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"O jornal não acabou", dizem Beto Almeida e Vito Giannotti
Publicado em 26.11.10
“Nós precisamos desesperadamente de um jornal popular no Brasil, e temos todas as condições de tê-lo”. Foi com essa afirmação que o jornalista Beto Almeida deu início à sua fala na manhã dessa sexta-feira, 26 de novembro, na mesa sobre o futuro do jornal impresso. O jornalista, que é da Telesul e da TV Cidade Livre, emissora comunitária de Brasília, lembrou a queda nas vendas e até o fim de alguns jornais impressos, mas atentou para a necessidade de um veículo popular de alcance de massa. Apesar de historicamente ter havido jornais de diversos tipos, sindicais, republicanos e anarquistas, por exemplo, a taxa de leitura de jornais no Brasil ainda é um desafio a ser vencido: “A economia mais desenvolvida da América Latina não consegue superar a taxa de leitura de países como a Bolívia”, destacou. Beto Almeida defendeu um jornal impresso público, de massas, popular, de preferência de circulação gratuita e aberto à participação da sociedade, o que, segundo ele, é indispensável para a cidadania e para aperfeiçoar a democracia. Defendeu também uma política pública de edição e massificação de leitura do jornal, já que há deficiência de empregos para jornalistas, além da ociosidade de 50% da indústria gráfica brasileira em um país que precisa ler, mas que não tem acesso. “Temos que assegurar o que está escrito na Constituição: o direito de todo cidadão a informação educativa, plural, de qualidade, com responsabilidade social”. O jornalista lembrou iniciativas de outros países da América Latina que já perceberam essa importância do jornal impresso: na Venezuela, o Correo do Orinoco voltou a ser impresso há menos de um ano, e terá uma tiragem de 500 mil exemplares, como informou o presidente Hugo Chávez. No Equador, junto com a rádio e a TV pública nasceu o jornal público El Telegrafo. Na Bolívia, em novembro do ano passado, o presidente Evo Morales criou o Jornal Cambio, que hoje é o de maior tiragem no país. Há ainda iniciativas similares na Nicarágua, o La Jornada, jornal de esquerda de grande tiragem, e o Página 12 na Argentina... Além da política pública de edição e massificação da leitura de jornais no Brasil, Beto Almeida por fim defendeu que a Empresa Brasileira de Comunicação, além da Agência de Notícias, da TV e da Rádio, tenha um jornal impresso. “Estou defendendo a Constituição, e o Estado Brasileiro deve cumprir esse capítulo, já que o mercado não cumpre”. Nesse sentido, existe uma Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão promovida por entidades e assinada pelo jurista Fábio Konder Comparato. A petição requer que o Congresso Nacional promova a total regulamentação dos artigos 220, 221 e 223 da Constituição Federal, relativos à comunicação social. Um verdadeiro "jornal do Brasil" ainda nem existiu
Representando o jornal Brasil de Fato, do qual é um dos colaboradores, o coordenador do NPC Vito Giannotti começou respondendo à pergunta que a mesa propõe: “O jornal impresso acabou?”. Para ele, um verdadeiro jornal do Brasil ainda nem começou. Assim como fez Beto Almeida, Giannotti também defendeu jornal diário com financiamento público, historicamente um dos meios de divulgação de ideias, como Lenin já havia percebido em 1902 quando lançou seu famoso texto Por Onde Começar. Lembrando os quatro momentos de grande circulação de jornais no Brasil, Giannotti voltou a 1919 quando em São Paulo e em Recife surgiram, respectivamente, os jornais diários A Plebe e A Hora do Povo, ambos fechados pela repressão. Há também o exemplo do Partido Comunista Brasileiro que em 1946 se legalizou e lançou oito jornais diários em todas as capitais. “Aqui no Rio, a Tribuna Popular, do Partido Comunista, tinha tiragem diária igual ao maior do Brasil, o Correio da Manhã, com 20 mil exemplares”. Além destes, na década de 1990 havia sis jornais sindicais diários, “num tempo em que nós, da militância de esquerda, havíamos percebido a importância da comunicação para nossas lutas”. Hoje, o Sindicato dos Bancários de Salvador e os Metalúrgicos de São Bernardo do Campo nos dão exemplos de jornais sindicais diários, sendo que este último não sai às segundas-feiras. Para provar que o jornal impresso não acabou, Giannotti apresentou três periódicos atuais de distribuição gratuita e com grande circulação: o Desktak, do Rio; o Metro News, de São Paulo; e a Folha Universal, que possui uma tiragem de mais de 2 milhões de exemplares. Por fim, contou um episódio no qual a estudante de jornalismo Gizele Martins esteve envolvida, quando foi fazer campanha no Complexo da Maré, onde mora, e descobriu que a maioria das pessoas não sabia nada sobre as eleições. “Cadê o nosso jornal para informar essas pessoas?”. Para concluir, Giannotti disse ser a favor das novas ferramentas da Internet, como twitter, blog e facebook, mas ressaltou que estas devem ser aliadas à produção e à distribuição de milhões de jornais impressos, com financiamento público, uma boa pauta e uma bela diagramação.
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