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Aumentam as denúncias de violações de direitos na Vila Cruzeiro
Publicado em 3.12.10 - Por Rede de Comunidades Contra a Violência
Militantes da Rede contra Violência estiveram no dia 1º de dezembro na Vila Cruzeiro, e puderam recolher diversas denúncias de violações dos direitos humanos por parte das forças de segurança estatais (polícia e forças armadas) que ocuparam recentemente a localidade. Nesta visita também participaram correspondentes de uma televisão européia e jornalistas de um grande jornal paulista.
O ambiente na comunidade é de extrema tensão e é possível perceber o
quão apreensivos e desconfiados estão os moradores. Quase toda a
atenção está voltada para os últimos acontecimentos e suas
rotinas foram inteiramente alteradas. Os militantes da Rede ouviram
diversos relatos que, de uma maneira geral, expressavam a preocupação
dos moradores com o que poderia acontecer com seus familiares e em suas
casas quando lá não estivessem.
À medida que caminhavam, os referidos militantes e jornalistas eram
abordados por moradores revoltados com a situação e que gostariam, de
alguma forma, de denunciar a situação que estavam vivenciando. Não era
preciso abordar as pessoas e perguntar sobre violações, os moradores
procuravam o grupo espontaneamente. Cerca de 30 pessoas prestaram queixas e denúncias. A cada passo ficava muito claro que a versão oficial de um
apoio irrestrito da população local a ação do Estado não se sustenta.
Há uma preocupação generalizada com a forma como as revistas aos
moradores e às casas são realizadas. Diversas pessoas, que quase sempre
não queriam se identificar por medo do que lhes poderia acontecer, já
que temem represália às suas denúncias, reclamavam de humilhações
sofridas, especialmente as diferentes formas de violência física e
psicológica às quais foram submetidos. Muitos, é possível afirmar,
foram ofendidos em sua dignidade de seres humanos.
O procedimento padrão utilizado pelos policiais, especialmente os da
polícia militar, é o seguinte: sem mandato de busca e apreensão
ou outra autorização judicial, que legalmente permitiria a entrada nas
casas, os agentes de segurança arrombam portas, portões e grades, com
pessoas no interior ou não. Reviram os móveis e outros pertences, levam
objetos de valor e quebram o que sobra. Em uma das primeiras casas que
visitamos, percebemos muitos objetos revirados e jogados no chão. A
moradora nos informou que os policiais levaram a televisão e inclusive
o chuveiro do banheiro. A geladeira desta moradora foi vendida pelos
policiais a outro morador local pelo valor de R$ 500,00.
Moradores que os militantes da Rede encontraram ao
caminhar pela comunidade disseram que não agüentam mais a presença da
polícia. Dizem que agora são obrigados a trancar toda a casa e estão
com medo que roubem seus pertences e outras violências sejam cometidas.
Outro morador relatou que arrebentaram a porta de sua residência e que
agora têm que tomar mais cuidado. No momento em que conversavam com
este último, aparece um senhor, que mora na localidade há mais de 50
anos, e reclama da repetição das abordagens dos policiais às casas.
Mais à frente, um grupo de mulheres reclama que entrou em contato com a
Comlurb para que esta retirasse carros queimados próximos às suas
residências, mas não obtiveram resposta.
Moradores também criticam ação do BOPE na comunidade
Além das críticas aos arrombamentos e roubos de objetos, muitos
moradores reclamaram da forma de tratamento desrespeitosa e humilhante
por parte dos agentes de segurança. Uma moradora disse que “eles nos
tratam como bicho”. Ela ainda informou que policiais do Batalhão de
Operações Especiais (BOPE) têm uma atitude
completamente diferente quando não há mais luz do dia ou as câmeras da
imprensa por perto. Reclamaram, ainda, da truculência dos policiais do
16° Batalhão.
Em outra situação, policiais do 22° Batalhão, não identificados
(como, de resto, acontece com a maioria dos policiais), entraram numa
casa, amordaçaram um jovem, levaram-no para um dos cômodos da
residência e retiraram os seus familiares, inclusive crianças recém
nascidas, colocando-as na rua. Enquanto mantinham o jovem amarrado,
bateram nele com um cabo de vassoura. Perguntavam se ele possuía alguma
informação sobre bandidos, mas o jovem afirmava que não. Em vão. Os
policiais perguntaram, então, se ele tinha dinheiro, pois, se tivesse,
não quebrariam nada em sua casa. Entretanto, percebendo que as pessoas
ali eram pobres, os policiais quebraram o forro do teto e pegaram
celulares. Importante mencionar que alguns policiais estavam de touca
ninja. Antes de irem embora, ainda pegariam uma foto do referido jovem,
sem explicar o motivo de tal atitude.
Durante toda a caminhada realizada, a principal denúncia recebida
foi a de que um outro jovem teria sido assassinado pela polícia, fato
não noticiado pela imprensa. Segundo informações, os policiais acharam
que se tratava de um traficante. O jovem foi morto e seus restos
mortais jogados a animais.
A comitiva da Rede e da imprensa foi à localidade da Vila Cruzeiro
chamada Vacaria, onde até a tarde de sábado (27/11) havia cadáveres
insepultos sendo devorados por porcos. Era possível sentir o forte cheiro de
decomposição, vindo de um matagal, mas foi impossível verificar a
existência de restos humanos. Uma viatura da PM (que foi filmada pelo
cinegrafista da TV estrangeira) exalava forte
odor de restos em decomposição.
A Rede irá recorrer ao Ministério Público para organizar uma ida à
comunidade, sem acompanhamento policial ou da imprensa, para que as
inúmeras denúncias possam ser formalizadas com segurança pelos
moradores.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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