Entrevistas
CSA causa racismo ambiental em população de Santa Cruz
Por Jéssica Santos - Portogente
A bióloga Monica Lima, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), faz parte do grupo multidisciplinar de especialistas que acompanha o impacto da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), no distrito industrial de Santa Cruz. Também é uma das integrantes do Grupo de Trabalho convocado pelo secretário estadual de Meio Ambiente, Carlos Minc, com objetivo de levantar dados que servirão de base para futuras indenizações. Monica falou ao Portogente um pouco do que acompanha sobre o caso.
Portogente – Como a CSA está prejudicando o meio ambiente e a saúde dos moradores? Monica Lima – A área antes era massa densa e manguezal, área de proteção ambiental. Estava sendo ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e a licença não foi concedida. Mas para a CSA os critérios foram diferentes. Quanto à saúde, há alergias dermatológicas, respiratórias e oftalmológicas, sangramento no nariz, feridas na pele, falta de ar, asma, renites. Há o comprometimento psíquico e psicológico devido ao estresse, ruídos, insegurança e instabilidade, o que provoca má qualidade de vida. Em longo prazo, devido à poluição com particulados e gases tóxicos também, podem ocorrer câncer e aborto espontâneo. É um verdadeiro racismo ambiental.
Portogente – A siderúrgica argumenta que o pó emitido por ela é apenas grafite e não prejudica a saúde... A literatura de siderúrgicas evidencia que metais como zinco e alguns outros, causadores de câncer, são eliminados junto ao grafite. A Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) está coletando amostras para avaliar esse material, assim como um dossiê está sendo preparado para denunciar os danos à saúde, ao meio ambiente e a questão cultural-ideológica. Mesmo que fosse só grafite, não é normal as pessoas viverem respirando grafite, e não estamos quantificando isso, o quanto está sendo respirado não está sendo avaliado. E o próprio grafite, dependendo do tamanho da partícula, também pode causar câncer.
Portogente – A CSA é resultado da parceria entre o grupo alemão ThyssenKrupp e a brasileira Vale. O que está sendo feito para denunciar a siderúrgica também no exterior? Temos denunciado ao Parlamento alemão e aos acionistas da Vale, e isso tem dado bastante resultado. Há uma deputada, Grabiele Zimmer, da esquerda alemã, que tem nos ajudado muito nas denúncias em instituições na Europa. Não podemos esquecer que há também a poluição sonora e de pó de minério do trem da Vale.
Portogente – A companhia está tentando conseguir uma licença definitiva de funcionamento. Qual o posicionamento dos moradores e do governo do estado em relação a isso? Os moradores não querem que essa licença seja liberada e o estado parece ser refém da empresa. O estado, na pessoa do governador Sérgio Cabral e a ex-secretaria Marilene Ramos, passou por cima do Ministério Público. Após o MP ter autuado a empresa, o governador e a secretária liberaram o segundo auto-forno, ocasionando mais emissão do pó. A empresa insiste em dizer que foi um acidente, mas isso será constante, pois faz parte do processo. Pior foi ambos terem se baseado num laudo de uma empresa do exterior muito limitado tecnicamente. A CSA é uma empresa cheia de falhas e procedimentos ilegais, desde a etapa da confecção do seu Eia-Rima, e o estado não reconhece isso, nem ao menos executa seu papel regulador. É um estado ausente.
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