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Cobertura midiática e as peças publicitárias durantes as datas comemorativas
Por João Montenegro Sazomídia Não há (tele)jornal, revista ou comercial que, em dias de esbórnia pagã, se atreva a deixar de mencionar em seu “enredo” algo sobre o carnaval. Seja em reportagens sobre as festas em todo o país e o êxtase geral – sentimento tão real quanto produzido e explorado pela mídia –, ou num comercial anunciando o “show de ofertas” do supermercado ao som de samba, o assunto carnaval está lá, firme e forte. Mas essa unitematização da pauta jornalística e publicitária é também recorrente em outras épocas do ano. A diferença, talvez, esteja no fato de que esses outros momentos não são tão relevantes para o jornalismo, com a exceção de matérias que fazem o balanço das vendas de ovos de chocolate, na páscoa, e bens de consumo em geral no dia das crianças, das mães, dos pais ou no natal – época esta que ainda chega a inspirar matérias de teor sentimental, com histórias de superação e solidariedade, ou sobre eventos relacionados país afora. Não se passa, por exemplo, ao final do ano, o que ocorre no mês – que dirá na semana – do carnaval: cobertura ao vivo por parte de diferentes emissoras sobre as festas, intercalada por comerciais temáticos, e sucedida por telejornais cujas manchetes dão conta do desempenho das escolas de samba na avenida. Enfim, não há como escapar: o carnaval, quando em lugar, é o destaque, e o resto é o resto, mesmo em se tratando de veículos que respondem por concessões públicas e que devem, por isso, prestar um serviço à população. Serviço? Dentre as atribuições previstas a uma concessionária de espaço televisivo, consta o dever de divulgar manifestações culturais, de acordo com a Constituição Federal: Art.221 – A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; Mas será que o excesso de informações nesse campo, considerando-se ainda o viés espetacular da cobertura da mídia, não deixa de fora assuntos de maior relevância social?
Falar em sazonalidade midiática pode ser arriscado, embora seja óbvia a participação dos veículos de informação – sempre acompanhados de peças publicitárias – nas comemorações, ritos e eventos diversos que ocorrem durante o ano (a impressão que se tem é que a emissora, o jornal ou revista impressa, se fantasiam, e, como foliões a serviço da indústria do entretenimento, saem para a festa). Afinal, são um tanto difusas as linhas de separação entre um período festivo e outro: mal se vão a ressaca do carnaval e os balões juninos, e já se forçam goela adentro dos cidadãos a páscoa e o dia dos pais, respectivamente. Isso sem contar que, desde o mês de dezembro – em pleno furor natalino – já existe uma cobertura regular dos ensaios das escolas de samba. O que importa, contudo, é a clara alteração do “comportamento” da mídia nas semanas que antecedem datas festivas, convergindo para um estado de constante estímulo ao aproveitamento máximo de cada uma delas – leia-se, incentivando o consumo. A intensidade dessa campanha publicitária é tanta, que as datas em si chegam perder parcialmente seu valor e singularidade, já que o importante passa a ser o clima de euforia, e não mais o ritual específico em sua plena e tradicional conexão espaço-temporal. Enfraquece-se ainda o simbolismo das comemorações, bem como seu significado, tornando patente uma espécie de fisiologismo festivo. É a banalização das festividades em prol do entretenimento narcotizante, com base num excesso de informações forçosa e ridiculamente incutido aos teleconsumidores. Retirado de: http://www.consciencia.net/sazomidia/
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