Cidades
Carta Aberta ao Comitê Olímpico Internacional
20 de maio de 2010
Diferente de muitos outros países que já
sediaram Jogos Olímpicos, o Brasil é marcado por profundas desigualdades sociais
e precariedade de serviços públicos como transporte, saúde, educação, saneamento
e coleta de lixo.
As recentes chuvas no Estado do Rio de
Janeiro mostraram como esses problemas se colocam no cotidiano da população, em
que muitos perderam suas casas e mais de 200 pessoas morreram por ausência de
serviços de encostas, drenagem e sobretudo de habitações populares dignas.
Infelizmente, a postura dos nossos governantes é de omissão e de colocar esse
problemas debaixo do tapete. Com as chuvas correram para culpar os pobres, pois
estão mais preocupados em preservar a imagem da cidade e suas próprias.
É nesse contexto que vamos receber os
Jogos Olímpicos de 2016. Contexto de promessas vazias dos governantes; de
desigualdade e criminalização dos pobres que não aparece nos vídeos, imagens da
candidatura e visitas guiadas para esconder o cotidiano da maioria da população!
Contexto que nos deve fazer refletir juntos sobre quais prioridades devem ser
atendidas no projeto olímpico para uma cidade como o Rio de
Janeiro.
Temos conhecimento e experiências
acumuladas para colocar essas questões. Sediamos os Jogos Pan-americanos de 2007
e não esquecemos que o legado urbano foi frustrado, de dívidas públicas e
repressão. Temos a esperança que as Olimpíadas de 2016 sejam
diferente e não mais um grave motivo de problemas e tragédias para o
povo.
Por isso cobramos dos membros do Comitê
Olímpico Internacional (COI) que nada decidam sem ouvir o conjunto da sociedade.
Também temos muito a falar. Governos e investidores já falaram. Agora é a hora
do COI ouvir as demandas dos trabalhadores e dos pobres, que até o momento estão
excluídos das decisões desse projeto. Neste sentido,
exigimos:
- o compromisso dos
organizadores de que todas as Vilas Olímpicas (mídia, atletas, árbitros etc)
sejam destinadas a habitação popular. Não podemos ter o mesmo modelo
da “Vila do PAN” de 2007 , construída para a classe alta e
hoje em grande parte desocupada e que não lida com déficit habitacional de
moradias populares
- que as competições
não desrespeitem as leis nacionais e internacionais de direito à moradia e que
não promovam remoções forçadas de comunidades como se está planejando para a
“Comunidade Vila Autódromo”, na Barra da Tijuca. Se os Jogos
Olímpicos são uma competição dos povos têm, ao contrário, a obrigação de
reverter seus investimentos para uma maior inclusão social dessa e todas
comunidades
-- que o possível
deslocamento de instalações olímpicas para a Zona Portuária da cidade esteja
integralmente compromissado, com a construção de moradias e a diminuição da
desigualdade sociais e não com a especulação imobiliária e a
expulsão da população
- que os investimentos em transportes se
traduzam em diminuição das tarifas, atualmente as maiores da América Latina e no
fim da precarização, superlotação e violência
vivenciadas diariamente nos trens, metros e ônibus da
cidade
- que todas as
instalações esportivas a serem reformadas e construídas tenham de antemão
estudos de viabilidade de público e decisões concretas sobre seu destino
posterior, a fim de evitar a construção de “elefantes brancos”, como o “Ninho do
Pássaro” de Pequim 2008; os estádios de Atenas 2004, que contribuíram para a
crise da dívida pública do país europeu e as instalações
abandonadas do PAN-2007
- que a Autoridade Pública Olímpica a ser
constituída contemple e dê poder de decisão as comunidades do
entorno das instalações esportivas, as organizações da sociedade
civil e os movimentos sociais urbanos da cidade do Rio de
Janeiro e não somente a empresários e o
governo
- que o orçamento das Olimpíadas seja
participativo e transparente a fim de evitar
superfaturamento, mal planejamento e
irregularidades cometidos com o dinheiro público, como os diversos
constatados nos Jogos Pan 2007 pelo Tribunal de Contas da União
Temos a expectativa que
esse princípios e demandas, assim como outros levantados de forma coletiva pela
sociedade do Rio de Janeiro no dialogo com o COI e os poderes públicos, façam
parte das diretrizes de realização das Olimpíadas 2016. Da mesma forma, que o
COI enquanto co-responsável pelo projeto e intervenções olímpicas na cidade zele
com o poder público , os orgãos de fiscalização do Estado,o Ministério Público e
a sociedade pelo absoluto respeito as leis municipais, estaduais, nacionais e
internacionais.
Assinam
Associação de Moradores do Arroio
Pavuna
Associação de Moradores e Pescadores
da Vila Autódromo
Associação de Moradores do Canal do
Anil
Associação de Moradores do Alto
Camorim
Associação de Moradores Rio
Bonito
Associação de Moradores Vista da
Pedra
Associação de Moradores Vila
Recreio
Central dos Movimentos Populares
(CMP)
Círculo Palmarino - RJ
Comitê Social do Pan
Conselho Regional de Economia do Rio
de Janeiro (CORECON-RJ)
ETTERN - Laboratório Estado Trabalho
Território e Natureza do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional
(IPPUR/UFRJ)
Fórum Popular Orçamento do Rio de
Janeiro (FPO-RJ)
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas (IBASE)
Instituto Políticas Alternativas para o ConeSul
(PACS)
INTERSINDICAL
Mandato Vereador Eliomar Coelho
PSOL/RJ
Justiça Global
SOS Parque do Flamengo
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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