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Confira o texto final da Plenária de Democratização da Comunicação Rio de Janeiro
Publicado em 08.04.11
Publicamos abaixo o texto final da Plenária de Democratização da Comunicação Rio de Janeiro, realizada no dia 21 março de 2011.
Uma nova etapa da luta pela democratização da comunicação
A) A conjuntura atual dos meios de comunicação no Brasil.
1. Nenhum dos aspectos estruturantes do setor das comunicações em nosso
país sofreu mudança substancial nos últimos anos. As características
principais permanecem as mesmas: alto índice de concentração dos meios
(oligopólio), claro predomínio do setor privado comercial sobre os
setores estatal e público, legislação excessivamente fragmentada,
defasada e insuficiente para enfrentar uma conjuntura de novas
tecnologias e convergência de mídias, inúmeras práticas de manipulação
da informação, ausência do poder público em ações de regulação e
fiscalização do setor, enorme resistência do setor empresarial privado
para mudanças estruturais.
2. Devemos, portanto, estar atentos à qualificação da intervenção e
organização dos grandes grupos empresariais da mídia no último período,
através de suas entidades representativas, com destaque para a ABERT,
ANJ, ANER e ABAP, entre outras, associados à direita política e social e
a entidades internacionais como a SIP e a Opus Dei. Com a criação dos
Institutos Millenium e Palavra Aberta, patrocinaram, além do boicote e
da tentativa de desqualificação da I Confecom, uma campanha aberta e
truculenta contra o PNDH-3 e contra qualquer proposta de regulação da
publicidade e de controle social da mídia. Nessa nova fase, além da
tradicional pressão junto aos Poderes Públicos – Judiciário, Legislativo
e Executivo – e à constante veiculação de artigos e matérias em seus
órgãos de comunicação, têm buscado disputar suas concepções e ideias
conservadoras na universidade, nas redes sociais e nos próprios
movimentos sociais organizados. Este é mais um elemento que impõe a
qualificação e a unidade do nosso movimento e da nossa intervenção.
3. Por outro lado, alguma luz começa a aparecer no horizonte. O Governo
Federal, no segundo mandato do Presidente Lula, passou a pautar o tema
das políticas públicas de comunicação dentro da agenda política
nacional, dando importantes sinalizações de vontade política para
iniciar as mudanças. A criação da EBC – Empresa Brasil de Comunicação, e
a realização da I Conferência Nacional de Comunicação fizeram parte
dessas sinalizações. A formulação de um PNBL – Plano Nacional de Banda
Larga, dentro de uma política mais ampla de inclusão digital, e a
formatação de uma minuta de um novo Marco Regulatório das Comunicações,
heranças deixadas pelo Governo anterior, colocam importantes desafios
para o novo Governo da Presidenta Dilma Roussef.
4. Não custa lembrar que a própria realização da I Conferência Nacional
de Comunicação (I Confecom) foi produto de um amplo processo de
mobilização do setor não empresarial da sociedade civil através de
centenas de entidades organizando comissões estaduais em todas as
Unidades da Federação, pressionando e negociando com poderes públicos e
com empresários para que a I Confecom fosse realizada, o que terminou
acontecendo em dezembro de 2009, apesar de muita resistência de alguns
setores do empresariado, com algumas das principais entidades de classe
boicotando e negando-se a participar do processo. Apesar dos inúmeros
problemas enfrentados, e de algumas aparentes insuficiências (debate
pouco aprofundado, inexistência de definição de prioridades, disputas
muitas vezes despolitizadas), é impossível não reconhecer que o
resultado final da I Confecom ficou acima das expectativas, aprovando
mais de 600 propostas de políticas públicas para o setor, o que
certamente consistiu num importante marco histórico, numa importante
vitória de movimento das entidades que há décadas lutam pela
democratização em nosso país. Como diz recente documento do Intervozes,
...A Confecom ampliou o campo do movimento de comunicação, e trouxe
para a discussão setores que até então acompanhavam-na de forma
distante.... Embora essa mobilização tenha diminuído no ano de 2010,
muito em função das energias consumidas no recente processo eleitoral, a
realização da I Confecom e seu resultado marca uma nova etapa de
construção dessa luta, deixando condições extremamente positivas para a
sua retomada nos próximos anos.
