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Funcionários da Prefeitura do Rio desrespeitam moradores da comunidade Vila Harmonia
Publicado em 17.12.10 - Por Rede Contra a Violência
A Prefeitura do Rio
não mede esforços em manter a indeterminação jurídica e as medidas de exceção
contra dezenas de famílias residentes ao longo do corredor Transoeste. O último local atacado foi a comundade Vila Harmonia, que fica no Recreio dos Bandeirantes. Nesta
quinta-feira, dia 16 de dezembro, os senhores Leandro, Alvir e Thiago, da Subprefeitura da Barra, comandaram uma equipe de Guardas Municipais e
peões da Secretaria Municipal de Obras em mais um ataque contra famílias
desesperadas.
Na parte da manhã, partiram para cima de uma
casa cujos responsáveis encontravam-se no trabalho, mas deixaram suas crianças
sob os cuidados da matriarca, uma anciã de quase 90 anos. Eles chegaram a
dar ordens para a retroescavadeira da Odebrecht avançar contra os moradores que
questionavam os métodos e os procedimentos dos ditos agentes públicos.
Guarnições do 31º BPM e da 42ª DP acompanhavam ao longe e, mesmo reconhecendo a
ilegalidade das ações, nada fizeram.
A comunidade foi salva pela chegada de um
Oficial de Justiça que trazia a liminar conseguida junto ao Tribunal de Justiça
do Rio pelos Defensores Públicos do Núcleo de Terras e Habitação. Entretanto,
como a liminar era restrita a algumas famílias identificadas no pedido, os funcionários da Prefeitura tentaram destruir mais uma residência,
igualmente com moradores em horário de trabalho e que não aceitaram as propostas
ultrajantes da Secretaria Municipal de Habitação.
No final da tarde, sem conseguir grandes
avanços em sua empreitada, novas ordens foram dadas aos marreteiros para atacar
uma casa onde parte da família, residente no andar térreo, aceitou as condições
impostas, mas as pessoas dos andares superiores rejeitaram tal humilhação. Desta
feita, os marreteiros atacaram ferozmente colunas e paredes do andar térreo, o
que pode ter colocado em risco toda a estrutura onde mora uma família de quase
dez pessoas.
Mas o mais grave ainda não veio à tona. Na
comunidade Vila Harmonia funcionam duas Casas de Santo, os terreiros de Sérgio
d’Ogun, o Ile Aset’ Ogun T’ Yemonja, e o Ile Asé T’ Òsún, da Ìyálórìsà Ivânia.
Tratam-se de terrenos sagrados na tradição das respectivas linhas, com trabalhos
feitos há décadas e que são muito respeitados por toda a comunidade. Infelizmente, ao receberem a visita das assistentes sociais
da SMH, apesar de terem sido realizadas as pixações que marcam as casas
condenadas para demolição, não foi feito qualquer cadastro ou avaliação das
casas. Questionadas pelos respectivos sacerdotes do porquê, as ditas assistentes
simplesmente informaram que “estabelecimentos comerciais” não eram passíveis de
indenização por parte da Prefeitura. Esta é a forma como os agentes supostamente
públicos tratam as religiões afro-brasileiras.
Eis a faceta mais perversa do preconceito:
Não basta o preconceito de classe e a “constatação” de que os pobres não tem
lugar nas valorizadas glebas do Recreio dos Bandeirantes. É preciso humilhar e
rebaixar ao nada toda uma história de trabalho social e religioso dos sacerdotes
e suas famílias, seus seguidores, suas crenças e sua fé num futuro próspero para
nossa sociedade doentia.
Uma vez mais, a pergunta que não quer calar:
por onde andará os estudo de impacto ambiental do corredor Transoeste que não
foi capaz de identificar a demanda por habitações para as centenas de famílias
assentadas ao longo da nova rodovia? O que dirá o técnico ambiental sobre um
projeto que ignora a existência de autênticas manifestações de religiosidade
ancestral de parte significativa da nossa população?
Uma sociedade movida cada vez mais por
fluxos financeiros, investimentos transnacionais e pela ideologia do consumismo
usa da marreta e da retroescavadeira privada para destruir histórias, tradições,
culturas. Graves crimes contra a Vida, contra a liberdade de culto, contra o
direito à Moradia Digna estão sendo executados dia após dia pelos representantes
da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Poucas são as instituições que se
mobilizam pelo restabelecimento da legalidade e da paz entre as famílias
atingidas por tal calamidade. Mas a luta continua e a mobilização de todos é
fundamental.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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