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Afinal, onde está o projeto do Marco Regulatório?
De certa forma, instalou-se uma confusão generalizada em relação não só ao que de fato está no projeto deixado pelo ministro Franklin, como também em relação o que de fato pensa o atual governo sobre a regulação das comunicações.
Por Venício A. de Lima - publicado em 15.02.11
Ao apagar das luzes de seus oito anos de governo, o
presidente Lula assinou decreto criando uma comissão interministerial
para "elaborar estudos e apresentar propostas de revisão do marco
regulatório da organização e exploração dos serviços de
telecomunicações e de radiodifusão". Foi o terceiro decreto assinado
para o mesmo fim (ver, no Observatório, "16 anos, 3 decretos, nada muda").
A
comissão seria integrada por representantes da Casa Civil, dos
ministérios das Comunicações e da Fazenda, da Secretaria de Comunicação
Social da Presidência (Secom) e da Advocacia Geral da União.
Representantes de órgãos e entidades da administração federal, estadual
e municipal, além de entidades privadas, poderiam ser convidados a
participar.
O artigo 6º do decreto diz que "a Comissão
Interministerial encerrará seus trabalhos com a apresentação, ao
Presidente da República, de relatório final", mas não estabelece prazo
para que isso ocorra (ver aqui a íntegra do decreto de 21 de julho de 2010).
O
ex-ministro Franklin Martins, da Secom, declarou à época que "a idéia
era (é) deixar para o próximo governo propostas que permitam avançar
numa área crucial e enfrentar os desafios e oportunidades abertos pela
era digital na comunicação e pela convergência de mídias" (ver aqui).
Decorridos
quase dois meses da posse do novo governo, e apesar de se constituir em
alvo constante de acusações de censura por parte da grande mídia, não
se conhece publicamente o projeto que teria sido elaborado pela
comissão coordenada pelo ex-ministro Franklin.
Afinal, existe um projeto?
Pré-versões
Ainda
ao final do governo Lula, circularam análises de pré-versões do
projeto, nas quais, em linhas gerais, se destacam os seguintes pontos
(ver, neste OI, "Proposta traz avanços tímidos" e "Proposta aproveita conceitos já discutidos"):
1.
Segue diretivas da União Europeia, isto é, a regulação deve ser
inversamente proporcional ao poder de escolha do usuário: quanto mais
"pronta" é oferecida a programação, maior deve ser a regulação;
2.
Incorpora as normas contidas no PLC 116 que trata da convergência das
telecomunicações com a TV por assinatura e tramita no Congresso
Nacional, desde 2007. Hoje se encontra pronto para votação no Senado
Federal;
3. Prevê a
criação da Agência Nacional de Comunicações, com poder para regular a
prestação de serviço de TV aberta, por assinatura e cinema, cuidando
dos aspectos de programação, distribuição e exibição;
4.
Altera as regras para concessões de rádio e televisão que passam a
incluir audiências públicas locais no processo de renovação e impedem
políticos com mandato eletivo de controlarem empresas concessionárias;
5.
Regula a proteção de crianças, adolescentes e de minorias e outros
setores vulneráveis, além de definir limitações para campanhas
publicitárias dirigidas a esses grupos;
6.
Prevê a instalação de um Conselho ligado ao Executivo, com participação
de diferentes setores da sociedade civil, com as funções de auxiliar no
planejamento do setor, estabelecendo um plano nacional de comunicação; e
7.
Não determina reserva de espectro para os sistemas privado, público e
estatal, nem estabelece limites claros à propriedade cruzada.
Confusão generalizada
Depois
da posse da presidente Dilma, o seu ministro das Comunicações, Paulo
Bernardo, se encarregou de dar diferentes declarações sobre o projeto,
mas garantiu que "ele não estava concluído, que seria examinado por
vários ministérios e passaria pelo aval da presidente, antes de ser
levado à discussão pública" ( "Ministro se diz contra posse de jornal,
rádio e TV na mesma região", Folha de S.Paulo; 13/1/2011).
Especialistas que participaram da elaboração do projeto também deram entrevistas confirmando alguns dos pontos listados acima (ver aqui entrevista do professor Murilo Ramos, da Universidade de Brasília, ao programa Cidadania, da TV Senado). E, mais recentemente, o líder do PT na Câmara dos Deputados publicou artigo em que afirma:
"A
regulamentação do capítulo da Constituição Federal referente à
comunicação é também tarefa estratégica. Há uma chiadeira dos
proprietários dos conglomerados de comunicação, mas a matéria não pode
ser mais adiada. Um novo marco regulatório das mídias, que garanta mais
liberdade de expressão, democratize e impeça a monopolização do setor,
e garanta uma sociedade plural e democrática, é sem dúvida um dos
pontos centrais da agenda do Congresso" (Jornal da Câmara, 4/2/2011, íntegra disponível aqui).
De certa forma, instalou-se uma confusão generalizada em relação não só ao que de fato está no projeto deixado pelo ministro Franklin, como também em relação o que de fato pensa o atual governo sobre a regulação das comunicações.
A quem interessa?
Um bom exemplo dessa confusão foi a manchete de primeira página do Estado de S.Paulo de 27 de janeiro: "Convergência de mídias leva governo a desistir de veto à propriedade cruzada" (ver "A quem interessa a confusão?").
Não
seria melhor para todos – antes mesmo que se transformasse em projeto
de governo e que fosse enviado à Câmara dos Deputados – se o tal
projeto fosse divulgado e os interessados participassem
democraticamente de sua discussão e fizessem sugestões para seu
aprimoramento?
A quem interessa o prolongamento dessa confusão generalizada?
Publicado por Observatório da Imprensa.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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