De acordo com Terezinha Santin, diretora do Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios (CSEM), uma das entidades organizadoras do evento, a ideia é abrir espaço para os migrantes apresentarem os pontos de vista deles. "Queremos ouvir dos migrantes o que eles têm a nos dizer", afirma.
Além disso, a diretora do Centro destaca que o seminário ainda tem a intenção de chamar atenção da sociedade e do governo para a "fragilidade que vive os migrantes" no Brasil e para fortalecer e partilhar saberes e ações a favor deles. Terezinha explica que o fluxo migratório intrarregional cresceu bastante na América Latina nas últimas décadas por uma série de fatores, como a formação do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e o avanço dos governos democráticos. Apesar de ser um fenômeno em toda a região latino-americana, nesse seminário, as discussões se centrarão nos bolivianos.
A entrada de bolivianos no Brasil não é uma situação nova. Pesquisas relevam que desde a década de 1950 bolivianos e bolivianas saíam de sua terra natal para estudar no Brasil. A partir dos anos 1980, a cifra aumentou consideravelmente.
"Desde os anos 50, estudantes bolivianos vinham para cá, mas o número de migrantes cresceu ainda mais na década de 80, com a crise econômica na América Latina", destaca Terezinha.
A diretora do CSEM chama atenção para a continuidade da saída de bolivianos do país mesmo com a política de reconhecimento de etnias promovidas por Evo Morales. "O presidente já reconheceu 36 etnias como parte integrante do país (...). Em um país que reconhece o povo boliviano... por que eles continuam buscando o Brasil? Será que é pelo fator econômico? Ou serão outras questões? E o Brasil, como acolhe essas pessoas?", questiona-se.
Essas são algumas das indagações que Terezinha pretende obter a resposta dos próprios bolivianos. "Queremos conversar com eles a respeito de suas vidas, de suas escolhas... Será que a migração boliviana é a única saída que resta? Queremos conversar com eles sobre isso", revela.
Bolivianos em São Paulo
Todos os anos, milhares de bolivianos e bolivianas deixam o país em busca de uma melhor oportunidade de vida. Muitos deles/as acreditam que a possibilidade de uma mudança social poderá ser encontrada em São Paulo (SP), no Brasil. Entretanto, em muitos casos, o sonho acaba por transformar-se em pesadelo.
Falta de documentação, preconceito e trabalho em condições insalubres são apenas algumas situações enfrentadas por muitos migrantes vindos da Bolívia para o Brasil. O artigo acadêmico do antropólogo Sidney Antonio da Silva, "Bolivianos em São Paulo: entre o sonho e a realidade", publicado em 2006, revela que a maioria dos bolivianos trabalham no setor de costura e sofrem com a falta de reconhecimento social.
"Esses [migrantes bolivianos] são associados com frequência ao trabalho escravo e ao tráfico de mão-de-obra para as oficinas de costura. Além dessa identificação negativa e que, às vezes, assume um caráter acusativo, eles têm que lidar com outros preconceitos decorrentes do desconhecimento de grande parte dos brasileiros de suas raízes étnicas e culturais. Para esses, eles são vistos como pessoas descendentes de ‘índios’, ‘pobres’ e de ‘pouca cultura’.", destacou.
O Seminário "Migração latino-americana no Brasil: o caso dos bolivianos em São Paulo" acontece amanhã (20) e sábado (21), no auditório da Universidade São Francisco (Rua Hannemann, 352 - São Paulo). Além do CSEM, organizam o evento: Província Nossa Senhora Aparecida/SP, Centro de Estudos Migratórios;/SP, e Universidade São Francisco Campus/SP.
Mais informações em: http://www.csem.org.br/?lang=pt-br
O artigo completo do antropólogo está disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142006000200012&script=sci_arttext#nt02