5. Ao indicar um quadro como Paulo Bernardo para o Ministério das
Comunicações, o novo Governo Federal dá indícios de que o MiniCom será
fortalecido como instância de formulação e implementação de políticas
públicas para o setor, ao invés de servir como moeda de barganha na
composição política das forças que compõem o Governo Federal, o que
certamente é um aspecto positivo nesta nova conjuntura que se abre.
Sabemos que isto não basta, pois será necessário dotar o MiniCom de
recursos humanos, técnicos e orçamentários para que ele possa vir a
cumprir bem a sua missão institucional. Ao longo dos próximos 4 anos, as
entidades envolvidas na luta pela democratização da comunicação,
principalmente aquelas que representam o setor não empresarial da
sociedade civil, precisarão construir os canais de pressão política e de
interlocução com o MiniCom (e demais poderes públicos), para poderem
contribuir na construção dessas políticas públicas.
6. Outro aspecto positivo na atual conjuntura é a prioridade que a nova
gestão do MiniCom parece querer dar à implementação do PNBL – Plano
Nacional de Banda Larga. Para que o PNBL alcance seus objetivos, e
contribua decisivamente para uma política ampla de inclusão digital,
será fundamental negociar com o setor empresarial das telecomunicações,
mas também atender amplamente os pleitos do setor da sociedade civil não
empresarial, para que se possa garantir a universalização deste
serviço, que deve ser prestado em regime público, e garantir gestão
participativa sobre o programa, permitindo o controle social sobre uma
internet pública/privada.. Iniciativas como a de criar mecanismos que
permitam o acesso ao financiamento do BNDES para os pequenos provedores,
anunciada pelo novo Ministro do MiniCom, são bem vindas. A sinalização
de que outras negociações deverão envolver todos os setores
interessados, é outro bom sinal. O desejo manifestado pelo novo
Ministro, de criar as condições para iniciar a implantação do PNBL a
partir de maio, mostra que há vontade política. A decisão de dar à
Telebrás um papel de destaque na condução do PNBL é outra sinalização
importante. Mas, nunca é demais lembrar: quanto mais amplo, profundo e
transparente for este processo de negociações, mais a sociedade
brasileira sairá ganhando. Além disso, é imprescindível que o Governo
garanta que as diretrizes desenhadas no Fórum Brasil Conectado e no
decreto do PNBL venham a ser seguidas `risca ou debatidas amplamente com
as partes, para se achar o devido consenso, para o bem estar da
sociedade.
7. Mais um aspecto positivo na conjuntura que se abre é a manifestação
do novo Ministro em dar continuidade ao processo de construção e
definição do novo Marco Regulatório das Comunicações, levando adiante a
iniciativa iniciada na gestão anterior da SECOM (Ministro Franklin
Martins), que produziu uma minuta de projeto com este teor. O conteúdo
desta proposta ainda é desconhecido da ampla maioria da sociedade. Aqui e
ali, a mídia impressa e virtual começa a divulgar alguns tópicos deste
conteúdo. O próprio Ministro, Paulo Bernardo, já deu declarações sobre o
tema, manifestando-se contrário à propriedade cruzada dos meios de
comunicação e favorável a existência de uma agência reguladora do setor,
dois pontos que nos parecem positivos. Mas, nos parece urgente que o
projeto em questão seja o mais brevemente possível divulgado, para que
se possa garantir um amplo processo de debate na sociedade (audiências
públicas, seminários, consulta pública), dando prosseguimento ao debate
que se iniciou ao longo da construção da I Confecom. Entendemos que um
projeto desta magnitude não pode ser enviado ao Congresso Nacional sem
antes ser amplamente conhecido e debatido pela sociedade.
8. Outra iniciativa que nos parece importante, desde o final do ano
passado, tem sido a apresentação de Projetos de Lei no âmbito das
Assembleias Legislativas Estaduais, para a constituição de Conselhos
Estaduais de Comunicação. Isso tem acontecido em vários Estados,
simultaneamente, como CE, BA, SP, e RJ. No caso do Rio de Janeiro, a
iniciativa foi do Deputado Estadual Paulo Ramos (PDT-RJ), e já produziu
uma importante audiência pública com participação de inúmeras entidades
da sociedade civil, dando o pontapé inicial a um amplo processo de
discussão sobre o seu conteúdo e a estratégia mais eficiente para a sua
implementação. Iniciativas como esta permitem ao nosso movimento
recolocar na agenda política nacional a proposta de constituição dos
Conselhos Municipais de Comunicação, e de um Conselho Nacional de
Comunicação, com caráter deliberativo e mais representativo do que foi a
experiência do Conselho de Comunicação Social (como mero órgão
consultivo do Senado Federal), tal como foi aprovada no âmbito das
resoluções da I Confecom.
