Mdia
Os novos cães de guarda
[Por Marcos Dantas*] Há poucos meses, a Sra. Judith Brito, diretora da Folha de S. Paulo e presidente da Associação Nacional de Jornais, declarou que, diante da debilidade da oposição, a imprensa via-se obrigada a fazer esse papel. Se o motivo é ou não a tal debilidade, tanto faz, o fato é que a chamada “mídia” assumiu-se mesmo, oficialmente, como oposição ao Governo do presidente Lula e à eleição de Dilma Rousseff para sucedê-lo. A cobertura diária dos principais jornais e revistas não pode, de modo algum, ser considerada isenta. Tudo é feito para gerar notícia negativa ao Governo, até mesmo inventar ou distorcer fatos. Títulos, chamadas de primeira página, parágrafos iniciais das matérias são elaborados para induzir o leitor a só enxergar mal feitos no governo ou à sua volta, não raro a narrativa desdizendo lá no meio do texto, o que procura sugerir em suas primeiras linhas.
No entanto, a denúncia de que a filha do candidato José Serra havia conseguido violar o sigilo fiscal de 60 milhões de pessoas, durante o governo FHC, mereceu o mais absoluto, total, completo, ensurdecedor silêncio...
O jornalismo atualmente praticado pelo O Globo, pela Folha de S. Paulo, por Veja e assemelhados permitiria a um professor de jornalismo dar um curso de ano inteiro sobre canalhice e cafajestagem. Não merece outros adjetivos o que se está a ler nesses e demais órgãos de imprensa. Pior, não se tem alternativa, salvo no twitter ou nos blogs. Não se deve deixar de observar que a “mídia” é uma realização coletiva dos profissionais que nela trabalham. O que se lê, vê ou ouve não é produto dos “patrões” ou de meia dúzia de colunistas muito bem pagos. É produto de toda uma categoria. Basta observar o comportamento dos e das repórteres para se perceber como estão engajados em demonstrar quão bons serviços podem prestar aos seus chefes. Não parecem nada enojados do que fazem. Ao contrário, fazem questão de cumprir direitinho, com denodo, vociferando se são contrariados, a “pauta” que lhes foi prescrita. Não se pode entender a “mídia” que temos, sem discutir também estes “novos cães de guarda” (título de um pequeno e muito apropriado livro de Serge Halimi). # Professor do Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
—
Voltar —
Topo
—
Imprimir
|