuando nos
últimos anos como resultado das opções políticas que dão suporte ao
bloco de poder que alia o capital bancário, as corporações do complexo
agroquímico, aos latifundiários que monopolizam a terra, ou seja, ao
agronegócio. Em pesquisa realizada pelo Laboratório de Estudos de
Movimentos Sociais e Territorialidades da Universidade Federal
Fluminense com base no noticiário da grande imprensa e no banco de dados
da Comissão Pastoral da Terra, registrou-se que desde 2003 temos a
maior média anual de conflitos por terra no Brasil desde 1985: 919,5
conflitos anuais entre 2003 e 2010. Informe-se que esses dados são de
domínio público e atualizados anualmente em publicação nacional com
lançamento feito em coletiva à imprensa amplamente divulgada e
timidamente repercutida na grande imprensa (Ver os Cadernos de conflitos
da CPT)
Leia o texto completo na página do Boletim MST-RJ.