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Por NPC
MC Leonardo fala sobre mídia, violência e criminalização do funk

O presidente da Associação dos Amigos e Profissionais do Funk (Apafunk) MC Leonardo esteve de volta no 16º Curso Anual do NPC para falar sobre mídia, violência e UPPs. Sua primeira participação havia sido em 2008 quando, ao lado da professora Adriana Facina, da UFF, rompeu preconceitos ao defender o funk como manifestação cultural e esclarecer sua importância na divulgação da voz da favela.
Nessa entrevista, MC Leonardo fala sobre a trajetória da Associação, a importância do funk como veículo de comunicação alternativa e a necessidade da mobilização e participação popular, além de falar sobre o filme Tropa de Elite. Confira a entrevista.

Por Marina Schneider


De que maneira a mídia estimula a violência?
Acho que a mídia gera a violência ao estimular um consumo que não tem condições de ser suprido. O capitalismo vai incentivando isso com seus filmes hollywoodianos, com as propagandas, e nós vamos consumir mesmo porque aprendemos desde cedo que “ter” é importante. Essa é uma matemática que não vai bater: o poder de compra não é igual ao que está sendo proposto. Em uma cidade onde o dinheiro ilegal está em todas as esferas de poder e em todas as classes sociais, acho que a melhor maneira de se melhorar seria a criminalização da riqueza. Basta ir ao cartório e pesquisar quem comprou mansões, ir na rua e ver quem está dirigindo os carros mais caros. Agora, como vai fazer isso, mexendo no setor do automobilismo e no imobiliário? Quem quer fazer isso no Rio de Janeiro?


O que motivou a criação da Apafunk? E qual o papel que os movimentos sociais têm?
O principal problema interno do funk é o monopólio, que escraviza. Nós precisávamos no mínimo negociar nossos contratos, que hoje são impostos, tanto no caso do Marlboro quanto do Rômulo Costa. Hoje são quase 18 mil contratos assinados, a maioria por moradores de favelas. Já o problema externo era a Secretaria de Segurança Pública que tratou do problema do funk durante 20 anos. Toda essa linguagem do funk de hoje foi por causa da segregação. Criar uma lei que serviria para regulamentar, mas que inviabiliza o negócio gera a possibilidade muito grande de corrupção para a polícia. Imagina hoje, com 300 bailes no Rio de Janeiro! A Apafunk então foi fundada para tentar tratar desses problemas. Foi em cima do projeto de lei de reconhecimento do funk como movimento cultural [PL 1671/2008] que nasceu a Apafunk. Agora precisamos ter força para fazer com que o poder público cumpra, porque lei nenhuma muda nada, somos nós que fazemos a mudança. É claro que ter a lei é muito importante, mas isso não basta.

Temos ainda algumas dificuldades. Não é fácil reunir o setor do funk, e eu consegui um pouco isso a partir do apoio da professora da UFF Adriana Facina, que me levou para o meio universitário. Essa aproximação foi o que permitiu que eu me aproximasse de outros setores e movimentos, como o NPC que eu conheço há dois anos. Estou aqui hoje porque acredito que esse é um dos pilares da mudança que o Rio de Janeiro precisa: a comunicação.


O funk pode ser definido como um espaço de democratização da comunicação nas favelas, já que a mídia empresarial não dá espaço para seus moradores?
É exatamente isso, não temos outra opção. O funk é o nosso veiculo de comunicação, e é um dos mais poderosos do país. Ele está no forró da Paraíba, no carnaval da Bahia, em vários locais. Que outras músicas de outros estados estão perambulando pelo Brasil dessa forma? Imagina se as populações ribeirinhas tivessem um veiculo de comunicação como este para divulgar as suas dores? O problema é que, com a segregação e a falta de organização do funk, os moleques não sabem usar a arma que tem. Alguns até estão sabendo sim, e já começam a ser tachados de “proibidão”. A gente só não pode esquecer que eles falam o que estão vendo e vivendo. Agora, nós não podemos simplesmente fazer da violência um filme de ação. Narrar só por narrar não vai chegar aonde queremos. Então temos que conscientizar, abrir os olhos para essa importância, e deve ser da maneira que estamos fazendo aqui: debatendo, refletindo.

