O tom jocoso marcou a leitura do comunicado, onde risos eram mesclados com tons de “absurdo” acerca de todos os tópicos do texto dos movimentos (leia aqui sobre a plenária popular que gerou o ato conjunto).
O áudio não deve ir ao ar. E isto tem uma explicação: além de uma peça de propaganda política explícita para tentar ridicularizar um ato dos movimentos sociais organizados em torno de bandeiras e lutas populares, a notável “cientista política” cometeu uma gafe tão ridícula quanto seu próprio ato.
Ao ler uma referência que o texto dos movimentos fazia ao preso político afro-americano Mumia Abu-Jamal, Lucia comentou: “Eu não sabia que tinha uma múmia presa”.
Ex-integrante do Partido dos Panteras Negras, Abu-Jamal é jornalista e ativista, símbolo internacional contra a pena de morte e um dos mais conhecidos prisioneiros políticos do mundo. Está há quase 30 anos em isolamento total no corredor da morte nos EUA, falsamente acusado pela morte de um policial. Em 2008 sua sentença de morte foi convertida para prisão perpétua. Mas ele pode voltar a ser condenado à morte e executado a qualquer momento. Leia mais sobre Abu-Jamal aqui.
A notável ignorância de Lucia Hippolito poderia ser o tom desta crítica. Não cabe aqui relatar sobre as deficiências intelectuais ou problemas de saúde de qualquer pessoa que seja.
Cabe, sim, registrar que a jornalista possui um espaço destacado na imprensa brasileira e, caso queira continuar gozando de algum resquício de credibilidade, deveria se dar o respeito de agir de acordo com o código de ética da profissão.
Em que situação é admissível que jornalistas utilizem comunicados de imprensa para ridicularizar quaisquer setores da sociedade e, neste caso, setores da sociedade civil que representam milhares de pessoas – como ela mesmo constatou ao ler a extensa relação de sindicatos, partidos e outros movimentos sociais que assinam a nota? Em que casos é permitida a completa falta de zelo com a checagem jornalística mínima acerca dos conteúdos descritos na nota? Onde está, por fim, o direito de resposta?
Ao terminar de ler em tom jocoso o manifesto gentilmente enviado à CBN, Lucia comentou: “Esses aqui nem sequer participaram do Woodstock. São do tempo do manifesto comunista de 1848”.
Entende-se que os “cientistas políticos” que pregam o fim da História tenham tamanho desprezo pelo conhecimento secular. Mas não esperávamos que pudessem ser eles próprios verdadeiras múmias egípcias.