9. Outro aspecto positivo da atual conjuntura é a possibilidade de
avançar no fortalecimento da comunicação comunitária. A sinalização de
que o MiniCom passará a contar em sua estrutura com uma Secretaria
Nacional de Radiodifusão Comunitária é apenas um primeiro passo inicial.
Mas, certamente ainda há um longo caminho a percorrer. As resoluções da
I Confecom apontam inúmeras iniciativas importantes para a construção
de uma política pública consistente neste setor, como a
descriminalização das práticas de comunicação comunitária, a agilização
dos processos burocráticos de legalização no âmbito do MiniCom, a
necessidade de encontrar mecanismos de fomento à produção de rádios e
tv’s comunitárias são apenas alguns exemplos. Ainda no campo da
comunicação comunitária é importante que, com a nova secretaria de
Inclusão Digital, novos modelos de provedores comunitários sejam aceitos
perante a legislação vigente, permitindo que a banda larga também possa
ser usada para fins exclusivamente sociais em caráter comunitário.
10. O mesmo se pode dizer no tocante a outros temas debatidos ao longo
da I Confecom, que também geraram inúmeras propostas aprovadas, cuja
implementação gerarão expectativas nos próximos anos. Para citar um
exemplo, o fortalecimento da chamada comunicação pública (TV’s e rádios
públicas), que ganhou um grande alento em nosso país com a criação da
EBC, mas que carece ainda de uma maior consolidação e aperfeiçoamento,
com políticas de fomento mais agressivas e construção de ferramentas de
controle público mais eficazes (conselhos, audiências, consultas,
pesquisas, ouvidorias). Outro exemplo a ser citado, a necessidade de uma
maior regulação da publicidade voltada para crianças e adolescentes. Ou
a consolidação de uma política de democratização da Internet em nosso
país. Ou a implementação de políticas públicas que garantam a
diversidade cultural e étnica de nosso povo, lembrando que 2011 é
considerado pela ONU como Ano Internacional dos Afro-descendentes.
11. Quantos às políticas públicas na área de Cultura, do novo Governo
Federal, é sempre bom lembrar que Cultura e Comunicação sempre andaram
juntas, pois os meios de comunicação são ferramentas fundamentais na
divulgação e construção da identidade cultural de nosso povo. Portanto,
pretendemos acompanhar e contribuir para a formulação e implementação
dessas políticas públicas, garantindo a continuidade e os avanços
conquistados nos últimos 8 anos, sempre a partir de uma construção
compartilhada, com ampla participação da sociedade, reconhecendo o
acúmulo obtido em temas e projetos importantes, como o fortalecimentos
dos Pontos de Cultura, a necessária revisão da atual Lei de Direitos
Autorais, o apoio à produção independente e à comunicação pública e
comunitária. È fundamental que a nova gestão do Ministério da Cultura
mantenha e fortaleça os canais de diálogo e debate, democrático e
transparente, com todos os setores sociais, como forma de garantir que
não hajam retrocessos.
B) Plano de ação e prioridades
12. Ao longo dos últimos 25 anos o movimento foi acumulando
discussões, experiências e um conjunto de propostas que nos permitiu
avançar em várias frentes de luta, que não são excludentes, mas se
complementam. A própria I Confecom conseguiu gerar um conjunto de 600
propostas que servem de norte para o nosso movimento. Mas, como sabemos
bem, ter um excesso de propostas, sem definir nenhuma prioridade ou foco
de ação entre elas, poderá significar não ter nenhuma proposta capaz de
fazer o nosso movimento avançar e conquistar vitórias. Portanto, o que
estamos propondo aqui é apenas um exercício de buscar estabelecer nossas
ações prioritárias dentro de um conjunto muito amplo de propostas e
lutas, resgatando e atualizando as resoluções do Seminário Rio pós
Conferência, realizado na ECO-UFRJ em 27 de março de 2010. Sem foco e
sem prioridades, não conseguiremos chegar a lugar nenhum. A análise de
conjuntura que apresentamos acima já nos sinaliza para o que devem ser
algumas destas prioridades em nosso possível plano de ação.
