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Comunicação digital: uma das frentes da batalha hegemônica

Publicado em 26.11.10

O jornalista argentino Martin Granovisk, do Pagina 12, deu continuidade às discussões da manhã de sexta-feira na mesa sobre "comunicação digital e a batalha hegemônica". Assim como na mesa da manhã, ele também defendeu os jornais alternativos impressos, atentando para a importância de se investir na qualidade dessas publicações para poder fazer um enfrentamento aos ataques veiculados pela mídia principalmente contra os governos que implementam políticas chamadas por Marco Aurelio Garcia como “pós-neoliberais”. Nesse grupo estão incluídos os governos Chávez, Kirchner, Pepe Mujica, Kirchner, Lugo e outros latino-americanos. O argentino lembrou que, ao mesmo tempo em que mídia atinge o máximo patamar histórico de sua concentração, enfrenta os fracassos das tiragens e da tentativa de liquidar processos de lutas populares na América Latina.

Ele citou ainda uma entrevista feita com Lula antes de sua reeleição, na qual ele disse que, se fosse pela mídia, não teria os 80% de aprovação de seu governo; seria 10% no máximo. “Ou seja, essa mídia foi vencida três vezes: 2002, 2006 e 2010”, observou. Segundo ele, as possibilidades da mídia são cada vez maiores e mais plurais, e a seleção de notícias e de páginas confiáveis se torna cada vez mais importante. Por isso é preciso investir na qualidade dos meios alternativos: “O Brasil precisa ter uma Pagina 12”, afirmou, se referindo ao jornal alternativo argentino no qual trabalha. “A mídia não ter que ser marginal do ponto de vista formal, estético e da modernidade, porque assim não vai chegar ao público nem vai conseguir propaganda. A exigência de qualidade dos jornais populares é cada vez mais alta. O Brasil tem capacidade de criar novos jornais diários alternativos”, concluiu.

Otimista em relação ao poder comunicacional dos trabalhadores, o jornalista Bernardo Joffily, fundador do Portal Vermelho, lembrou que o século 21 nos deu exemplo das derrotas dos candidatos da mídia em 2002, 2006 e 2010. Para ele, a eleição presidencial direta no Brasil e na América Latina se revelou como uma grande fragilidade do sistema dominante, pois a grande mídia teve que assumir seu papel de partido político, que, apesar de sempre ter existido, antes não era assumido. “Temos o privilégio de viver, nessa primeira década do século 21, uma revolução comunicacional de imenso significado para a nossa emancipação. E a Internet é a ponta de lança dessa revolução”, afirmou. Ele lembrou os exemplos do Pagina 12 argentino e do La Jornada mexicano e disse ter a ambição de que sejam construídos grandes jornais de esquerda no país. Isso tanto em relação aos de papel quanto na internet, além de avançar por outros meios, como TVs e rádios, para enfrentar a mídia deles”.

 
Possibilidades e limites da rede digital

O pesquisador e professor de jornalismo da PUC-SP, Silvio Mieli, citou um artigo publicado na Super Interessante em setembro de 2009 intitulado “Lugar de criança é na internet”. O texto mostra o aumento do tempo que as crianças passam em frente ao computador, o grande número de acessos e determina que o futuro de nossas vivências e relações sociais está reservado à realidade virtual. “O que a mídia está nos vendendo, com o respaldo da ciência, é que no futuro todos estarão em rede, construindo nela as relações uns com os outros. Parece que o objetivo do texto é vender essa cultura tecnológica sem crítica alguma”, analisou. Para Mieli, a principal questão é pensar como lidar com todas as potencialidades da Internet, defendendo a politização do debate em torno da tecnologia e o questionamento de dados técnico-científicos. “Esse é um passo importantíssimo: usufruir desse papel da internet como resistência, e não deixar essa discussão para os argumentos científicos, que estão vinculados à tecnologia e hoje estão mercantilizados. Por isso nós temos que pensar criticamente sobre essas novas realidades e não aceitar sem objeção os produtos tecnológicos”, observou. Para finalizar, lembrou Oswald de Andrade e o projeto da antropofagia: “acho que devemos capturar, deglutir o que nos oferecem as novas tecnologias, aproveitando o que nos oferecem e agindo criticamente em relação a elas”. 

Alguns movimentos históricos que representam a importância da mídia digital na organização social foram lembrados pelo blogueiro e editor da Revista Fórum Renato Rovai. Foram citados o Movimento Zapatista, as manifestações de Seattle contra o encontro da OMC em 1999 e também o 1º Fórum Social Mundial, realizado em 2001 em Porto Alegre, encontro construído em rede. “O Fórum foi muito importante porque vimos como havia pessoas no mundo inteiro que pensavam como nós, em um momento em que, a partir da declaração de Fukuyama, se falava no fim da história pela existência de um pensamento único". Para o jornalista, esses são alguns exemplos de que essa possibilidade comunicacional existe e deve ser disputada. "A internet é um dos meios em que esse pensamento único é questionado”. Os blogs progressistas são alguns exemplos dessa postura, e Rovai lembrou que hoje existem 130 milhões de blogs, alguns deles com muita força. O do Paulo Henrique Amorim, por exemplo, recebe  12 milhões de acessos individuais. “Está sendo construída uma outra esfera de comunicação que disputa poder. A eleição de 2006 foi diferente da de 2010 do ponto de vista do enfrentamento midiático, que se deu prioritariamente na internet" . Para o blogueiro, os sindicatos estão absolutamente atrasados frente a essa questão. “O movimento sindical deve repensar a sua postura, a sua lógica de ação, e garantir a pluralidade que os meios eletrônicos possibilitam. Para nós, interessa uma internet libertária. A questão é: vamos disputar esse projeto, ou vamos entregar para os barões midiáticos?”, finalizou.   

TV Movimento: experiência de audiovisual

A jornalista Denise Simeão, da TV Movimento, acrescentou ao debate da rede a necessidade de investimentos nos meios audiovisual. “Hoje temos uma grande produção audiovisual, e sua associação às redes é algo que precisamos explorar mais. Foi pensando nisso que criamos, em São Paulo, a WebTV Movimento” . Como Denise explicou, a TV trabalha em quatro dimensões: consiste em espaço de divulgação do grande número de produções, e aponta para a produção de programas jornalísticos diários; procura explorar a potencialidade da interatividade e do diálogo; trabalha pela formação dos trabalhadores, para que não apenas recebam, mas também possam fazer  a própria comunicação; e, por fim, abre espaço para veicular o que outros grupos e organizações estão fazendo."Acho que nós, militantes da comunicação, devemos contribuir para a unificação das ações de esquerda. Na nossa TV, por exemplo, há espaço para várias opiniões. Espero que todos os presentes se sensibilizem para essa questão", concluiu. 


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 NPC - Núcleo Piratininga de Comunicação * Arte: Cris Fernandes * Automação: Micro P@ge