MÃdia
Como transformar propostas da 1ª Confecom em ações
Por Venício Lima / Observatório da Imprensa 17/06/10
Há algumas semanas comentei neste Observatório em
relação às centenas de propostas aprovadas na 1ª Conferência Nacional
de Comunicação (Confecom) que, historicamente, entre nós, tem sido
assim: na hora de transformar proposta em ação, os atores que de facto
são determinantes na formulação das políticas públicas do setor de
comunicações mostram o tamanho de sua força e os "não-atores" acabam,
como sempre, excluídos (ver "Confecom – O que foi feito de suas propostas?"). O
primeiro passo para impedir que essa tradição seja mais uma vez
confirmada foi dado em audiência pública realizada na Comissão de
Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara dos
Deputados na quinta-feira (10/6), atendendo a requerimento da deputada
Luiza Erundina (PSB-SP). Caderno oficial Seis
meses depois da realização da Confecom, finalmente temos um caderno
oficial, publicado pelo Ministério das Comunicações e editado pela
Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. As
propostas aprovadas – 633, 641 ou 665? – estão sendo organizadas em
torno de cinco eixos: marco regulatório; regulamentação do artigo 221
da Constituição federal; direitos autorais; marco civil da internet e
regulação da televisão pública (disponível aqui). Por
outro lado, relatório final de subcomissão criada na Câmara mostra que
cerca de 35% (222 propostas) das 641 (?) propostas aprovadas na
Confecom implicam alguma forma de ação legislativa no Congresso
Nacional. Desse percentual, dois terços (ou 148) já é alvo de alguma
ação (projeto de lei e/ou estudo legislativo), na Câmara ou no Senado.
Uma relação desses projetos e ações agrupados em torno de nove temas –
direitos humanos e de minorias; controle social da mídia; radiodifusão
pública; produção nacional; convergência digital; conteúdo de interesse
social; educação profissional; ética no jornalismo; proibição de
monopólios e oligopólios pode ser encontrada aqui. Ações concretas, só no futuro Na
audiência pública, o ministro Franklin Martins, da Secom, deixou claro
que, do ponto de vista do governo, não há possibilidade de
implementação de qualquer das propostas ainda em 2010 – e descartou, em
particular, o Conselho Nacional de Comunicação (CNC). A
proposta do CNC, como se sabe, foi aprovada por unanimidade e tem sido
considerada prioritária por todas as organizações e movimentos sociais
– os "não-atores" – que participaram do processo da conferência. Já
a deputada Luiza Erundina informou que está sendo criada na Câmara uma
Frente Parlamentar para dar encaminhamento e apoio às propostas. Quanto
às organizações e movimentos sociais da sociedade civil, está sendo
organizado, para julho, um seminário nacional que deverá, entre outras
ações, criar uma lista de prioridades das propostas aprovadas na
conferência. O que esperar? Não
são novidade para ninguém as imensas dificuldades de regulação das
comunicações em nosso país. Ao contrário de outros países da América
Latina, por aqui os poucos avanços, quando ocorrem, são pequenos e
lentos. Registro como positiva a realização da
audiência pública na Câmara dos Deputados, mas repito que sem pressão
da sociedade organizada que luta pelo reconhecimento do direito à
comunicação, nem o Executivo, nem o Legislativo respeitarão o resultado
da Confecom.
* Venício A. de Lima é professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Liberdade de Expressão vs. Liberdade de Imprensa – Direito à Comunicação e Democracia, Publisher, 2010.
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