13. Plano Nacional de Banda Larga: Lutamos pela implantação do PNBL, com
a universalização deste serviço, a ser prestado em regime público, com
papel de destaque para a Telebrás na gestão desta política pública, com
mecanismos de acesso ao financiamento do BNDES para os pequenos
provedores, garantindo redução de custos e universalização da oferta, e
amplo processo de consulta e negociação envolvendo todos os segmentos
sociais, democratizando e tornando transparente o funcionamento do
Fórum Brasil Conectado, entendendo que o acesso à banda larga é um
direito fundamental a ser garantido pelo Estado, e que tem por obrigação
criar mecanismos de alteração das legislações internas para que a banda
larga posse ser prestada de outras maneiras que não sejam somente por
empresas privadas ou estatais, pois democratiza o acesso à informação e
ao conhecimento.
14. Marco Regulatório das Comunicações: Lutamos pela urgente
publicização do texto-projeto elaborado pela equipe da gestão anterior
da SECOM, para que se possa dar início a um amplo processo de debate na
sociedade brasileira, com seminários, audiências públicas e consulta
pública, permitindo agregar valor ao projeto inicial e construir grandes
consensos ou propostas claramente hegemônicas. No âmbito desse novo
Marco Regulatório das Comunicações, a regulamentação dos artigos 220 a
224 da Constituição Federal nos parece fundamental, assim como a criação
de uma Agência Reguladora para o setor.
15. Conselhos de Comunicação: Lutamos pela construção e implementação de
um Conselho de Comunicação Estadual no RJ, a partir de um processo de
discussão que permita aperfeiçoar o conteúdo do projeto 3323/2010 do
Deputado Paulo Ramos (PDT-RJ), entendendo que isto implicará numa
estratégia de negociação junto aos poderes públicos (Legislativo e
Executivo), para que nosso objetivo seja alcançado e o Conselho Estadual
seja implementado, assim como deverá acontecer em outros Estados,
sempre ressaltando a importância da participação dos movimentos sociais
nesses Conselhos. Também está entre as nossas prioridades o apoio,
assessoria e incentivo, que passa pela reorganização das Regionais do
nosso movimento, à criação de Conselhos Municipais de Comunicação, que,
além da importância local para a democratização da comunicação, poderão
cumprir importante papel de referências políticas para a nossa luta em
nível estadual. Paralelamente, a mobilização em torno desse processo nos
permitirá retomar a luta pela construção de um Conselho Nacional de
Comunicação, com caráter deliberativo, nos moldes da proposta aprovada
na I Confecom.
16. Comunicação comunitária: Lutamos pela reafirmação legal dos meios
comunitários dentro do novo marco regulatório, desvinculando-os de
qualquer limitação territorial, sem restrição a tipologia das emissoras
comunitárias para seu funcionamento, como limites de potência,
frequência ou alcance. O novo marco regulatório deve reconhecer o
princípio da complementariedade dos sistemas de radiodifusão (privado,
público e estatal), previsto no art, 223 da Constituição Federal de 1988
e reservar 1/3 do espectro eletromagnético para a comunicação social
sem fins lucrativos, onde se incluem os meios comunitários. Lutamos
também pela criação de uma Secretaria Nacional de Radiodifusão
Comunitária no âmbito do MiniCom, que permitirá a agilização do processo
burocrático de legalização das rádios comunitárias, pela a imediata
descriminalização (e conseqüente anistia) às lideranças que trabalham
com radiodifusão comunitária, com o término imediato das perseguições,
prisões de lideranças e apreensão de equipamentos, assim como pelo o
acesso das tv’s comunitárias e demais tv do campo público a canais
abertos, e a construção de uma política de fomento para a radiodifusão
comunitária, e pelo fortalecimento das formas associativas desse
movimento, passos necessários para garantir a democratização da
comunicação em nosso país. Outra causa a ser debatida é a permissão para
que entidades sem fins lucrativos, universidades e afins, possam
prestar os serviços de provimento da internet com finalidades sociais
não lucrativas (provedores comunitários), agilizando os processos
internos na ANTEL referente às mudanças de regras para obter outorga na
agência, onde se encontram em fase para consulta pública.
