Linguagem
Linguagem: dez anos de militância perdidos
Apresentação do Dicionário de Politiquês, de Vito Giannotti e Sérgio Domingues. Texto escrito por Gas-PA, do Coletivo Hip Hop LUTARMADA
Em 1992, nós, do Hip Hop, começávamos a nos organizar. E esse foco de organização juvenil de periferia e favelas despertou a atenção de alguns sindicatos, setores do movimento estudantil e alguns militantes da esquerda partidária. Foram vários convitespara várias atividades culturais e políticas.
Porém, mesmo que a vontade fosse a mesma – a superação da situação de opressão, e a destruição da burguesia – todas aquelas discussões soavam muito distante para nós, com quase nenhum acúmulo político. Então o laço, já frouxo, foi se soltando. A despreocupação da esquerda com o fato de não estarmos entendendo aquele processo e tudo que se debatia naqueles grupos, aos poucos foi nos expulsando até que em dois anos nenhum de nós mais resistia às barreiras impostas pela linguagem. Dez anos se passaram para que eu entendesse que se eu tinha muito que aprender com a militância de esquerda, também tinha uma coisa muito importante para ensiná-la: a linguagem é uma poderosa arma na disputa das consciências. E se o nosso inimigo tem maior poder de sedução com as massas, um dos motivos é que ele não se dirige a ela falando intelectualês, sindicalês, politiquês etc.
Numa atividade cujo público alvo eram estudantes de pré-vestibulares comunitários, mas aberta a todos, percebi que dez anos depois a esquerda insistia no erro. Tanto o debatedor quanto alguns militantes que se encontravam num auditório com cerca de 400 pré-vestibulandos, recorriam a palavras como "intrinsecamente", "empírico", "status-quo", entre outras mais estranhas ao vocabulário comum àquela gente pra qual o evento era destinado.
Então fiz uma intervenção cobrando do debatedor e desses intelectualóides uma linguagem adequada prum evento daqueles. Quando terminou o debate, fui chamado por uma mulher: "Ô, do Hip Hop. Você já ouviu falar no livro MURALHAS DA LINGUAGEM? Não? Me dá o teu contato que eu vou te dar um".
Ela me disse que a obra de Vito Giannotti propunha justamente essa mudança nas formas de debater política com a classe trabalhadora. Um dia, num ato público, essa mulher veio até mim com o tal livro. Li e fiquei feliz em perceber que tinha mais gente preocupada com a eficácia dos trabalhos de mobilização e que entende que a linguagem também é uma forma de exclusão.
[Gas-PA do Coletivo de Hip Hop LUTARMADA]
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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