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Novo currículo, fim do jornal impresso e modernização das mídias é tema de debate na Puc-Rio
As primeiras duas horas de debate tiveram a presença da jornalista Adriana Barsote, da Infoglobo. A jornalista falou sobre “O futuro do papel e os caminhos para o jornalismo impresso nos meios digitais”. Adriana, que passou alguns meses visitando jornais europeus e estadunidenses, voltou com pesquisas e exemplos das mudanças que já estão ocorrendo nos jornais impressos destes locais. “Os impressos são os mais ameaçados hoje. Eles precisam reproduzir o seu conteúdo em todas as plataformas. O Le Monde, que circula na França, já está utilizando estas novas ferramentas”, disse. Outra observação feita pela jornalista é que o consumidor não é mais passivo. Os impressos precisam reconhecer e estudar novas formas de inserir e incentivar os leitores para não apenas ler, e sim participar da notícia, da produção das matérias. “O consumidor quer compartilhar. Os jornais atuam cada vez mais em comunidades, um deles é o Washington Post, dos Estados Unidos, que também atua com estas novas ferramentas, valorizando os seus leitores”, falou. Além disso, Adriana apontou outras questões para os impressos brasileiros começarem a observar e seguir. Segundo ela, o consumidor busca informação de credibilidade. “No ano passado, aqui no Brasil, a circulação caiu, tivemos uma queda nas vendas, a crise atingiu os populares e todos os outros jornais. Mas há perspectiva de crescimento. A mobilidade é uma aposta para todos os meios. Só no Brasil, os acessos móveis são mais altos que os acessos fixos. O consumidor do celular, de classe A e de classe B, acessa diariamente a internet. A solução é inovar e experimentar”, conclui a jornalista. Nova grade curricular de Comunicação Social O segundo momento do debate teve a presença da professora Carmem Pereira (Fenaj), Jerônimo Calorio (Enecos) e do professor e diretor do Departamento de Comunicação Social da Puc-Rio, Leonel Aguiar. Jerônimo, estudante de jornalismo de Brasília, questionou o novo currículo de comunicação que será adotado nas universidades de todo o país. Para ele, existem diversos temas na nova grade curricular que nada tem a ver com a realidade dos alunos, com o compromisso do jornalismo para a população, que é o de servir aos interesses do público. “As novas diretrizes começaram a ser elaboradas há dois anos, foi feita com um pequeno grupo, tiveram três audiências públicas para se discutir essas novas diretrizes. O currículo anterior era fechado e aplicado no Brasil inteiro. Concordamos que precisa ter uma nova revisão. O jornalista precisa reafirmar a sua identidade, e qual é a identidade do jornalista, e do publicitário? É preciso redefinir isso”, avaliou o estudante. Para Thiago Santos, mais conhecido no movimento estudantil como Tayago, também participante da Enecos e aluno da Puc, o novo currículo não se aproxima da realidade que o jornalismo deve ser. “Ele apresenta alguns avanços e alguns retrocessos. Publicamente, as únicas organizações a se posicionarem contra o novo currículo foi a Compós e a Enecos. A Enecos fez a campanha “Somos todos comunicação” e a Compós lançou uma carta manifestando a sua preocupação contra esse formato construído de cima para baixo”, questionou o formando Tayago. Além disso, ele afirma que na formulação do novo currículo, faltou a presença dos estudantes e de organizações da sociedade civil que já discutem a comunicação há anos no país. “Não tem como uma empresa que participou na elaboração do currículo, não fazê-lo sem a preocupação dos seus interesses com o mercado. Na reformulação do novo currículo tivemos a presença da Fundação Roberto Marinho, que defendeu a formação voltada para uma atuação profissional. Porém, o intuito da universidade, da faculdade não é esse. Não é formar mão de obra para o mercado de trabalho, mas formar pensadores, através da sua ação na sociedade”, concluiu Thiago. De acordo com o professor Leonel Aguiar, há aproximadamente 50, 60 anos se criou na América Latina a modernização da educação superior nas áreas periféricas. “A ideia era fazê-la de modo que essa modernização pudesse atender aos parâmetros de desenvolvimento e integração e que a comunicação servisse para isso. Uma modernização conservadora”, falou. Leonel Aguiar afirmou ainda que, no Brasil, existem dois tipos de jornalismo. “Temos a vertente econômica, que é o jornalismo empresarial, e temos a vertente do trabalhador, que é a dos movimentos sociais, e diante disso a disputa do que é notícia”, disse o professor. Mas, finalizando o encontro, o diretor Leonel, assume que no novo currículo existem falhas, mas que ele deve ser aceito, e que não é um currículo de interesse empresarial, assim como afirmam os estudantes. “A Enecos deve dar um crédito a esse documento, ele não é vinculado aos interesses empresariais. É um documento que nasce das discussões acadêmicas, com um viés crítico, combativo, um viés que faz uma crítica à pós-modernidade, a essa postura da indiferenciação. Este currículo quer contribuir para o avanço democrático da sociedade brasileira”, afirmou. Gizele Martins é estagiária de jornalismo do NPC
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