17. Comunicação pública: Lutamos pela consolidação e fortalecimento da
EBC – Empresa Brasil de Comunicação, e seu papel de ‘espinha dorsal’ na
construção das redes públicas de tv e de rádio, assim como das emissoras
universitárias, estaduais e municipais, com o fortalecimento de
ferramentas de gestão de controle público (conselhos, audiências,
consultas, pesquisas, ouvidorias), com políticas de fomento que permitam
o fortalecimento e a ampliação da comunicação pública em nosso país,
bem como o fortalecimento das associações deste setor.
18. Democratização da Internet no Brasil: Lutamos pelo fortalecimento e
consolidação do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), e pela
aplicação da Plataforma por uma Internet Livre, Inclusiva e
Democrática, e pela construção de um Marco Civil da Internet no Brasil,
cujo anteprojeto encontra-se em elaboração de sua nova versão no
Ministério da Justiça, após ter agregado contribuições de amplos setores
da sociedade (2009/2010), via consulta pública, devendo iniciar sua
tramitação no Congresso Nacional em junho deste ano. Reforçamos ainda o
combate a projetos que vão contra os anseios populares e à liberdade na
internet, bem como projetos que ataquem deliberadamente a soberania
nacional, como o PL 1481/07 (lei do FUST) e o PL 84/99 (AI-5 Digital).
19. Regulação da publicidade responsável: É importante garantir regras
de controle social na publicidade, baseadas no interesse público. Além
da restrição à publicidade voltada ao público infanto-juvenil, com o
objetivo de defender este segmento do apelo ao consumo exacerbados a que
são submetidos cotidianamente, formando e deformando a personalidade
das futuras gerações, defendemos a regulamentação da publicidade de
alimentos, álcool e medicamentos, entre outros produtos.
20. Defesa da cultura nacional e regional: Lutamos por políticas
públicas de defesa, fortalecimento e fomento da cultura nacional,
inclusive em sua diversidade regional, local e étnica, e de uma
legislação que regulamente a regionalização da produção cultural e
jornalística nos meios de comunicação.
21. Defesa da diversidade cultural, étnica, e de gênero de nosso povo:
No ano de 2011, considerado pela ONU como Ano Internacional dos
Afro-descendentes, lutamos pela aplicação de políticas públicas
afirmativas nos meios de comunicação que garantam a diversidade
cultural, étnica e de gênero de nosso povo, e combatam todas as formas
de preconceito e discriminação.
C) Questões Organizativas.
22. Ao longo dos últimos 25 anos a luta pela democratização da
comunicação em nosso país passou por diferentes etapas políticas e
momentos distintos de organização. Desde o Movimento por Políticas
Democráticas de Comunicação, no período pré Constituinte de 1988,
passando pela constituição do FNDC – Fórum Nacional pela Democratização
da Comunicação e seus diversos comitês estaduais, até a mais recente
experiência da Comissão Nacional Pró Confecom e suas inúmeras comissões
estaduais e municipais. Com altos e baixos, idas e vindas, com maior e
menor capilaridade e representatividade, o movimento tem procurado
avançar na sua capacidade de responder aos desafios que são colocados a
cada conjuntura.
23. Como podemos ver, a atual conjuntura do setor das comunicações em
nosso país apresenta inúmeros aspectos extremamente positivos, e aponta a
possibilidade de avanços na formulação e implementação de políticas
públicas em várias áreas. Mas, para isso, é fundamental que o nosso
movimento dê um salto de qualidade em sua capacidade de formulação e
articulação política, credenciando-se como interlocutor ao longo deste
processo que se inicia. Hoje, mais do que nunca, precisamos superar as
insuficiências do nosso movimento, e criar as condições para um processo
que garanta a nossa unidade na ação concreta.