Você acha que um dos motivos para a mídia criminalizar o funk é porque este seria um espaço alternativo de comunicação?
Claro, assim como fez com o jongo, com o samba. A mídia sempre cumpriu esse papel. O que diferencia é que o samba parou no abuso do poder policial, não teve uma lei que proibisse. Já o funk foi proibido por lei.


E isso ajudou na mobilização?
Exatamente, ajudou na união, quando todo mundo viu a necessidade de reconhecer o funk como movimento cultural. Já questionaram por que o funk precisa de lei para ser reconhecido, se nenhuma outra cultura precisou. Ora, é porque nenhuma cultura sofreu proibição e criminalização por lei. Pela nossa organização, conseguimos que a Alerj reconhecesse o erro. Depois de toda perseguição histórica sofremos o primeiro abuso do Executivo quando o Governador Marcelo Alencar dificultou os alvarás de funcionamento de bailes. Em 2007 sofremos o abuso Legislativo [lei 5265, de autoria de Álvaro Lins] e, antes de chegar no abuso do Judiciário, demos nosso grito de socorro. Tenho muito orgulho porque, apesar de não ser funcionário de gabinete nem filiado a partido político algum, as entradas da Alerj hoje estão abertas para mim. As pessoas reconhecem em mim uma pessoa que acreditou que aquele lugar era de fazer mudança. É isso que eu quero falar nas favelas.

 

Como você acha que outros setores podem conseguir se mobilizar, e de que forma a mídia alternativa pode ajudar?
Acho que cada um tem que procurar seus iguais para se organizar. Quantas vezes falaram pra mim que eu não ia conseguir nada na Alerj porque é racista e preconceituosa? Também acho, mas ela não é só isso. Foi acreditando nisso que eu fui até lá e conheci o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que me apresentou tudo lá dentro.


Você acha que a forma como a mídia transmite a violência, se aproximando do espetáculo, estimula a violência nas favelas?
Acho que a divulgação da violência está em todos os aspectos, e atinge todo mundo. Eu li o primeiro roteiro do Tropa de Elite, porque fui chamado em 2005 para ler sobre o filme. Todas as vezes que li o roteiro eu falei que o Padilha seria incapaz de fazer o que estava falando. No roteiro o filme não era narrado pelo Capitão Nascimento. Fui descobrir a narração quando assisti no cinema, mas acho que, mesmo assim, o assunto veio à tona e imortalizou o episódio. Mesmo se a polícia um dia parar de usar o “saco” e de torturar as pessoas, isso está imortalizado no Tropa de Elite 1. Nossa vergonha está lá. Acho que isso a gente vai ganhar no futuro. Hoje quem apóia o Capitão Nascimento não está vendo que o filme mostrou uma policia maquiavélica, que tortura, mata, e, como diz o próprio Nascimento, a estratégia só tem lógica se a missão faz sentido. Que estratégia é essa de mandar caveirão para as favelas? Isso não faz sentido. Foi a partir do Tropa que passamos a debater tanto o assunto. Já o segundo filme nos dá a real noção de que é necessário chegar até o poder. A polícia é submissa a ele. O que é a UPP? O Estado dando poder para a força. Temos exemplos recentes de que dar poder para a força não dá certo.


Você concorda que a UPP seria uma “imposição da paz”?
Essa é uma fala do Rodrigo Pimentel, ex-capitão do BOPE, em seu primeiro dia como comentarista da Rede Globo no RJTV. Ele disse que a política das UPPs se dividia em duas partes: a imposição e o controle da paz. No final querem controlar a paz. “Não pode fazer isso, não pode andar por ali, não pode voltar para casa”. Esse é o valor da paz.


Sobre o papel da educação. Você acha que essa aproximação com as universidades e com os professores é o que hoje ajuda a sustentar essa luta?
Exatamente, a aproximação de todos é importante: entre universidade e favela, professor e aluno, mas acho que isso ainda está muito distante. Outra coisa a ser feita é a conscientização dos direitos dos cidadãos e das instituições públicas. As pessoas não sabem, por exemplo, para que serve ou deveria servir o mandato de senador, qual a diferença deste para deputado etc. Não estou falando só de pessoas da favela não, é da sociedade como um todo. É como se você chegasse ao médico e não soubesse falar onde dói. Como ele vai te receitar?   


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 NPC - Núcleo Piratininga de Comunicação * Arte: Cris Fernandes * Automação: Micro P@ge