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Cidades
As próximas enchentes

Publicado em 15.02.11 - Por Vito Giannotti, publicado no jornal Brasil de Fato, edição 415

SORTE GRANDE. Há mais de 15 dias que não há enchentes no Rio. O morro do Bumba, em Niteroi, já está esquecido. O mesmo pode-se dizer dos deslizamentos de Ilha Grande. Quem ainda se lembra? Das avalanches de Friburgo e Teresópolis ainda há lembranças, mas mesmo estas começam a esvair-se. Quantos mortos foram mesmo? 500, 700? Mas agora parou. São Pedro está calmo.

Mas afinal quem são os culpados por essas tragédias? Fala-se de aquecimento global, calotas polares, problemas que o sistema capitalista não está interessado em solucionar. E aí se fazem grandes seminários para descobrir a raiz destes desastres. Como se já não estivéssemos cansados de saber.

Será que o brasileiro tem uma tara especial para fazer sua casa ou muitas vezes barraco em lugares perigosos? Será que é uma mania de irresponsabilidade do nosso povo? Aliás, por que o brasileiro adora morar em favelas? Será que se diverte em construir barracos na beira de córregos, de esgotos, em encostas impossíveis?

Se assim o fosse, seria um povo de estranhas manias. Mas não é.

O Ministério das Cidades diz que há dez milhões de moradias em condições precárias no Brasil. Se diz dez, com certeza são 20. O recém empossado ministro de Ciência e Tecnologia, Aloísio Mercadante, fala de cinco milhões de famílias convivendo com o perigo de enchentes ou deslizamentos de encostas, ou qualquer outro desastre “natural”.

Por que milhões de pessoas vivem nessa situação?

Dados do IBGE revelam que há no país mais de 40 milhões de trabalhadores que não podem nem sonhar em morar decentemente. São pessoas que ganham, de acordo com o órgão, até um salário mínimo por mês. Mas isso é um luxo frente aos 30 milhões de pessoas que vivem, ou melhor, sobrevivem ou vegetam com até R$ 140 mensais. Com este salário dá para escolher onde morar?

E ainda há “otoridade” que diz que os pobres são culpados de morar em áreas de risco. Essas pessoas, que moram em condomínios fechados, muito bem planejados e seguros, não veem que as nossas cidades não têm plano urbanístico. Não querem ver que há vereadores, deputados ou nobres senadores que, em troca de votos dos moradores das encostas perigosas, autorizam qualquer tipo de construção, antes da próxima enchente. O problema não é que o povo tem tara pela irresponsabilidade. É o sistema todinho a ser mudado. Por este povo das encostas. Um dia.


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 NPC - Núcleo Piratininga de Comunicação * Arte: Cris Fernandes * Automação: Micro P@ge