Enquanto as seleções de futebol e torcedores de todas as
partes do mundo se preparam para acompanhar os jogos da Copa do Mundo de Futebol
na África do Sul, entidades que atuam em prol dos direitos humanos trabalham
para alertar pessoas sobre os perigos da atuação das redes de crime organizado,
que aproveitam de ocasiões como esta para captar mais vítimas.
Faltando apenas duas semanas para o início do evento na África, a
movimentação de pessoas já se intensifica, assim como o alerta. E o tráfico de
pessoas é o que mais tem preocupado organizações da sociedade civil que
acreditam que eventos esportivos mundiais pode ser uma ocasião propícia para a
atuação dos aliciadores.
O tráfico de seres humano se caracteriza, primeiramente, pela enganação, com
base em falsas promessas de trabalho. Em seguida, a pessoa traficada se vê
vítima de um esquema que a faz trabalhar até a exaustão para pagar "dívidas" de
transporte, alimentação e abrigo. Este crime é considerado a escravidão dos
tempos modernos, pois fere a dignidade do ser humano, tirando a liberdade do
indivíduo.
Desde o início do ano, a Rede de religiosas Um Grito pela Vida e a Rede
Internacional Thalita Khum, fazem campanha para alertar e prevenir torcedores e
população, sobre os perigos deste tipo de tráfico. A preocupação se justifica
justamente porque o crime atua de forma obscura e silenciosa, fazendo cada vez
mais vítimas.
Mas, uma especialista do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia
afirmou que não há motivo para preocupação. Segundo Chandre Gould, não existe
nenhum dado confiável que prove a existência ou aumento do tráfico de pessoas em
eventos esportivos.
Irmã Gabriella Bottani, integrante da Rede um Grito pela Vida, que atua na
prevenção e combate ao tráfico de pessoas, rebateu a declaração da especialista
e disse que "o que é certo é que dados concretos não existem, porque ninguém
tem". Mas, esclareceu que a partir de avaliações dos casos atendidos, é possível
identificar a ocorrência do tráfico e a forma como o crime atua. Além disso, é
importante lembrar que muitas vítimas não denunciam, já que recebem constantes
ameaças.
Na última Copa, realizada na Alemanha em 2006, ainda não existia uma
observação mais aprofundada sobre o tema. No entanto, pela primeira vez, será
promovida uma investigação nas cidades-sede da Copa, para avaliar se o evento
desencadeia um aumento da oferta e da demanda na área da prostituição, que em
alguns casos, pode ter vítimas do tráfico. A exploração sexual de mulheres e
crianças é uma das principais atividades do tráfico de seres humanos.
Para irmã Gabriella, mais importante do que saber os dados da ocorrência
deste delito ou se o crime vai aumentar ou não, é o trabalho de prevenção. "É
sempre positivo informar e alertar sobre um crime em um evento de grande impacto
como a Copa, para sensibilizar a população", afirmou.
A Copa na África do Sul será a primeira oportunidade para observar se existe
de fato um aumento de casos de tráfico humano em eventos esportivos mundiais. A
investigação deve ser feita por uma universidade de Joanesburgo, capital do país
sede da Copa 2010.