Por Sheila Jacob
Nesta segunda-feira, dia 11 de janeiro,
cerca de 15 pessoas participaram de uma reunião convocada pela Secretaria
Municipal de Habitação do Rio de Janeiro, após a Prefeitura ter anunciado que
119 favelas serão removidas até 2012. Dentre os presentes estavam moradores e
lideranças de comunidades ameaçadas, como a Vila Autódromo, Alto Camorim e
Recreio II, além de representantes da Pastoral das Favelas e da Defensoria
Pública que têm acompanhado o caso. Na ocasião, o secretário de habitação, Jorge
Bittar (PT/RJ), prometeu aos presentes interceder junto ao prefeito para manter
as suas comunidades intactas, após ouvir a afirmação contundente de todos de que
querem permanecer em suas casas.
O motivo alegado para a remoção das
favelas seria por estarem em locais de risco de deslizamento ou inundação; em
áreas de proteção ambiental; ou então para serem destinadas a investimentos
públicos. Bittar esclareceu que a Vila Autódromo, localizada na Barra da Tijuca,
será removida por causa dos Jogos Olímpicos de 2016. A área seria destinada à
construção do Centro Olímpico de Treinamento, além do Centro de Mídia. Ao início
da reunião, o secretário prometeu que iria batalhar para garantir “justiça
social” no processo, procurando discutir com os moradores, reassentar as
famílias em áreas próximas de onde vivem, garantir indenização justa e também
moradias dignas. “Queremos um processo bem diferente do Pan Americano, que não
trouxe benefício social para ninguém”, afirmou Bittar.
Apesar de todas essas garantias, os
presentes reafirmaram a vontade de permanecer onde estão. Essa opinião já vem
sendo ressaltada em assembleias organizadas na Vila Autódromo, das quais já
participaram mais de mil pessoas. O presidente da Associação de Moradores da
comunidade, Altair Guimarães, reafirmou que estava na reunião para cobrar do
prefeito a melhoria das condições, como saneamento e urbanização, ao invés da
destruição de casas e da expulsão dos moradores. “Não acredito que, por causa de
um evento esportivo que irá durar 17 dias, milhares de famílias serão removidas.
A gente sabe que depois as instalações serão destruídas ou abandonas, isso é
tudo para estrangeiro ver. Vocês não percebem que somos seres humanos, e lá
construímos nossa história, nossa vida?”, questionou indignado. A liderança
comunitária Jane Nascimento concorda com Guimarães: “Queremos que o prefeito
Eduardo Paes pegue, por exemplo, parte da verba da construção prevista de novas
casas para investir em melhorias na nossa comunidade, para garantir a nossa
dignidade”.
O advogado Alexandre Mendes, do Núcleo de
Terras e Habitação da Defensoria Pública do Rio, disse que a Vila Autódromo é um
dos principais exemplos de resistência e de regularização fundiária. “Acredito
que o próximo passo seria a urbanização e a garantia de melhores de condições
para a população”. Como a justificativa para a remoção dessas famílias é apenas
a realização das Olimpíadas, e não casos de risco ou por estarem em áreas de
proteção ambiental, Mendes defendeu que o reassentamento deve ocorrer em último
caso.
Ao final da reunião, o secretário
prometeu pedir aos responsáveis pelo planejamento compatibilizar a permanência
da comunidade com a realização dos Jogos Olímpicos. “Vou levar ao Prefeito a
posição de que vocês não querem sair de onde estão, e procurar então um caminho
intermediário”, prometeu Bittar.