MÃdia
A força e os limites da blogosfera
Por Altamiro Borges
Em sua visita ao Brasil, o presidente do EUA, Barack Obama, havia
programado um megaevento na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, palco
de históricos protestos em defesa da democracia e a soberania nacional.
Na última hora, o show de pirotecnia foi cancelado. Segundo a própria
mídia hegemônica, a razão foi que o serviço de inteligência do império, a
famigerada CIA, alertou a diplomacia ianque sobre os "protestos
convocados pelas redes sociais". Obama ficou com medo!
Este episódio, uma vitória dos internautas progressistas do Brasil,
comprova a força da internet. Num meio ainda não totalmente controlado
pelas corporações capitalistas é possível desencadear ações
contra-hegemônicas e quebrar o “pensamento único” emburrecedor da velha
mídia. Desde Seattle, quando manifestações contra a rapina imperial
foram convocadas basicamente pela internet, este fenômeno chama a
atenção dos atores sociais. De lá para cá, o acesso à rede só se ampliou
– no mundo e no Brasil.
Uma arma poderosa
Nas recentes convulsões populares no mundo árabe, que derrubaram os
ditadores da Tunísia e do Egito – sempre tratados como “amigos do
Ocidente” pela mídia tradicional – a internet foi uma arma poderosa. Ela
não produziu as “revoluções”, mas ajudou a detoná-las. Agora mesmo, na
Líbia, há uma guerra de informações da globosfera, acompanhada da real e
sangrenta guerra dos mísseis. A internet faz parte hoje da guerra,
virtual e real, que se trava nas sociedades. Não dá para desconhecer
esta nova realidade.
Os meios tradicionais de comunicação, hegemonizados por poucas
corporações – no máximo 40, segundo recentes estudos sobre a crescente
monopolização da mídia mundial –, não detêm mais o monopólio da
informação. Os avanços tecnológicos abriram brechas, mesmo que
temporárias, nesta frente estratégia da luta de idéias. Jornais e
revistas da oligarquia estão falindo devido ao maior acesso à internet.
Mesmo as redes televisão sofrem com a migração para este novo meio,
principalmente da juventude.
A força da blogosfera No Brasil, esta realidade é bem palpável. Nas eleições presidenciais de
outubro passado, a chamada blogosfera progressista jogou papel de relevo
na encarniçada disputa. As manipulações dos impérios midiáticos, que se
transformaram em cabos eleitorais do candidato da direita, foram
desmascaradas online pela internet. No auge da campanha fascistóide, de
baixarias e de falsos moralismos, os blogs independentes atingiram mais
de 40 milhões em audiência, segundo pesquisa recente.
O impacto foi devastador. José Serra, o candidato do Opus Dei e o
preferido do império, conforme telegrama vazado pelo WikiLeaks, usou
vários palanques para atacar o que ele chamou, pejorativamente, de
“blogs sujos”. Já o presidente Lula, sofrendo violento cerco da ditadura
midiática, produziu vídeo para estimular a produção independente dos
blogueiros. Na guerra de informações, a internet foi decisiva para
desmascarar a direita e para mostrar o real significado da candidatura
lulista de Dilma Rousseff.
Passos na organização dos blogueiros
Neste intenso processo da luta de classes, com a centralidade a batalha
eleitoral, a blogosfera progressista deu os primeiros passos para a sua
organização no Brasil – de forma autônoma. Em agosto passado, mais de
330 blogueiros e twitteiros realizaram o seu primeiro encontro nacional,
em São Paulo. Neste evento histórico, eles decidiram lutar pela
democratização da comunicação, contra qualquer tipo de censura à
internet, e por políticas públicas de incentivo à pluralidade e à
diversidade informativas.
Fruto deste encontro histórico, os blogueiros progressistas quebraram a
monopólio da mídia tradicional e realizaram a primeira entrevista
coletiva com um presidente da República, Lula, em novembro passado. A
velha mídia até tentou desqualificar o evento inédito, numa crise de
“ciúme” ridícula. Na prática, ela sentiu o baque de uma mudança de
paradigma que está em curso. Parafraseando o revolucionário italiano
Antonio Gramsci, a coletiva com Lula evidenciou que “o velho está
morrendo e o novo ainda não acabou de nascer”.
Os desafios do futuro
O segundo encontro nacional de blogueiros progressistas está agendado
para junho próximo, em Brasília. Nele não haverá mais o fator
galvanizador que estimulou o primeiro – a luta contra a mídia golpista,
que se transformou no “partido do capital” durante o pleito
presidencial. O desafio será encontrar novos pontos de unidade na enorme
diversidade existente na rede. Sem verticalismo e estruturas
hierarquizadas, este movimento amplo e plural tem muito a contribuir na
luta pelo avanço da democracia no Brasil.
Os blogueiros progressistas, que hoje já constituem uma vasta e
influente rede no país, podem amplificar a luta pela democratização dos
meios de comunicação. Está na ordem do dia o debate sobre o novo marco
regulatório da mídia, que garanta a verdadeira liberdade de expressão
para os brasileiros – e que não se confunde com a “liberdade de empresa”
dos monopólios midiáticos. Também está em curso a discussão sobre a
liberdade na internet, com investidas da direita contra este direito
libertário.
Além de interferir nestas batalhas estratégicas, os blogueiros precisam
ampliar sua capacidade de interferir na luta de idéias
contra-hegemônicas na sociedade. É preciso que “floresçam mil flores”,
que surjam mais e melhores blogs independentes, garantindo maior
diversidade e pluralidade informativas. É urgente também qualificar os
nossos instrumentos, produzindo conteúdos jornalísticos de qualidade.
Para isso, é preciso encontrar caminhos de sustentação financeira da
blogosfera, que potencializem essa nova militância virtual.
Riscos de retrocesso
A internet abriu brechas para novas vozes se expressarem na sociedade.
Mas ela não deve ser idealizada. Quem detém maior audiência são os
portais de notícia e entretenimento dos mesmos grupos midiáticos. A
publicidade, que cresce na rede (nos EUA, ela superou pela primeira vez
na história os anúncios nos jornais impressos), é totalmente sugada
pelos barões da mídia. Ou seja: a internet é um campo de disputa. Sem
ampliar e qualificar sua produção, a blogosfera progressista será
derrotada, falará para seus nichos.
Além disso, a tecnologia não é neutra. Os monopólios da comunicação, que
tornam reféns vários governos, já estudam mecanismos para cercear a
liberdade na rede. Barack Obama, que a cada dia se revela um falso
democrata, já enviou ao Congresso dos EUA um projeto para “vigiar” a
internet. No Brasil, um parlamentar do bloco neoliberal-conservador,
Eduardo Azeredo (PSDB), também se apressou em copiar o império e já
apresentou projeto para abortar a neutralidade na rede. Os embates neste
campo tendem a crescer.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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