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16º Curso Anual do NPC: Tariq Ali e Marcelo Santos debatem hegemonia político-cultural dos Estados Unidos
Publicado em 24.11.10 Hegemonia político-cultural dos Estados Unidos foi o tema central da segunda mesa do 16º Curso Anual do NPC, realizada no dia 24/11 e mediada pelo coordenador do Núcleo, Vito Giannotti. O cientista político Marcelo Santos, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), fez uma análise panorâmica da hegemonia político cultural do país norte-americano na América Latina e destacou que ainda hoje, no século 21, as relações com os Estados Unidos são fundamentais para se pensar a América Latina. Segundo ele, grande parte da imprensa tenta transmitir a ideia de que a América Latina não tem nenhum valor estratégico para os EUA, mas que uma análise histórica das relações entre região e os Estados Unidos mostra justamente o contrário. “A presença norte-americana, nas suas mais diversas formas – política, cultural ou econômica -, marca a região”, afirmou. Marcelo lembrou que as políticas de ajustes estruturais na América Latina foram marcadas por um receituário neoliberal ortodoxo e sob grande interesse de Wallstreet. Mas, segundo ele, no início do século 21 a América Latina começa a responder, de algumas formas, às pressões dos Estados Unidos. O professor aponta o fracasso da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) como uma dessas respostas. Outra reação detectada por ele é o aparecimento de uma oposição à atual política de combate ao narcotráfico – uma política que pune, por exemplo, camponeses envolvidos na produção, mas não age sobre os grandes narcotraficantes. O rompimento de alguns países com o Consenso de Washington também foi citado como uma reação, “Essas e outras ações mostram uma certa resistência à perspectiva da hegemonia. Em alguns países já há um afastamento do neoliberalismo, mas o neoliberalismo é também um estilo de vida que ainda tem feito corações e mentes. O desmonte disso é um desafio”, avalia Marcelo. “Ainda que digam que os Estados Unidos não têm interesses na região, a América Latina deve estar muito atenta”, reiterou. Mídia No início de sua conferência, o escritor paquistanês Tariq Ali, crítico ferrenho da política externa dos Estados Unidos e conhecido mundialmente por seu ativismo social, fez um breve retrospecto sobre a mídia mundial durante o período da Guerra Fria e comparou aquele momento com o atual. Segundo Tariq, a mudança na mídia global tem a ver com o colapso da URSS e do comunismo. Ele lembrou que naquele momento, a mídia era mais diversa na maioria dos países ocidentais, mas que, com o colapso, não havia mais razões para se manter um fingimento de que era uma mídia aberta e crítica. “Esse processo começou na década de 1990 e o resultado foi uma mídia monocórdia que elogiava o Consenso de Washington e o mercado como se ele fosse um deus. Foi uma característica universal, que variou pouco de país para país” afirmou. “Muitos acharam que isso duraria para sempre, muitas empresas de mídia acreditavam que elas eram as responsáveis por manter as pessoas no poder e os governos também achavam isso. Mas esse cenário mudou drasticamente com as mudanças ocorridas na Venezuela, Bolívia, Equador e Paraguai”, pontuou o escritor. Segundo ele, cerca de 90% da mídia destes países se colocou contra os bolivarianos (Chávez, Morales, Correa e Lugo, respectivamente). “Essa grande mídia foi atropelada pelos movimentos sociais e pelo povo, que criou sua própria história, ignorando a rede de mídia desses países”, destacou. Tariq assinalou que hegemonia global organizada pelas redes de mídia envolve também as editoras, a distribuição de filmes, o cinema, o controle e o monopólio dos meios de comunicação de massa. Nesse contexto, ressaltou que algumas famílias são dominantes, únicas e oligárquicas, e afirmou que esse sistema atingiu seu apogeu na Itália, com Berlusconi. Veículos contra hegemônicos Ao mesmo tempo, citou o exemplo da TV Al Jazeera, que desafiou a supremacia da mídia ao prover imagens alternativas para o noticiário global. “Quando olhamos para BBC, CNN e outras, as imagens são as mesas. Como isso acontece se são diferentes redes de diferentes países? Acontece porque elas aceitam a liderança da BBC e da CNN, que é a liderança do ocidente”, explicou. Ele disse, ainda, que foi a partir da Al Jazeera que surgiu a ideia de se criar a Telesur, TV multiestatal criada com o apoio de Argentina, Bolívia, Cuba, Equador, Nicarágua e Venezuela. “Quando o golpe de Estado aconteceu em Honduras, a única rede de TV que tinha equipe lá fazendo imagens era a TeleSUR. Pela primeira vez, CNN e BBC tiveram que comprar estas imagens”, recordou. “A mídia alternativa permanece como uma maneira poderosa de combater a hegemonia”, frisou. Para avaliar o impacto político, hoje, da mídia global, Tariq Ali retomou o contexto da guerra do Iraque. “Durante três semanas antes da guerra tivemos informações na mídia sobre a existência de armas de destruição em massa no país para justificar a guerra. Isso foi usado para fazer as pessoas se acostumarem com a ideia da guerra. Ainda assim, milhões de pessoas em todo o mundo - que não acreditaram na mídia - foram às ruas para protestar contra a guerra, desafiando esta visão única”, recordou. Qual seria a alternativa? Como forma de agir frente a este contexto de hegemonia político-cultural dos Estados Unidos sobre o resto do mundo, Tariq Ali indicou: lutar e resistir. “Não podemos desistir e vamos prosseguir nossa luta. Após as conferências, Marcelo Santos e Tariq Ali responderam a dezenas de questões da plateia.
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