Entrevistas
Jornalismo: questionamento no Brasil e no mundo
Raquel
Paiva, PDE pela Università degli Studi di Torino, Itália, atualmente é
Professora Associada da Escola de Comunicação da UFRJ, onde coordena o
Laboratório de Estudos em Comunicação Comunitária. Nesta entrevista,
ela falou, entre outros temas, sobre a importância vital dos cursos
de jornalismo no Brasil e lembrou que o campo da comunicação passa por
um importante momento de expansão na área de pesquisa.
Como a sra. vê o campo da comunicação, considerando as Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação ?
Acredito
que o campo da comunicação passa por uma significativa ampliação de
pesquisadores e centros de pesquisa. Também temos hoje um volume
significativo de investimento na área pelas agências de fomento,
abaixo, evidentemente das áreas tradicionais, mais ainda um volume
maior de verbas. Existe uma quantidade considerável de participações em
eventos da área; há certamente um número de títulos disponíveis
infinitamente maior que 30 anos atrás. Entretanto, eu não tenho certeza
se temos conseguido gerar conhecimento. Eu não tenho certeza se temos
minimamente interferido nas instâncias decisórias no que tange à
comunicação. Eu não tenho certeza se temos conseguido resolver as
questões que estavam colocadas para nós há 30 anos. Eu não tenho
certeza se temos sido inventivos. Tenho um palpite que não estamos
produzindo conhecimento e não resolvemos as questões de 30 anos e,
menos ainda, trouxemos questões novas em função do baixo índice
dialógico da área, pelo autismo com que nos comportamos com relação às
pesquisas realizadas no nosso coletivo. Cada um de nós surge sempre,
num espaço médio de três anos, com uma nova pesquisa, bastante
criativa, de ponta e que não faz sequer menção aos trabalhos dos
colegas que empreenderam algum estudo, para não dizer dos especialistas
na temática. Ficamos, por esta razão, é o meu palpite, andando em
círculos, numa preocupação apenas vernacular - já que a investigação
fica centrada na escolha de novos nomes, para evitar exatamente a
suposição de continuidade.
Como a questão da comunicação comunitária pode ser entendida, a partir desse novo contexto?
Identicamente igual a de todo o restante da área como falei acima.
Temos hoje um número considerável de pesquisadores trabalhando com a
temática diretamente e um número imensamente maior que optam por nomear
de maneira diferente o mesmo objeto, as mesmas estratégias, os mesmos
objetivos e propósitos. Hoje, é praticamente impossível que um
pesquisador da área não se preocupe com a questão que é gritante em
nosso país: a da exclusão social/racial/emocional/política etc. Mas o
imperativo de colocar uma nova roupagem é maior que a preocupação em
produzir um pensamento forte, inventivo, criativo e capaz de
intervenção no contexto atual. Enfim, vamos todos adiante, cada qual
com o seu mundinho.
De que modo a sra. analisa o ensino dos cursos de jornalismo no Brasil?
O
jornalismo chegou a um momento de profundo questionamento no país e no
mundo todo. Em função do aspecto que foi assumindo (espetacularizado,
distante dos seus propósitos ideais de informar para conscientizar)
também os cursos foram afetados. A campanha e a decisão pelo final do
diploma foi o próprio "chutar cachorro morto". Os cursos já passavam
por um momento de crise identitária. Agora, estamos todos numa
encruzilhada. Um momento de crise é produtivo porque se trata de um
momento decisório. Estamos diante de duas alternativas. Eles vão se
recuperar e vão ficar mais fortes, sólidos e criativos ou vão fenecer
definitivamente. Aposto na primeira opção. Torço por ela e trabalharei
por ela se for preciso. Acredito na importância vital do jornalismo
para a sociedade e acho que para tal especificidade da tarefa é
fundamental termos cursos fortes e proativos.
Quais as contribuições que o 19º Encontro, na PUC-Rio, pode trazer para a sua área de atuação?
Acho
que a contribuição maior é o fato de ser na cidade maravilhosa,
terrivelmente maravilhosa, imensamente expressiva de todos os problemas
do país. Além de geradora das mais expressivas produções midiáticas.
Acho que haver eventos de comunicação no Rio é necessário,
principalmente quando se pode dialogar com as instâncias produtivas. E
o fato de ser a PUC-Rio a sediar o evento é mesmo um motivo de júbilo.
Além de possuir instalações adequadas, tem um corpo de professores
competentes e ativos, inclusive no mercado de trabalho, e um curso de
pós-graduação jovem, apesar da graduação já ter alcançado a maturidade.
Por este conjunto de constelações, acredito que o evento será um
sucesso. Imperdível mesmo! Para a área especificamente, acredito que
como é um momento de reclivagem e também de certa madurez da entidade
as novas temáticas e os pesquisadores que se agruparam em torno delas
serão tocados por este ambiente paradoxal que é o Rio de Janeiro: tão
naturalmente belo e tão intensamente cruel. Oxalá as novas propostas de
GTs sejam resvaladas pelas emergências da nossa sociedade brasileira,
em sintonia com as realidades regionais e territoriais e super
ventiladas pelas pesquisas que estão rondando o planeta. E a PUC-Rio
tem o ambiente para esta semente germinar. Entrevista publica no site do 19° Encontro Anual Compós http://compos.com.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm
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Piratininga
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