Trabalhadores
Brasileiros pedem ao Governo do Canadá que interceda pelos mineradores da Vale
Por Najla Passos
ANDES-SN
Os trabalhadores brasileiros da Vale pediram ao governo do Canadá, nesta quarta-feira, 17 de março, que interceda junto à multinacional para que atenda às reivindicações dos 3,5 mil trabalhadores canadenses da Vale Inco, em greve há oito meses. O pedido foi protocolado na Embaixada do Canadá, em Brasília (DF), após uma reunião entre representantes dos trabalhadores da Vale, do ANDES-SN, da Conlutas e os conselheiros econômicos da Embaixada, Martin Roy e Pamela Simpson.
Representando os sindicatos Metabase de Congonhas e Itabira (MG), Efraim Gomes de Moura relatou que os trabalhadores daquele país estão sofrendo com a truculência da multinacional de origem brasileira. A empresa se recusa a respeitar a cultura, a tradição e a própria legislação trabalhista do Canadá na relação com seus empregados. “A Vale desconsidera até mesmo o estado de bem-estar social que o Canadá oferece aos seus trabalhadores”, afirmou.
Histórico A vale adquiriu, em 2006, cerca de 75% das ações da Inco, tradicional mineradora canadense com atuação na província de Ontário. Desde então, começaram os conflitos entre a multinacional e seus empregados daquele país. Os problemas se agravaram no ano passado, em meio à crise econômica mundial, quando a Vale anunciou que pretendia cortar 900 postos de trabalho no mundo, sendo que quase a metade deles no Canadá.
Os trabalhadores discordam da nova política trabalhista anunciada pela empresa, que prevê terceirização de serviços, congelamento salarial por três anos, fim do “níquel-bônus” (um percentual pago aos trabalhadores referente à participação nos lucros da venda do metal), suspensão do seniority (uma espécie de fundo de pensão destinado a complementar o valor de aposentadoria dos trabalhadores da empresa), e a não garantia da estabilidade no emprego.
Em 13/7/2009, os mineiros de duas unidades da Vale-Inco, localizadas em Sudbury e Port Calborne, província de Ontário, deflagraram greve. Em agosto, a unidade da baía de Voisev juntou-se às demais. Outras unidades aderiram posteriormente.
No última dia 15/3, a Vale anunciou que irá contratar trabalhadores temporários para retomar a produção das unidades canadenses. Um dos líderes do sindicato United Steelworkers afirmou à reportagem do Financial Times que Sudburry se transformou em um barril de pólvora.
“Estamos de fato preocupados com o que pode acontecer, e a polícia também está. As pessoas ficarão incontroláveis. Elas não permitirão que trabalhadores temporários furem o piquete.”A Vale pode ir para o inferno. Estamos cansados de capitalistas estrangeiros que vêm aqui destruir o estilo de vida canadense”, disse o líder sindical.
Assembleia recusa acordo Efraim reitera que o clima de animosidade é grande naquele país. “O grau de insatisfação dos trabalhadores com a política trabalhista da empresa é tão evidente que, na última sexta-feira, em assembléia geral, 89% dos trabalhadores recusaram uma proposta de acordo que não contemplava garantia de emprego, manutenção do fundo de pensão e pagamento do níquel-bônus” .
De acordo com o sindicalista brasileiro, a segunda mineradora do mundo tem plenas condições de arcar com as reivindicações dos colegas canandenses. “Em 2009, mesmo com a crise econômica, a Vale manteve seu faturamento e pode distribuir dividendos da ordem de R$ 2,5 bilhões entre seus acionistas. Neste ano, já anunciou que terá um lucro histórico, que poderá ser até 100% maior do que no ano passado”, argumentou.
Questionamentos O conselheiro da embaixada canadense, Martin Roy, questionou se há divergências no tratamento que a multinacional impõe aos trabalhadores brasileiros e canadenses. A liderança brasileira afirmou que a empresa tem mantido a tradição de, nos acordos coletivos, repor a inflação acumulada e garantir algum aumento real. Também paga um valor de participação nos lucros. Entretanto, a política trabalhista é muito inferior à executada quando a companhia era uma empresa estatal.
“A Vale transformou nosso fundo de pensão em previdência complementar privada. Os passivos na Justiça são inúmeros, porque a empresa está sempre tentando burlar a legislação brasileira, embora conte com muitos incentivos fiscais do governo. No geral, as condições de trabalho pioraram muito. Por isso, pedimos a reestatização da companhia”, justificou.
Marcos jurídico Roy explicou que, no Canadá, a questão trabalhista não é de responsabilidade do governo federal e que qualquer interferência no conflito da Vale Inco com seus empregados poderia resultar na quebra do pacto federativo.
“Cada governo provincial tem sua própria legislação trabalhista. O papel do governo federal, portanto, é muito limitado neste caso, que está além do nosso marco jurídico. O próprio contrato da Vale Inco com a província de Ontário é confidencial e não temos acesso a ele”, esclareceu.
O conselheiro, entretanto, assegurou que repassaria ao governo canadense o documento protocolado pelos trabalhadores brasileiros, reforçando a importância de solucionar o conflito no menor tempo possível.
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