Comunicação Alternativa
Comunicação digital: uma das frentes da batalha hegemônica
Martin Granovsky, Renato Rovai, Katia Marko, Silvio Mieli, Bernardo Joffily e Denise Simeão
[Por Sheila Jacob] O jornalista argentino Martin Granovsky, do Pagina 12, deu continuidade às discussões da manhã de sexta-feira, 26 de novembro, na mesa sobre “comunicação digital e a batalha hegemônica”. Além de defender os jornais alternativos impressos, ele chamou atenção para a importância da qualidade dessas publicações. Só assim poderá ser feito um enfrentamento aos ataques veiculados pela mídia contra governos como Chávez, Morales, Kirchner, Lula, Mujica, Kirchner e outros latino-americanos. “O Brasil precisa ter uma Pagina 12”, afirmou, se referindo ao jornal alternativo argentino no qual trabalha. “A mídia não tem que ser marginal do ponto de vista formal, estético e da modernidade, porque assim não vai chegar ao público nem vai conseguir propaganda. A exigência de qualidade dos jornais populares é cada vez mais alta. O Brasil tem capacidade de criar novos jornais diários alternativos”, ressaltou.
Otimista em relação ao poder comunicacional dos trabalhadores, o jornalista Bernardo Joffily lembrou que o século 21 nos deu exemplo das derrotas dos candidatos da mídia em 2002, 2006 e 2010. Para ele, que é fundador do Portal Vermelho, a eleição presidencial direta no Brasil e na América Latina se revelou como uma grande fragilidade do sistema dominante, pois a grande mídia teve que assumir seu papel de partido político. “Temos o privilégio de viver, nessa primeira década do século 21, uma revolução comunicacional de imenso significado para a nossa emancipação. E a Internet é a ponta de lança dessa revolução”, afirmou. Ele lembrou os exemplos do Pagina 12 argentino e do La Jornada mexicano, e disse ter a ambição de que sejam construídos grandes jornais de esquerda no país. “Isso tanto em relação aos de papel quanto na internet, além de avançar por outros meios, como TVs e rádios, para enfrentar a mídia deles”, concluiu. Possibilidades e limites da rede digital Para o pesquisador e professor de jornalismo da PUC-SP, Silvio Mieli, a principal questão é pensar como lidar com todas as potencialidades da Internet. Para isso, ele defendeu a politização do debate em torno da tecnologia e o questionamento de dados técnico-científicos. “Esse é um passo importantíssimo: usufruir desse papel da internet como resistência, e não deixar essa discussão para os argumentos científicos, hoje vinculados à tecnologia e mercantilizados”. Isso porque, segundo ele, a mídia está vendendo a cultura tecnológica sem crítica alguma. Por isso, Mieli defende o pensamento crítico sobre essas novas realidades ao invés de se aceitar, sem objeção, os produtos tecnológicos. Para finalizar, lembrou Oswald de Andrade e o projeto da antropofagia: “acho que devemos capturar, deglutir e aproveitar o que as novas tecnologias nos oferecem, agindo criticamente em relação a elas”. Alguns movimentos históricos que representam a importância da mídia digital na organização social foram lembrados pelo blogueiro e editor da Revista Fórum Renato Rovai. Ele citou o Movimento Zapatista, as manifestações de Seattle contra o encontro da OMC em 1999 e também o 1º Fórum Social Mundial, realizado em 2001 em Porto Alegre, encontro construído em rede. Para o jornalista, esses são alguns exemplos de que essa possibilidade comunicacional existe e deve ser disputada. Segundo Rovai, o grande número de blogs progressistas seria uma mostra dessa postura. Ele lembrou que hoje existem 130 milhões de blogs, alguns deles com grande número de acessos. “Está sendo construída uma outra esfera de comunicação que disputa poder. A eleição de 2006 foi diferente da de 2010 do ponto de vista do enfrentamento midiático, que se deu prioritariamente na internet, já que na TV e nos jornais o que havia era consenso”. Para o blogueiro, os sindicatos estão absolutamente atrasados frente a essa questão. “O movimento sindical deve repensar a sua postura, a sua lógica de ação, e garantir a pluralidade que os meios eletrônicos possibilitam. A questão é: vamos disputar esse projeto, ou vamos entregar para os barões midiáticos?”, finalizou. TV Movimento: experiência de audiovisual A jornalista Denise Simeão, da TV Movimento, acrescentou ao debate da rede a necessidade de investimentos nos meios audiovisual. “Foi pensando nisso que criamos, em São Paulo, a WebTV Movimento” . Como Denise explicou, a TV trabalha em quatro dimensões: consiste em espaço de divulgação de produções e estimula programas jornalísticos diários; procura explorar a potencialidade da interatividade e do diálogo; trabalha pela formação dos trabalhadores, para que não apenas recebam, mas também possam fazer comunicação; e, por fim, abre espaço para veicular o que outros grupos e organizações estão fazendo. “Acho que nós, militantes da comunicação, devemos contribuir para a unificação e multiplicação das ações de esquerda. Na nossa TV, por exemplo, há espaço para várias opiniões. Espero que todos os presentes se sensibilizem para essa questão”, concluiu.
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