Direitos Humanos
Em reunião com Prefeito do Rio, Vila Autódromo reafirma vontade de ficar
Moradores recusaram a
proposta apresentada pela Prefeitura, e propõem projeto alternativo que
concilie a permanência com os Jogos Olímpicos
Por Sheila Jacob
Como temos anunciado ultimamente, a comunidade da Vila
Autódromo, localizada na Barra da Tijuca, zona nobre do Rio, vem se mobilizando
desde o ano passado para garantir sua permanência. O fato é que o projeto para
as Olimpíadas de 2016 prevê a saída das famílias do local, onde está prevista a
construção do Centro de Mídia e do Centro Olímpico de Treinamento. Desde o
anúncio da retirada, feito pelo Prefeito do Rio Eduardo Paes (PMDB/RJ) em
entrevistas coletivas, os moradores têm manifestado a vontade de permanecer em
suas casas nas assembléias realizadas na comunidade organizadas pela Associação
de Moradores – das quais já participaram mais de mil pessoas.
Para conversar sobre o caso específico da Vila Autódromo, foi
realizada uma reunião nesta terça-feira, 2 de março, às 17h, na sede da Prefeitura
do Rio. Além do próprio prefeito e do Secretário Municipal de Habitação, Jorge
Bittar (PT/RJ), estiveram presentes lideranças e moradores da Vila Autódromo,
defensores públicos do Estado do Rio, e representantes da Federação das
Associações de Moradores do Estado do Rio (FAFERJ) e do Movimento Nacional de
Luta pela Moradia.
Na abertura da reunião, o prefeito garantiu não tomar
nenhuma medida sem dialogar antes com os moradores da comunidade, e disse ainda
ter a esperança de que as Olimpíadas signifiquem uma transformação social e melhorias
concretas para toda a cidade, como a urbanização de favelas. No caso da Vila
Autódromo, ele propôs uma indenização ou então o reassentamento das famílias,
ou seja, a mudança para localidades próximas de onde estão suas residências
atualmente.
O presidente da Associação de Moradores, Altair Guimarães, e
outros moradores da comunidade presentes recusaram a proposta do prefeito,
fazendo ecoar as vozes de outras pessoas que não querem deixar suas casas nem
sua história de vida. “Eu vim aqui com a esperança de que os Jogos aconteceriam
onde a comunidade está, hoje. Entendo o que o senhor oferece, mas sei que não é
isso que a comunidade quer”, disse Altair ao prefeito. Jane Nascimento, também
da Associação, disse considerar a proposta “um desrespeito”, e defendeu a
urbanização da comunidade, o que melhoraria muito a imagem da cidade frente à
opinião internacional.
Prefeito assume que
houve erro na construção do projeto
Como ressaltou o advogado Alexandre Mendes, do Núcleo de
Terras e Habitação da Defensoria do Estado do Rio, um grande problema é o fato
de o projeto ter sido elaborado sem consulta prévia aos moradores da comunidade.
Segundo ele, essa constatação permite que haja uma revisão do projeto por parte
do Comitê Olímpico Internacional (COI). O próprio prefeito assumiu haver um “erro
na origem”, e disse estar aberto a outras propostas.
Frente
a isso, a defensora pública Maria Lúcia Pontes
solicitou o projeto oficial aprovado pelo COI para ser analisado e
discutido. A
ideia é construir, juntamente com outros movimentos e entidades
parceiras, uma
contra-proposta, que “evidentemente será feita para que a comunidade
permaneça”, como destacou a advogada. Esse projeto alternativo será
apresentado na
próxima reunião com o Prefeito – com indicativo para ser realizada no
início de
abril. Ela disse que a luta da Defensoria e dos moradores é não repetir
o que
acontece nos outros países, quando “os pobres são excluídos da cidade”
para que
eventos de grande porte como esse aconteçam.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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