24. Durante todo o processo de construção da I Confecom, em que pese o
importante papel que jogaram várias entidades nacionais e estaduais na
organização e mobilização que terminaram por garantir a realização da I
Confecom, demonstramos inúmeras fragilidades e insuficiências ao longo
do caminho. Divergências pontuais em torno de formas de condução do
movimento ou de aspectos de negociações, disputas muitas vezes
despolitizadas por espaço político e pelo protagonismo, enormes
dificuldades de comunicação interna no movimento, insuficiência de
formulação e elaboração política de forma coletiva, foram criando, aqui e
ali, arestas e problemas, que terminaram por nos enfraquecer já no
período de construção da I Confecom, e terminaram por levar a uma nova
desarticulação e esvaziamento do nosso movimento, no período pós I
Confecom, tanto a nível nacional quanto a nível estadual, por razões
combinadas de forma distintas. Mesmo assim, a Comissão Rio Pro
Conferência realizou um seminário de avaliação da I Confecom, em maio de
2010, e manteve as reuniões mensais, que não mais reuniam o número de
entidades e militantes do período pré-confecom. E, produziu uma
plataforma da comunicação democrática, lançada em evento com candidatos
ao parlamento, além de um ato em defesa do PNDH3.
25. Precisamos dar passos concretos no sentido de reorganizar o nosso
movimento, tanto a nível nacional quanto a nível estadual/local, em
novas bases, superando as fragilidades anteriores. Para tanto, apontamos
alguns princípios que entendemos essenciais para o sucesso de nossa
empreitada:
26. A unidade organizativa do nosso movimento: Nossa luta conta com o
apoio de diversas entidades que são diferentes entre si, e que guardam
suas especificidades. São institutos, ongs, movimentos sociais,
partidos políticos, sindicatos, centrais sindicais, entidades da
sociedade civil. É muito importante que nosso movimento consiga
respeitar e conviver com essa diversidade, pois é ela que garante a
riqueza do movimento. Mas, precisamos garantir um mínimo de unidade
organizativa, para dar consistência, representatividade e credibilidade
ao mesmo. Isso significa evitarmos ter várias formas de organização
co-existindo ao mesmo tempo, de forma dispersa, e sem unidade na ação.
Num primeiro momento, o nome que podemos ou queremos dar ao nosso
movimento é menos importante (comitê, comissão, fórum, movimento,
frente), o importante é que ele seja amplo, não exclua ninguém, saiba
conviver com as diferenças, evitando o divisionismo. No Rio de Janeiro,
durante o processo de construção da I Confecom (2008/2009) chegamos a
ter 2 fóruns/comissões distintas do nosso movimento, o que nos
fragilizou durante as negociações com os poderes públicos e com os
empresários do setor. Isto é tudo o que devemos evitar, daqui pra
frente.
27. A nível nacional, chega a nós a notícia de que 7 importantes
entidades nacionais (Intervozes, Centro de Estudos da Mídia Alternativa
Barão de Itararé, ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância,
MNDH – Movimento Nacional de Direitos Humanos, FITTEL – Federação
Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações, Ciranda
Internacional de Comunicação Compartilhada e Projeto Revista Viração)
recém formalizaram o pedido de ingresso no FNDC – Fórum Nacional pela
Democratização da Comunicação. Sabemos que a unidade não se dará de
forma mecânica e imediata, necessitará um processo de amadurecido de
diálogo, tanto a nível nacional como estadual, mas esse passo nos parece
fundamental para a sua construção.
28. Igualmente, aqui no Rio de Janeiro (RJ) necessitamos avançar na
unificação de nossa organização, buscando aparar as arestas criadas ao
longo do período anterior, e recolocando a política no posto de comando.
Nosso movimento deve buscar somar, agregar, ao invés de dividir e
excluir. Já temos pouco tempo e energia para dedicar a tantas tarefas
necessárias do movimento, não podemos nos dar ao luxo de nos dividir em
formas distintas de organização, em reuniões paralelas e esvaziadas.
Precisamos somar esforços e energias, para dar consistência e
credibilidade ao nosso movimento. Vamos lutar para construir uma única
forma organizativa do nosso movimento a nível estadual e regional, pouco
importa o nome que venhamos a dar a esta organização. Podemos trabalhar
com reuniões plenárias presenciais mensais, com GTs responsáveis por
determinadas atividades e tarefas, podemos e devemos utilizar mais e
melhor as ferramentas virtuais ( como forma de ir socializando propostas
e formulações, e garantir uma melhor organização de nossas reuniões
plenárias presenciais), podemos organizar seminários, oficinas e debates
regionais e estaduais, em torno dos principais temas do nosso
movimento, podemos amadurecer se é salutar ou não virmos a ter uma
pequena coordenação que assuma algumas tarefas de organização entre uma e
outra reunião plenária presencial, enfim, estas e outras idéias
precisam ser discutidas e amadurecidas entre nós.
