Por
Sheila Jacob
Nesta quarta-feira, 10 de fevereiro, cerca de 200 pessoas se reuniram em frente
à Prefeitura do Rio para manifestar sua posição contrária à remoção de 119 favelas.
A relação das comunidades foi divulgada em uma matéria do jornal O Globo no início do ano. Após o
anúncio, moradores e lideranças de comunidades formaram o Movimento Olimpíadas
Não Justifica Remoção, para garantir seu direito à moradia e condições
dignas de vida.
Vera
Lúcia Araújo, moradora da Vila Autódromo, foi uma das que estiveram presentes
para mostrar sua indignação com o anúncio da saída. “Eu moro naquela área há
mais de quarenta anos. Foi lá que eu fui construindo aos poucos a minha casa,
todo rendimento que eu tinha eu investia nela. Nunca ia imaginar que ia
acontecer uma catástrofe dessas, de quererem tirar a gente”.
Outro
manifestante
foi Antonio Alonso, do Alto Camorim – uma das comunidades
ameaçadas. A justificativa, neste caso, é ambiental, já que a
comunidade está
no entorno do Parque Estadual da Pedra Branca. Segundo ele, próximo à
comunidade, na mesma área, existem condomínios de mansões que ficarão
intactos, mostrando diferenças de atitudes de acordo com a classe
social. “Essas casas enormes
teriam que ser proibidas pelo mesmo motivo nosso, mas elas não estão
ameaçadas.
Nossa comunidade é muito antiga, e todos querem ficar”.
Segundo
Altair Guimarães, presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo
(AMVA), a realização dos Jogos Olímpicos é apenas um pretexto para retirar a
comunidade, que fica na Barra da Tijuca, região nobre na zona oeste do Rio, e
já foi ameaçada de sair outras vezes. “Sabemos que existe o problema da
especulação imobiliária naquela região de muitas posses, e que muitos consideram que a nossa
favela polui visualmente o bairro. Nós também somos humanos e queremos condições dignas de vida, ao invés de sair de lá”.
Presidente da AMVA, Altair Guimarães
Maria
de Lourdes, do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, resumiu as principais
reivindicações: “Os moradores aqui presentes não querem discutir remoção, mas
sim fazer valer seu direito à permanência. Já em casos de risco, após ser
apresentado o laudo técnico aos moradores, a comunidade deve ser reassentada
para área próxima, de convívio social daquelas famílias. Tudo isso deve ser feito
em diálogo com todo mundo, claro”.
Prefeito do Rio recebe lideranças de comunidades
O
prefeito Eduardo Paes (PMDB/RJ) recebeu na quarta-feira, por volta das 14h, uma comissão com 16
representantes de comunidades, dentre elas Vila Autódromo, Arroio Pavuna,
Camorim, Canal do Anil, Taboinhas de Vargem Grande, Horto, Pau da Fome, Pontal
Recreio dos Bandeirantes, além de Maria Lourdes, do Movimento Nacional de Luta
pela Moradia, e Rossino Diniz, presidente da Federação das Associações de
Moradores de Favelas do Rio (FAFERJ).
Após
ouvir os anseios dos presentes, ao final do encontro foi marcada uma reunião
para tratar da situação especial da Vila Autódromo, pois o motivo para o
reassentamento das famílias é a realização dos Jogos Olímpicos em
2016. Para aquela área está prevista a construção do Centro de Mídia e do Centro
Olímpico de Treinamento. Os moradores, entretanto, não querem
sair de suas casas, o que já vêm afirmando desde novembro do ano passado
em assembleias realizadas na comunidade. A reunião para tratar desse caso
específico será no dia 3 de
março, às 8h, na própria Prefeitura, e foi confirmada pelo
prefeito e pelo presidente da AMVA, Altair Guimarães.
No
início do ano, um grupo de moradores da Vila Autódromo, acompanhados da
Defensoria Pública, já haviam solicitado a permanência de suas casas, em uma
reunião com o Secretário de Habitação do Município, Jorge Bittar (PT/RJ). “Nós
já temos o título de posse. O que queremos é continuar onde estamos, mesmo com
as Olimpíadas ali. Vai ser muito melhor para a gestão do prefeito ‘ajeitar’ o
local em que moramos, oferecendo boas condições para a gente”, afirmou
Guimarães.
Em
relação às outras comunidades, o prefeito garantiu que nenhuma medida será
tomada sem diálogo e acordo prévio com os moradores. Os representantes na
reunião cobraram a regularização fundiária, além de melhorias. Paes disse estar em
seus planos um projeto de urbanização de todas as cerca de 500 favelas do Rio,
o que vem chamando de “Programa de Urbanização Acelerada”. Para isso, seria
necessário um investimento de cerca de R$ 5 bilhões. Falta conseguir o
apoio do Governo Federal e outros fundos de investimento.