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Cidades
Mais de 400 moradores de favelas se reúnem no Morro dos Prazeres para falar sobre remoções

                                                                                                                     Foto: Ratão Diniz


“A Defesa Civil
interditou a minha casa na semana passada, e agora eu quero saber o que vão resolver. Estou muito preocupada, até mesmo porque não entendo nada disso!”, dizia a dona de casa Edna Maria de Oliveira, de 50 anos, na reunião realizada no feriado de Tiradentes, dia 21 de abril, no Morro dos Prazeres. Mais de 400 pessoas assim como dona Edna estiveram presentes. E o que se percebia em cada fala e em cada rosto era a dúvida do que se tratava tudo aquilo. Muitos nem tinham ideia do que significavam as palavras "remoção" e "indenização", temas do encontro.

O pedreiro Raimundo Rodrigues, de 42 anos, morador da Rua Torre Branca, no Rio Comprido, também foi à reunião para compartilhar a experiência de ser mais um desabrigado e querer conhecer mais as leis, na tentativa de permanecer no seu local de moradia. “Assim como os moradores daqui receberam esse laudo para saírem de suas casas o mais rápido possível, eu também recebi no dia 6 de abril. Interditaram a minha casa e prometeram levar a gente para alguns prédios que vão construir no centro do Rio. Mas eu não quero ir para o centro. Próximo de onde eu moro tem outros locais para construírem as casas. Ainda disseram que enquanto não levarem a gente para lá, vão pagar um tal de aluguel social”, disse o pedreiro.

Maria Pereira, de 59 anos, costureira autônoma e também moradora do Rio Comprido, ressaltou que a remoção tanto do Morro dos Prazeres quanto de outras favelas ocorre por causa dos interesses imobiliários. “Eles estão querendo é fazer hotéis, eles querem preparar a cidade para a chegada da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Lá onde eu moro tem uma vista linda, minha querida. Eles não me enganam não!”, desabafou.


Tragédias no Rio servem de desculpa para remoções forçadas

A reunião, coordenada pela Associação de Moradores do Morro dos Prazeres, foi realizada pela necessidade de esclarecer os direitos de cada pessoa. “A gente precisa explicar a real situação para a própria favela. Tem pessoas que nem sabem o que é remoção. Além disso, temos que unir nossas forças com outras favelas. Somos a maioria”, afirmou Fabio Neves, de 32 anos. Fabio disse ainda que a Defensoria Pública garantiu que a casa que ele mora não está em situação de risco.  “A Defensoria trouxe engenheiros para visitarem as casas (no Morro dos Prazeres). Algumas delas estão com problemas sim, mas muitas não, como a minha por exemplo. E ela foi interditada”. contou indignado.

Segundo Carmem Givoni, coordenadora da Associação Equilíbrio Sustentável, localizada no Morro dos Prazeres, a posição do Prefeito Eduardo Paes (PMDB/RJ) não é aceitável. “O que o prefeito está fazendo é fora da lei. Ele quer colocar no chão o que essas pessoas ficaram anos construindo. Estas pessoas conseguiram o que elas têm hoje com muito esforço, já que nunca tiveram direitos algum. Essa idéia de remoção já é antiga", disse Carmen. Para ela, os governantes já queriam antes tomar essas medidas, desde que souberam que o Rio sediaria a Copa e as Olimpíadas. "Ele aproveitou essa tragédia para reforçar seu pensamento. O mais cruel é que antes que essas pessoas enterrassem seus mortos, ele já trouxe uma outra tempestade, a de expulsar essas famílias de seus lugares de habitação. E a mídia, apenas reforça isso", observou.

O Padre Luiz Antonio, da Pastoral das Favelas, concorda com Carmem. Para ele, o que se deve fazer é investir em habitação e não tirar essas pessoas de forma forçada de seus locais de moradia, onde elas juntas construíram suas histórias. “Moradia é um direito sagrado. Queremos casa sim, mas está na lei que essas pessoas precisam ser consultadas sobre isso. Elas precisam aprovar a remoção, é preciso ter acordos. Se essas pessoas não têm o direito de ficar nestes locais, é preciso perguntar por que elas têm que sair. E essa resposta deve ser baseada na lei. Nela está escrito sim que se as casas estiverem ameaçadas, as pessoas têm que ser colocadas em lugares mais próximos de onde moravam, e não jogar em um lugar onde ela não quer ir e talvez nunca pisou”, disse.

Ao final do encontro, fui procurar Dona Edna novamente. Lá estava ela com o marido e a irmã, com quem divide a casa. Perguntei o que ela achou da reunião. “O que entendi minha filha é que ninguém pode tirar a gente da nossa casa de uma hora para outra não. Só se ela estiver rachada ou caindo. Cada caso é um caso. Não podem mesmo! O que pretendo fazer agora é ir mais nessas reuniões para saber mais sobre tudo isso. Minha casa é pequena, mas foi o que eu construí né! O que eu acho é que eles têm que dar moradia para quem realmente precisa, e tem muita gente precisando. Se tiver que remover mesmo todo mundo, que eles deixem a gente próximo do nosso lugarzinho”. 


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 NPC - Núcleo Piratininga de Comunicação * Arte: Cris Fernandes * Automação: Micro P@ge