29. A unidade política do nosso movimento: A experiência da I Confecom
nos demonstrou que as eventuais divergências de conteúdo programático
que possam existir em nosso movimento, tanto a nível nacional quanto
estadual, são mínimas se comparadas as divergências que temos diante de
nossos principais adversários (os barões/empresários da mídia), e a
necessidade que temos de construir nossa unidade para poder
enfrentá-los. Devemos, portanto, construir a nossa unidade programática e
de ação política, buscando acordar grandes consensos, sem desconhecer
que, aqui e ali, continuarão existindo pequenas divergências entre nós
(elas são saudáveis, fazem parte de qualquer movimento), sabendo que a
independência e autonomia de nossas entidades será respeitada, o que
significa que cada entidade continuará a defender suas bandeiras, mesmo
quando elas não sejam consensuais, mas que priorizaremos a nossa luta
unitária e consensual enquanto movimento. Nossa unidade política não
pode e não deve significar uma camisa de força que impeça cada entidade
de defender a sua autonomia e identidade.
30. Temos como referência as mais de 600 resoluções e propostas
aprovadas na I Confecom. A tentativa de apresentar um plano de ação
parte da ideia de que precisamos elencar nossas prioridades. Podemos
melhorar ou aperfeiçoar nosso plano de ação, mas precisamos rapidamente
chegar a um consenso sobre ele, pois será este plano de ação que
norteará nossas estratégias de luta no próximo período. A construção
deste consenso será a base sobre a qual se construirá a nossa unidade
real.
31. Equilibrar formulação política com negociação institucional e
ativismo: Entendemos que, a partir de agora, o processo político entra
numa nova fase, com a discussão concreta do novo Marco Regulatório das
Comunicações. O fortalecimento político do MiniCom, a enorme quantidade
de problemas político-jurídicos a exigir soluções inadiáveis, a própria
existência de um ante-projeto sobre o Marco Regulatório (embora ainda
não divulgado), deverão pautar o debate ao longo deste ano e, talvez,
nos próximos. O nosso movimento precisará estar política e tecnicamente
preparado para intervir neste debate. Já não se tratará de defesa de
meros princípios e teses, mas da objetivação desses princípios e teses
em formal legal e jurídica, com embasamento econômico, político e
técnico. Para isto, será necessário aprofundar o nosso conhecimento para
além dos enunciados adjetivos e termos quadros qualificados e
preparados para o debate propositivo. Uma proposta que ganha corpo entre
nós é a de organizarmos seminários sobre os principais temas do nosso
movimento, como forma de aprofundarmos nossa capacidade de formulação e
nos qualificarmos como interlocutores e negociadores, junto aos poderes
públicos e aos setores empresariais.
32. Ao mesmo tempo, nada avançará, apesar dos atuais vislumbres
favoráveis da conjuntura, sem muita mobilização social e ativismo. A I
Confecom marcou, pela quantidade e capilaridade dos atores sociais
envolvidos, um salto de qualidade na mobilização política pela
democratização da comunicação. Movimentos, organizações, entidades e
militantes que foram agregados a esta luta, inclusive no interior do
Estado, ampliaram muito a capacidade de apropriação social do tema, para
muito além das categorias profissionais ou acadêmicas diretamente
envolvidas com a comunicação, até então quase únicas a sustentar as
bandeiras da democratização da comunicação em nossa sociedade. A
democratização da comunicação interessa a todos e todas, é um debate que
envolve a própria politização democrática da sociedade brasileira. O
avanço obtido na I Confecom precisa ser consolidado e ampliado. Os
movimentos, militantes e regionais que se mobilizaram no processo de
construção da I Confecom precisam ser reconvocados, rearticulados,
reorganizados, nesta nova etapa da luta, para a discussão do Marco
Regulatório, na discussão e construção dos Conselhos, na universalização
da banda larga, no fortalecimento da comunicação comunitária e da
comunicação pública, na democratização da Internet, na proteção e
fomento da cultura nacional e regional, e demais questões do nosso
movimento. Encontrar o equilíbrio entre o ativismo, de um lado, e a
necessária reflexão e capacidade de formulação, de outro, conjugando
isso com as iniciativas de articulação política no âmbito institucional,
aí reside a possibilidade de vitória do nosso movimento.
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Piratininga
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