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Filmes
Carregadoras de Sonhos: Primeiro longa-metragem brasileiro de um sindicato é lançado em Sergipe

Por Gabriela Moncau
Caros Amigos

O Dia Internacional da Mulher (8 de março) esse ano em Aracajú-SE foi marcado pelo lançamento do filme Carregadoras de Sonhos, primeiro longa-metragem do país financiado por um sindicato. A produtora sergipana WG e o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica da Rede Oficial do Estado de Sergipe (SINTESE) realizaram o lançamento do filme no lotado Teatro Tobias Barreto. A escolha do dia não foi por coincidência: 90% dos filiados ao sindicato são mulheres.

Confluindo documentário com ficção, o filme retrata o cotidiano de quatro professoras do magistério, abordando as condições de trabalho dos profissionais da educação e uma análise do sistema educacional brasileiro, bem como as dificuldades enfrentadas por elas por sua condição de gênero.
A ideia surgiu em 2008, durante o Congresso bianual do SINTESE, no qual os 2 mil delegados presentes responderam um questionário especificando suas condições de trabalho. Inicialmente o projeto era de um curta-metragem que tratasse das professoras bóias-frias, que trabalhando longe de casa e em uma rotina apertada, almoçam rapidamente uma marmita fria entre as aulas. Os questionários, porém, evidenciaram que a alimentação é apenas um entre os diversos problemas que os trabalhadores da educação enfrentam cotidianamente, tais como violência, transporte, salário, recursos precários, entre outros. Desse modo, o projeto e o tema se expandiram.

O cineasta baiano Deivison Fiúza foi contatado para dirigir, roteirizar e produzir o longa, e selecionou – a partir dos questionários – as 4 professoras que atuaram no filme: Edielma, Maraisa, Marta e Rose.

“É um filme que quem discute e implementa política educacional precisa assistir. Porque discutir política educacional nos gabinetes é muito fácil”, expõe Roberto dos Santos, diretor de comunicação do SINTESE. “Queríamos procurar uma linguagem e uma comunicação que dialogasse com toda a sociedade brasileira. Porque se fizéssemos muito discursivo, ou com a bandeira e imagens do sindicato, ficaria panfletário, há muito preconceito quando algo é feito por um sindicato”, completa. Roberto ainda conta que o sindicato deu total liberdade ao diretor na elaboração do filme, sem nenhuma interferência editorial. “Nós da direção do SINTESE só fomos ver o filme pela primeira vez na semana passada. E ficamos satisfeitos”, afirma.

O jovem diretor, aos 30 anos, reafirma a necessidade que a esquerda tem de renovar a sua linguagem. “O filme foi roteirizado, dirigido e montado como se fosse um filme de ficção, é o que se chama hoje de ‘docu-drama’. Ele retrata a realidade: as professoras são reais, as histórias são reais, as locações são reais, mas o procedimento adotado foi de cinema de ficção. O objetivo foi dramatizar o máximo possível a vida e a rotina delas para que houvesse uma comunicação mais efetiva com a sociedade” explica Fiúza.

Apesar de ter sido filmado em Sergipe, as quatro rotinas retratadas ao longo da película refletem a situação da educação no âmbito global. “Jamais pensei na minha vida que eu participaria de algo assim”, revela a Profª Edielma, que reafirma, “Não enfrentamos tudo isso no nosso dia-a-dia pelo nosso salário, até porque ele é ínfimo. Fazemos isso tudo por acreditar e pra lutar por uma educação de qualidade no nosso país”. Sem ilusões quanto às transformações que o filme trará, para a Profª Marta, o papel que o filme cumpre é fazer com que pessoas vejam as condições de trabalho que elas – e muitos outros – enfrentam, “a ideia do filme é impactar”.

Para a Profª Rose, “tudo foi uma grande aventura. Expor aquilo que eu vivo dentro de uma realidade que é tão precária, eu achava que ninguém nunca ia chegar lá”. Criticando as políticas educacionais do governo, e a propaganda política que se faz em torno da educação, mas que não é efetuada na prática, as professoras acreditam que ao menos a denúncia está sendo feita. “Foi muito satisfatório mostrar às pessoas que isso existe, esse descaso, como eu vivo, pois eu acredito que é possível transformar a realidade”, aponta Rose.

Carregadoras de Sonhos será legendado em espanhol, francês e inglês, e inscrito em ao menos 60 festivais de longas-metragens, nacionais e internacionais.


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