Cidades
População do Rio sofre diariamente as mais profundas violações dos direitos de moradia e humanos
Por Guilherme Marques
O Rio de Janeiro será
sede de uma série de megaeventos esportivos nos próximos anos: Jogos
Mundiais Militares em 2001; Copa das Confederações em 2013; Copa do
Mundo em 2014; Copa América em 2015; e Olimpíadas em 2016. A realização
desses megaeventos está hoje associada ao modelo de empresariamento
urbano. Segundo esse modelo, as cidades devem competir entre si para
atrair capitais. E para isso devem criar condições excepcionalmente
favoráveis para esses capitais terem altos lucros.
A classe dominante
dessas cidades (e do Rio principalmente) usa os megaeventos como forma
de propaganda, para criar um sentimento de patriotismo da cidade.
Sabemos que a disputa de hegemonia se dá através do consentimento e da
coerção. O consentimento vem através do patriotismo da cidade, que
favorece que conflitos e críticas sejam vistos como ações contra os
cariocas, o progresso e o espírito olímpico. Mas há também a coerção.
Essa é usada para “limpar” as áreas valorizadas ou em vias de
valorização da cidade. Essa limpeza social é realizada através de
remoções, despejos, das chamadas revitalizações -que nada mais são além
do aburguesamento de determinadas áreas populares, repressão e expulsão
da população de rua, ambulantes etc.
Para colocar em
prática esse projeto, os governos, empresários e a mídia argumentam que
é necessário flexibilizar as leis. Flexibilizam as leis fiscais, de
licitações, urbanas, ambientais e mesmo a garantia dos direitos como
moradia, manifestação, de ir e vir etc. Criam uma verdadeira cidade de
exceção. Argumentam que isso tudo é necessário para se cumprir os
prazos das obras e para não passarmos constrangimentos internacionais.
Assim, fazem tudo ao gosto do freguês, o capital, e tudo contra os
trabalhadores e moradores da cidade.
Nesse momento, o Rio
está vivendo o início das obras e intervenções urbanas relacionadas aos
megaeventos. Diariamente temos visto as mais profundas violações dos
direitos de moradia e humanos em geral. Dezenas de milhares de
remoções, despejos e demolições estão programadas e começando a serem
praticadas, e normalmente sem qualquer mandato judicial. A Zona Oeste
carioca está virando um grande canteiro de obras. E todos os lugares
que recebem obras recebem também demolições e repressão, seja antes da
obra começar ou após seu término, quando a região efetivamente se
valoriza. Taboinhas, Vila Recreio II, Vila Autódromo são, entre muitas
outras, algumas das comunidades sob ataque.
É necessário
resistir. Somente a resistência possibilitará que essas comunidades não
sejam removidas ou, em caso de haver a remoção, que essas se dêem da
melhor forma possível para os trabalhadores pobres que moram e
trabalham nessas localidades (ou seja, remoções só após muita discussão
com a comunidade para estudo de alternativas, serem removidos sem
violência, avisados com antecedência, com auxílio para transporte e
para boas casas ou prédios construídos na mesma região). Uma boa
cartilha sobre o tema foi preparada pela Relatoria para o Direito à
Moradia da ONU e pelo Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria
Pública do Rio e setá disponível em: www.direitoamoradia.org
Para resistir é
preciso se organizar: fazer assembléias e criar seu movimento contra a
remoção. É preciso também procurar ajuda dos movimentos sociais
organizados que têm mais experiência nessa luta, como o MNLM, a CMP, o
Conselho Popular, os movimentos de direitos humanos etc. Além disso, é
importante obter apoio jurídico, parlamentar, técnico (com sindicatos,
universidades e ONGs) etc. Por fim, é preciso divulgar o que está
acontecendo e buscar mais informações que possam ajudar em cada uma
dessas lutas.
Mas a resistência
precisa começar já, antes que as retroescavadeiras façam todo o seu
estrago. E, depois de organizada a resistência em cada comunidade, será
necessário a união de todas essa comunidades e ocupações em luta,
juntar todos os apoios jurídicos, parlamentares, técnicos etc para
juntos conseguirmos mudar os rumos dessa cidade. Cidade que pode ser
realmente linda e muito atrativa para seus moradores e visitantes, mas
para isso precisa é de igualdade, justiça, respeito aos direitos,
moradia digna pra todos, transporte de qualidade e barato, saneamento,
saúde e educação públicas etc.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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